Lenda de Sepé Tiaraju (O Mito)

INTRODUÇÃO

A história da civilização demonstra, que os impérios e suas respectivas dominações tiveram seus ciclos de existência. A cada época da civilização o Império foi exercido por determinados povos.

Da mesma maneira o poder foi mudando de mãos. De forma simplista, poderíamos dizer que na Idade Média o poder se concentrava na Igreja, simbolizado pelo Papa e que uma das muitas facetas de transição entre a Idade Média e a Moderna, foi a divisão do poder da Igreja com os monarcas.

Entretanto, a história, também demonstra que o domínio exercido por esses impérios, sempre foi realizado pela força.

Sepé Tiaraju é muito mais um mito histórico, real, do que lenda. Surgiu numa reação a uma dessas demonstrações de força, para o exercício do domínio.

CENÁRIO

Na segunda metade do século XV, Portugal e Espanha iniciavam seus impérios graças a expansão marítima.

Entretanto, conforme iam descobrindo novas terras tinham que garanti-las, o que, inicialmente, era feito recorrendo-se ao Poder da Igreja, que o exercia, por meio de Bulas expedidas pelos Papas.

Conforme o poder da Igreja foi sendo dividido com o poder Monárquico, essas relações passaram a ser feitas, no caso, entre os reis de Portugal e Espanha, por meio de tratados.

Como consequência da contestação portuguesa às pretensões da Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristóvão Colombo, que ano e meio antes chegara ao chamado Novo Mundo, os reis de Portugal e de Espanha firmaram o Tratado de Tordesilhas, em 07 de junho de 1494.

Em princípio o Tratado de Tordesilhas resolvia os conflitos relacionados pela exploração das novas terras descobertas pela Espanha e garantia a Portugal o domínio das águas do Atlântico Sul.

Entretanto, veio: o descobrimento do Brasil; a expansão do domínio espanhol para outras terras da América do Sul; e a expansão desordenada pelos bandeirantes portugueses.

Esse movimento expansionista gerou novos conflitos sobre os limites das colônias espanholas e portuguesas, na América do Sul.

TRATADO DE MADRI

O Tratado de Madrid foi a primeira tentativa de pôr fim a esses conflitos.

O Tratado de Madrid foi firmado na capital espanhola entre D. João V de Portugal e D. Fernando VI de Espanha, a 13 de janeiro de 1750, para definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas, pondo fim, assim, as disputas.

O Tratado de Madri tinha por objetivo demarcar os limites dos dois Estados, tomando como base rios, montanhas e outras paragens mais conhecidas, para que não dessem ensejo a novas disputas,

Devido à demarcação da área firmada, complementava o tratado a troca entre duas áreas pelos dois reinos. Uma área dominada pelos espanhóis conhecida por Missões, localizada onde hoje é o Rio Grande do Sul, passaria para Portugal, enquanto a côlonia do Sacramento, no sul do atual Uruguai, colonizada por portugueses, passaria ao domínio Espanhol.

Entretanto, era exigência dos portugueses, firmada no tratado, a expulsão dos Povos Missioneiros.

Missões é o nome dado ao conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos Jesuítas espanhóis: São Francisco de Borja; São Nicolau; São Miguel Arcanjo; São Lourenço Mártir; São João Batista; São Luiz Gonzaga; e Santo Ângelo Custódio.

O MITO SEPÉ TIARAJU

SÉCULO E MEIO DE PAZ E DESENVOLVIMENTO

Desde o início do século XVII, que jesuítas espanhóis chegaram ao sudoeste do Rio Grande do Sul e implantaram uma colonização, que durante muitos anos conheceu o bem-estar e o desenvolvimento.

Índios e jesuítas construíam igrejas, hospital, asilo, escolas, fontes, oficinas, pequenas indústrias. Os guaranis dedicavam-se à agricultura, pecuária, marcenaria, pintura e também à escultura e à música. Cada uma das sete cidades tinha população estimada entre 6 e 10 mil habitantes.

