VAMOS DEFENDER A VIDA

(*) Por Antônio Coquito

E a vida? E a vida o que é diga lá, meu irmão? O cantor Gonzaguinha, ao escrever e cantar esta música, nos convida ao exercício reflexivo de avaliar e ver a vida, com seus dilemas e desafios, em meio a uma visão positiva e otimista do que ela é ou deveria ser. A visão cristã e sensível do universo, e com ele, a de toda a criação e as diversas manifestações de vida, reforçam este chamado desafiador nos dias de hoje.

A vida, em suas diversas faces, está a nos pedir socorro, a nos fazer compreender a urgência de novas atitudes, novo jeito de ser na condução dos rumos do planeta. Entendo que vivemos o dilema da fragilidade da vida em meio às esperanças. Deus confiou ao homem e à mulher os destinos do mundo. Ele nos dá um voto de confiança, ao nos entregar tudo o que nele está e, se assim posso dizer, do que ainda está por vir, como fruto do (s) talento (s) que impulsionam nossa intervenção e transformação no que diante de nós se manifesta. Deus tem nos convocado, a todo instante, na entrega deste patrimônio coletivo - o universo, e para o bem de todos e todas. Uma convocatória que nos faz compreender a terra, e tudo o que nela existe, como bens comuns de toda a humanidade.

Constatação social

A gestão desta confiança tem mostrado que há um caos administrativo. A vida, com seu lado tênue e frágil, vem assumindo proporções grandiosas, e que a conduzem à condição de banalização e conformismo. Registramos como prática o convívio com a fome, a exclusão social, a agressão ao ecossistema, a intolerância em meio aos diversos sinais de violência; enfim, ao estado de crise planetária.

O registro desta radiografia social mostra que estamos na contramão da DEFESA DA VIDA. Alimentamos em nossa história um comportamento de caráter individualista e pouco solidário, que se configura na concentração de renda geradora de todas as violências.

O Brasil continua sendo um dos países com mais desigualdades no mundo – 1% mais rico tem renda igual à dos 50% mais pobres. O acúmulo de uns leva a falta para outros. Faltando renda; falta dignidade, falta vida. Só para termos uma idéia, nossa vida em sociedade tem resultado em trinta e dois milhões de brasileiros em situações de indigência. Estes dados são do Mapa da Fome do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA. Indo além, a agressão à vida, advinda destes dados aponta, que são nove milhões de famílias, cuja renda mensal lhes garante, na melhor das hipóteses, apenas a aquisição de uma cesta básica de alimentos capaz de satisfazer suas necessidades.

A renda, numa lógica de mercado, significa sobrevivência. Portanto, quem não tem renda, seja no campo ou na cidade, compromete ou não tem garantida sua sobrivivência. É uma “lei” predominante, porém cruel, levando em conta a realidade de exclusão construída. Fica de certa forma, a mercê do acaso das condições de existência. E, se aprofundarmos mais neste contexto, nesta análise conjuntural, esbarramos na fome urbana e rural que se espraia por todo o Território Nacional. Números estes, que são definidos pelos indicadores como pessoas vulneráveis à fome e à desnutrição. Para ilustrar, pesquisa realizada pelo Instituto da Cidadania calcula que, no Brasil, 46 milhões de pessoas viveriam nessa condição. São pessoas que ganham menos de US$ 1 por dia, ou seja, cerca de R$ 60,00 (sessenta reais) mensais.

A fragilidade da vida, dentro dos aspectos fundamentais que compõe a extensão de sua dignidade, cria situações em cadeias que vão se revelar no tecido social mais amplo. Um outro dado é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas- IBGE, que aponta que 83% das pessoas não têm casas ou que moram em condições precárias. Assim, por mais que nossas cidades estejam bonitas, reflexos do chamado “higienismo social”, é claro e notório um “rasgo” neste tecido. E ele se reflete na vida da rua, a população com trajetória de rua. A quem tudo ou quase tudo é negado, sobra a rua como denúncia de que estamos na contramão da vida. Está em fase de finalização, pelo governo federal, a pesquisa que mostra o número da população que está vivendo na rua. Nas ruas de Belo Horizonte, conforme dados da Pastoral de Rua, vivem hoje cerca de 1.200 (hum mil e duzentas) pessoas. Não tendo dados e tendo, as ruas como simbólico dos encontros e celebrações, está a denunciar negação da vida.

Somando-se aos já citados, estamos convivendo com diversas agressões ao nosso ecossistema. Lixo que jogamos na rua, desperdício de água, falta de saneamento básico etc. Um ambiente descuidado reflete no caos social, político e econômico que pautam as preocupações de nossa agenda cotidiana. Vejamos o chamado aquecimento global. Nosso meio ambiente tem sinalizado condições limites. E, o mais grave, tem devolvido para o ser humano as adversidades sofridas. Isto refletido nos dados do Fórum Mundial de Águas que confirma que cerca de 60 % das doenças hospitalares no Brasil vêm de águas poluídas. Concluímos que o saldo do mau trato ambiental é pago nas contas da saúde pelas epidemias e, conseqüentemente, da piora na qualidade devida.

Prática da co-responsabilidade

A realidade aqui apresentada consolida uma desconsideração histórica de governos, e da nossa sociedade, no estímulo à vida no campo. As cidades, e as metropolitanas muito mais, são hoje, muitas vezes, o grito de falência, carência e urgência de políticas públicas promotoras da inclusão social. A vida comunitária em sentido amplo tem se tornado um pedido de socorro para que a vida se faça digna e justa. As políticas e ações de inclusão social, ao lado da má distribuição de renda têm um longo caminho “de volta” a percorrer! Construímos com os recursos chamados públicos uma sociedade do privilégio, exclusivista; muitas vezes, negador da VIDA.

Tudo que nega a vida deve nos incomodar. É um chamado de atenção para a mudança de rumos. Precisamos admitir que as circunstâncias são reais, porém, desafiadoras. Um vez diante de nós, não nos entregarmos a ela; ou melhor, que ela nos desafie a construir o novo.

Assumamos uma atitude de acreditarmos e defendermos a vida, desde o ventre materno da mãe mulher, como da mãe terra, possibilitando todos explodirem em toda a extensão de vida plena. Somos convidados a abraçarmos de forma de forma apaixonada a bandeira da vida, de fazê-la tremular no resgate que dito por Gonzaguinha, de que ela, a vida “é um Divino mistério profundo, é o sopro do Criador numa atitude repleta de amor”.

Vamos juntos defender a vida! A Campanha da Fraternidade 2008 nos convoca a esta empreitada! É um reconstruir o caminho, um fazer com que a vida seja realmente viva. E nela, há vagas e trabalho para todos nós.

(*) Antônio Coquito é jornalista profissional, especialista em marketing e comunicação - Ênfase Social - Terceiro Setor–Responsabilidade Social – Políticas Públicas.

Antônio Coquito
Enviado por Antônio Coquito em 09/09/2012
Código do texto: T3873742
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.