PORTA DO JARDIM DE INFÂNCIA - II

PORTA DO JARDIM DE INFANCIA - II

Das muitas vezes que fui ao “Jardim de Infância” buscar minha filha, à saída, mais precisamente, às 11:30 horas, uma prendeu-me a atenção, sem que pudesse deixar passar em branco o que requeria minha imaginação naquele dia e hora.

É que, em lá chegando, a professora (”tia”) do “Caio Martins” foi logo anunciando que seu avô, que estava ali (na porta do jardim) à espera do neto, que o Caio tinha exclamado diante de seus coleguinhas de sala: “Oba, vamos jogar chutebol!”

Do ponto de vista gramatical a palavra não está correta, já que não a possuímos em nosso vernáculo. Mas, ao verificarmos seu espírito “jocoso”, perceberemos não somente a graça de uma inocente criança, como também, uma boa colocação das raízes da língua portuguesa. Vejamos: a palavra futebol é um empréstimo inglês FOOTBALL, que se pronuncia FOOT (“fúti”) e BALL (“bol”), daí, FOOT, no inglês que, traduzido para o português obtemos “pé” e, BAAL no inglês, equivale a “bola”, em nossa língua portuguesa. Com algumas modificações, inclusive na pronúncia, ao final, temos FUTEBOL, o que não se constitui em novidades para muitos de nossos leitores!

Mas, onde queremos chegar, por associação de idéias, é que está por surgir uma nova “Reforma Ortográfica” em nosso país, podemos até pensar e adiantar a imaginação que modificações de tal monta poderá acontecer. Quem sabe os empréstimos de palavras que possuímos em nossa língua, poderão ser transformados ou até melhorados, para melhor facilitar aqueles que, por ociosidade ou por falta de interesse não têm a mínima intenção de escrever ou falar corretamente? Quem sabe os constituintes ou melhor, em consequência da constituinte (porque talvez não caiba a ela o assunto) a lei ortográfica de nosso país traga mais tranquilidade na pronúncia e grafia de nossa tão considerada difícil língua? Aguardemos os resultados constitucionais e saberemos!

Os gramáticos, os filólogos, escritores e outros (incluindo os portugueses que não estão se contentando com a idéia) jã estão se pronunciando a respeito. As reportagens televisivas e radiofonizadas sobre o tema estão se aflorando! Há os “prós” e os “contra”, quem vencerá? Espero que nesta polêmica não fiquem perdidos os sentidos das palavras e as belezas de construções que possuímos em nossa língua, já que haverá mutilações nos acentos que serão “jogados n´água” pelas cogitações de alguns favoráveis!

Retornando ao “Caio”, verificamos que as palavras de uma criança nem sempre podem ser mal interpretadas ou levadas para os “ouvidos moucos”, porque, nelas, podem surgir idéias originais e inéditas, ainda que provoquem hilaridade no momento! Por trás de suas expressões inocentes, podem esconder-se as mais sublimes idéias que não ocorreram na mente mais fértil de um erudito adulto !

Fernandinho do forum

(Este artigo foi publicado no jornal “O MUNIZ FREIRE”, em dezembro de 1987, havendo este articulista usado o apelido de família “Didi”)