Era o que passou a história como República dos Guaranis.

Sepé Tiaraju nasceu nesse ambiente próspero no aldeamento de São Luiz Gonzaga e crescera, como órfão, adotado por padre jesuíta.

A NOTÍCIA DO BANIMENTO

De acordo com o firmado no tratado de Madri todos os habitantes das Missões teriam que deixar suas terras e se transferir para o território pertencente aos espanhóis.

Além disso, o prazo dado para deixarem as terras era muito curto. Por isso, os padres jesuítas intercederam e pediram mais tempo aos representantes das duas coroas. Da mesma forma, devido ao descontentamento dos indígenas, pediram a estes que permanecessem calmos e se preparassem para a mudança.

Apesar de não serem atendidos com relação ao prazo, os índios pareciam conformados.

SEPÉ TIARAJU LIDERA A REVOLTA

Sepé era índio muito forte, bom combatente, estrategista e admirado por todos.

Padre Balda, também muito querido e respeitado pelos índios, aconselhara para que os índios não reagissem, pois dariam motivos para as tropas atacassem. Acrescentou que o sensato seria sair em paz e partir para a construção de novas cidades e de outras lavouras.

Sepé reagiu, pedindo-lhe perdão e dizendo-lhe, que pela primeira vez seria obrigado a desobedecer.

Sepé não permitiria que seu povo entregasse aos portugueses o fruto de tantos anos de trabalho. E prometeu que, no dia seguinte, acompanhado de quinhentos homens, atacaria o inimigo.

Pouco valeu a coragem e o desprendimento de Sepé e sua gente, diante do número e das armas do inimigo. Os poucos índios que conseguiram sobreviver fugiram e Sepé caiu prisioneiro.

Todas as Missões entristeceram-se com a notícia. Só Padre Balda afirmava, que assim como fora preso, fugiria.

A FUGA DE SEPÉ

Como prisioneiro, Sepé era arrastado à presença do General lusitano. Mandaram que o índio beijasse a mão do general, mas ele recusou-se, afirmando ser ele o dono das terras.

Astuto, percebendo que por mal não conseguiria conquistar o índio, ofereceu-lhe fumo. Mas uma recusa de Sepé e outra afirmativa de que possuía fumo de muito melhor qualidade.

O general demonstrou o que mais lhe importava, quando ofereceu a liberdade em troca de Sepé contar-lhe onde estavam seus cavalos.

E mais outra demonstração do caráter do guerreiro, quando respondeu: não preciso esmolar liberdade. Não há forças aqui capazes de impedir que me liberte.

Enquanto todos caçoavam e gargalhavam, Sepé, rápido como um raio, escapou dos soldados e montando no primeiro cavalo que encontrou, saiu em disparada.

Nas Missões o povo vibrou de alegria. Padre Balda abraçou-o comovido.

Sepé revelou que agora odiava mais do que nunca o inimigo. Exausto, o ódio foi vencido pelo sono.

RETIRADA PORTUGUESA ILUDE SEPÉ

Os portugueses não viam a hora de atacar, mas tinham ordens de aguardar as tropas espanholas. Entretanto, chega comunicação informando que os espanhóis ainda demorariam algum tempo. Assim, ao general português só restou ordenar, que seus soldados voltassem à fortaleza e permanecessem aquartelados.

Ao chegar a notícia às Missões, Sepé e seu povo interpretaram a retirada portuguesa como derrota, e comemoraram com muita alegria.

PORTUGUESES E ESPANHÓIS POSICIONADOS PARA O ATAQUE

Um mês se passara. Tudo retomara ao que era antes. Os índios e os jesuítas faziam seus trabalhos rotineiros. Reinava a paz e a tranqüilidade.

Um grito mudou completamente a vida daquele povo. Vamos ser atacados! Vamos ser atacados!

Portugueses e espanhóis unidos para dar cumprimento ao Tratado de Madri, firmado entre seus reis.

