Dos limites na contemporaneidade: desafios aos pais e aos educadores.
Dos limites na contemporaneidade: desafios aos pais e aos educadores.
Recentemente, Maria Alice Pinto publicou neste nosso site www.psicopedagogia.com.br um artigo sobre a questão da internet no cotidiano de crianças e adolescentes, que suscita um interessante debate sobre a questão dos limites do uso de tal tecnologia de comunicação e informação.
Vivemos um tempo complexo, repleto de transformações e de imensos desafios, pois a quantidade de informações e os estímulos ao consumo apresentam-se em excesso e de modo demasiadamente rápido.
A formação de crianças e adolescentes, neste novo cenário, se configura como desafiadora e de fato, necessitamos rever nossos modos de educar e de lidar com valores, com diferentes visões de mundo, com modos diferentes de ser e de estar neste mundo (1).
Educar é sempre uma escolha ideológica, pois educamos a partir de um conjunto de crenças que faz parte de nossas constituições como sujeitos. Os valores, as normas e condutas a serem apropriadas por cada um de nós, são escolhas de cada adulto e de cada instituição da qual fazemos parte desde o início de nossa vida, desde nossa infância. Objetivados a nos educar, pais, professores e instituições, quer queiramos ou não, moldam nossas personalidades e influenciam na nossa formação de maneira contundente, gerando os processos de construção de nossas subjetividades. (2)
A cada nova época histórica, constituída pela vida social e pelas amplas mudanças que se sucedem no tempo, novas configurações de atos, gestos, valores, saberes, práticas e movimentos surgem, fazendo com que a sociedade como um todo, e o sujeito em particular criem e construam novos instrumentos, que atendam as demandas oriundas de tal dinâmica.
Por serem educadores em primeira instância, cabe aos pais construírem bases sólidas de ações, atitudes e comportamentos que favoreçam o desenvolvimento do sujeito de modo que ele possa dar continuidade a sua vida social nos outros espaços que deve atuar, para além do espaço inicial proposto pela família. Os diferentes estágios concebidos por Piaget nos mostram que a cada nova etapa, novos desafios surgem à construção desse sujeito que desejamos que seja um ser humano com um ego organizado, socializado, moralizado e onde o bem que é almejado é um bem que seja, antes de qualquer coisa, um bem para o grupo (BORGES e SILVA, 2003).(3)
Pais e educadores, parceiros no processo de educar crianças e jovens, precisam estar sintonizados e objetivados para o como se deseja formar os sujeitos deste nosso novo tempo, construindo estratégias vinculares de formação, onde o diálogo seja premissa essencial, o que não justifica a ausência de limites. Ferramentas para fazer valer tais limites sempre existiram e se vivemos um novo tempo, com os novos desafios, porque não ousar e usar novas ferramentas?
O que acredito ser válido é o uso do bom senso, pautado numa postura ética onde a dignidade humana não seja ferida e onde os direitos de todos sejam respeitados. Há, com certeza, a presença das questões éticas, que nunca deixarão de existir em nossa humanidade, pois vivemos com os outros. A escolha de pais e educadores sobre que ferramentas e estratégias serão utilizadas para a constituição desse sujeito deve estar presente num projeto de vida, onde a visão de mundo seja explicitada e delineada. E é aqui que reside o maior desafio: como compreender a postura alheia e o pensar diferente do meu? Como entender a lógica do outro, que é diferente da minha? Estou julgando a partir dos meus valores ou me esforçando para compreender os valores alheios a minha própria percepção de mundo e de vida? Não são essas indagações essenciais?
Fazer uso de novas tecnologias para a construção de valores humanísticos num território livre como o da internet é uma questão que envolve uma múltipla dimensão: a humana, que envolve a Filosofia, a Reflexão e a Ética. Façamos nossas escolhas.
Notas:
1- BEAUCLAIR, João. O que aprende quem ensina? Navegando em redes, revendo trajetórias, construindo outros roteiros. Trabalho apresentado no Congresso Internacional Cotidiano Diálogos sobre Diálogos, promovido pelo GRUPALFA-UFF, na Faculdade de Educação da UFF - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.
2- BEAUCLAIR, João. Oficinas Psicopedagógicas e Subjetividade: movimentos de vida situados no ser e no saber. Publicado no site http://www.psicopedagogia.com.br em fevereiro de 2006.
3- SILVA, Sérgio P. e BORGES, Andréa Afonso. Liberdade e limite na educação infantil: contribuições filosóficas e psicopedagógicas. Revista Psicopedagogia da ABPp, número 61, ano 2003, p. 38-46
Bibliografia:
BEAUCLAIR, João. Ensinagens e aprendências no espaço-tempo da escola contemporânea. Revista ABCEducatio, ano 6, número 5º, outubro de 2005. Editora Criarp, São Paulo.
BORGES, Aglael (org.). Te-sendo fios de conhecimento: o paradigma, a construção do ser e do saber, Editora Uapê, Rio de Janeiro, 2005.
BORGES, A L. O Movimento Cognitivo- Afetivo – Social na Construção do Ser e do Saber: In SARGO, Claudete e outros (org.). A Práxis Psicopedagógica Brasileira, São Paulo: ABPp, 1994.
PINTO, Maria Alice (org). Psicopedagogia, diversas faces, múltiplos olhares. Editora Olho d’Água, São Paulo, 2003.
SOARES, Dulce C. Os Vínculos como Passaporte da Aprendizagem: Um Encontro D’EUS. Editora Caravansarai, Rio de Janeiro, 2003.
SOARES, Dulce C Indicadores para a construção de uma atuação psicopedagógica. IN.: PINTO, Maria Alice (org). Psicopedagogia, diversas faces, múltiplos olhares. Editora Olho d’Água, São Paulo, 2003.
SOARES, Dulce Consuelo R. O ser e o saber . Entrevista publicada em03/11/2005 no site http://www.segmento-ba.com.br acesso em 24 de janeiro de 2006.