PRESIDIÁRIOS: MARGINAIS ENDEUSADOS (Luc Ramos)

Quando comecei a fazer as pesquisas para o meu livro “Carandiru, inferno ou paraíso?” Passei aos sábados e domingos que são dias de visita aos presidiários, a observar as visitas dos detentos, que tipo de pessoas os visitavam, se pai vinha ver o filho ou apenas as mães cumpriam essa rotina. De modo geral pude observar vários fatos e constatei que 80% dos visitantes eram mulheres.

Também foi detectado que desse montante feminino das mulheres 60% eram jovens e bonitas.

Sem falar das ocorrências esporádicas de meninas que falsificavam documentos de identidade para ocultarem a menoridade e poder adentrar ao presídio e visitar detentos inclusive para a visita intima, onde rola sexo à vontade.

Tive oportunidade de conversar com Agentes Penitenciários que me contaram o caso de um agente que fora chamado para atender um preso que estava passando mal no Pavilhão 5 da Detenção pois o mesmo era aidético e estava com uma crise dessa doença fatal.

Parece-me que o preso em pauta tomava coquetel anti-aids que o governo fornece gratuitamente e essa droga no momento estavam em falta.

Na verdade quando estão na rua, roubando, usando drogas, ou sei lá o que fazendo, o marginal não se cuida e quando vem preso ele é examinado, levado a especialista e depois recebe medicamentos gratuitamente pago por nós cidadões que trabalhamos e movimentamos o País com o imposto caríssimo que pagamos.

Quem está nas ruas livre e sem se marginalizar que por um motivo ou outro contrai essa doença não pode se tratar, pois o preço desse remédio é bastante “indigesto” para quem ganha salário mínimo, e normalmente nos hospitais e pronto socorro esta droga não esta disponível para o publico de um modo geral.

Eu tive oportunidade de ver o medicamento, ele é um comprimido bem maior que os normais, de cor alaranjada. Se não me engano a dose normal é composta de três desses comprimidos por vez.

Também me causou um certo aborrecimento saber que os Agentes eram maltratados por ocasião das rebeliões pelos próprios presos que eles tratavam, trazendo a comida (café, almoço e jantar) atendendo seus familiares, levando-os para serem medicados, trocando de xadrez os jurados de morte para protegê-los e outras tantas quantas ocorrências no decorrer de uma pena o detento é cuidado pelo Agente Penitenciário.

Sem falar que quem leva o preso para ser ouvido, julgado, libertado é o Agente Penitenciário.

Voltando as visitas, nos dias escolhidos para esse evento a cadeia se torna um burburinho só, você ouve hino católico, gospel, musica de ponto de macumba, e etc.

A Pastoral evangélica, os espíritas de Alan Kardec, os católicos e toda uma leva de mensageiros levando a palavra para os detentos.

E com sabemos, quando esses marginais estão na rua eles pouca bola dão aos seus familiares, a igreja e a sociedade de um modo geral.

Na verdade alguns apenas querem sossego e paz para poder fazer amor com as sua mulheres ou namoradas.

Em uma dessas minhas pesquisas conversei com um Agente daqueles antigos que me disse:- Rapaz é revoltante como algumas dessas mulheres no olham feio e fazem má idéia das nossas atitudes por causa das mentiras que os presos contam pra elas.

- Que tipo de mentiras?

- Os presos pedem para os parentes comprarem tênis dos mais caros e depois trocam por drogas ou então pagam dividas com os calçados.

As visitas, ou melhor, os parentes quando perguntam pelos tênis os presos com a maior cara de pau dizem que nós os Agentes tomamos deles para o nosso uso. :- Veja só que baita calunia.

-E mesmo... Eu falei. – Sendo assim os parentes sem saber a verdade somente podem odiar os Agentes, não é verdade? - Lógico. Disse-me ele.

Depois fiquei sabendo que às vezes algum preso que chega do Distrito Policial não tem um remédio para tomar e os Agentes providenciam, tem Agente que é asmático e empresta a sua própria bomba de nebulização para o detento se acalmar da crise. Coisas desse tipo.

De um outro antigão, um Guarda de Presídio que não gostava de ser chamado de Agente Penitenciário ouvi a seguinte historia...

-Outro dia depois que terminar o meu turno, na companhia de um outro colega eu estava saindo aqui da Casa de Detenção e como estava com a janela do carro aberta pude ouvir o seguinte dialogo entre algumas mulheres que estavam visitando os presos.

-Olha, Vanda, ai vai indo um daqueles demônios que judiam dos coitados dos presos...

-Aquilo me doeu muito. Por isso eu pergunto: - Não seria bom se todas essas pessoas que nos julgam mal, soubessem na verdade o que fazemos durante um plantão no presídio?- Que na verdade, nós os Agentes somos babás de detentos? Que depois que o cara vai preso ele passa a ser vitima e a vitima que foi pro inferno ou ficou no prejuízo? -Faz o que? –Reclama pra quem? – Os ladrões ficam numa boa, ficam muito poucos tempos presos, tem assistência jurídica, médica, comida na hora certa. – E o operário, o trabalhador, tem tudo isso? – Não né? – Então senhor, tem algo errado nisso tudo, tem ou não tem?

Fiquei quieto, concordei com um acento de cabeça e resolvi escrever esse texto.

Por isso eu pergunto:- Esses marginais são ou não são endeusados?

By Luc Ramos.