SEPÉ ANTECIPA-SE EM LUTAS DE EMBOSCADA

Sepé assumiu a chefia de sua gente, que preferia morrer a sair da terra onde nascera.

Sepé despediu-se e partiu com seus guerreiros.

Inteligente, sabia que o inimigo era mais forte. Preferiu a luta de emboscada. Ataques rápidos e de surpresa.

Sepé era visto em toda parte. Desdobrava-se. Lutava com todas as forças que possuía. Em contrapartida, a aliança poderosa de portugueses e espanhóis atacava em massa.

Entretanto, os índios lutavam com um ardor nunca visto e, dente os combatentes, sobressaía-se a figura de Sepé Tiaraju.

O INIMIGO CONCENTRA-SE EM SEPÉ

O inimigo percebeu que Sepé era o coração de seus guerreiros. Era sua presença e sua bravura que os animavam. Resolveu concentrar-se nele. Aos punhados os soldados atacavam e nem assim conseguiam vencê-lo.

Dez soldados rodearam Sepé. O guerreiro os enfrentou corajosamente. Enquanto combatia, um deles conseguiu atingi-lo com a lança.

Sentindo-se ferido, tentou resistir agarrando-se ao pescoço do cavalo, mas fugiam-lhe as forças. Tudo escureceu. Seus braços não suportaram mais e caiu no chão, quase morto.

Montado a cavalo, aproximou-se um soldado, fitou o valente guerreiro, totalmente indefeso, e atirou.

Sepé estava morto. Deixara de existir o defensor dos povos das Missões.

Muitos foram índios e soldados inimigos que viram um cavaleiro galopando um cavalo de fogo, envolto por luz azulada. Cruzando o céu, empunhando na mão direita a lança, Sepé galopava ao encontro de Tupã.

VENCIDOS, MISSIONEIROS ABANDONAM SUAS TERRAS

Depois da morte de Sepé, os índios perderam muito da motivação, que os faziam lutar com ardor contra forças tão superiores. Enfraquecidos caíam um a um.

Já não era mais combate, era perseguição aos poucos índios que restavam de pé.

Os poucos índios que escaparam, fugiram para o mato.

Nas campinas entre os corpos dos indígenas, estavam os inúmeros jesuítas mortos, quando tentavam proteger os nativos.

Vitoriosas, as tropas marcharam para as Missões.

Ajudados pelos jesuítas, o povo reuniu o que restou e partiu, de cabeça baixa, em busca de novas terras,

Lentamente, a procissão foi deixando a cidade. Com olhos tristes, miraram pela última vez suas plantações verdejantes, suas ocas amigas, sua terra!

Assim, conforme iam se afastando a tristeza acenava para sua terra em despedida.

“Sepé Tiaraju” é nossa reverência em rimas ao líder, herói e mito imortalizado nessa narrativa, misto de história e lenda.

Sepé Tiaraju

Indiferentes aos nativos,

ao seu trabalho e amor à terra,

e distantes, reis assinam tratados

que, neles, destino encerra.

Foi com um desses tratados,

que os reis de Espanha e Portugal,

com as armas de seus soldados,

destruíram as Missões, modelo de viver social.

Sempre, violência gera conflito,

revolta-te missioneiro ultrajado,

brada Sepé, ontem líder, hoje mito,

antes a morte do que da terra ser banido.

Fuzis, canhões e soldados,

contra flechas, lanças e índios.

O destino da luta estava selado,

banimento e morte aos missioneiros.

Sepé Tiaraju cai ferido

e um tiro covarde mata-lhe o corpo,

nasce, da liberdade, o mito.

Sepé, nas chamas de um baio de fogo,

cavalga ao seu derradeiro fito,

voltar a Tupã, quem separa o joio do trigo.

FONTES:

LIVRO - Sepé Tiaraju – Tia Regina; e

SITES:

correioweb.com.br; e

wikipédia.org.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 30/08/2012
Reeditado em 25/09/2012
Código do texto: T3857571
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