Lenda do Primeiro Gaúcho (lenda do Sul)

ORIGEM E CENÁRIO

A lenda tem origem no século XVIII, caracterizado pela direção da movimentação dos brancos do litoral para os sertões brasileiros.

Essa movimentação foi graças à publicação da Carta Régia de 1701 e ao êxito na exploração de ouro e pedras preciosas.

A carta Régia proibiu a criação de gado numa faixa de até dez léguas da orla litorânea, em favor da cultura canavieira, obrigando os criadores e novos colonizadores a buscar o interior do país.

Já, o êxito na exploração das riquezas incentivou, cada vez mais, exploradores a procurarem o interior do Brasil

Na região do sudoeste, onde hoje é o Rio Grande do Sul viviam os índios minuanos, hoje extintos. Caçadores, cavaleiros, guerreiros e zelosos com suas terras.

Os índios que habitavam esta região conheciam, não se sabe desde quando, o uso das boleadeiras (Espécie de arma ou laço, formada por três pequenas cordas de couro, tendo em suas extremidades uma bola de pedra). Usavam-nas, juntamente com as flechas e lanças, para caçar e, também, contra os inimigos.

De acordo com o fluxo da época, brancos migraram para essa região ou para criar gado, ou atrás de ouro e pedras preciosas. Careciam de mão-de-obra para o trabalho pesado e viram, nos índios, a solução para esse problema.

Foi nesse cenário de conflitos entre o branco. que chegava para explorar e escravizar, e o nativo, que queria permanecer livre e em suas terras, que nasceu a lenda do Primeiro Gaúcho.

A LENDA

CONFRONTO ENTRE MINUANOS E BRANCOS

Minuanos daquelas terras do sul brasileiro realizavam grande festa.Fogueiras acesas, para assar as caças, iluminavam suas danças e cantos de alegria.

Um bando de brancos, que atravessava as campinas daquela região, avista fumaça. Impulsionados pela necessidade de braços, percebem ali a oportunidade, para surpreendê-los, aprisioná-los e torná-los seus escravos.

Aprontam-se com cordas e armas e seguem em direção à fumaça.

Entretanto, os minuanos mantinham sempre índios em pontos estratégicos, para perceberem a aproximação de estranhos e de agressores. Um dos índios percebe o perigo e galopa até a aldeia. Interrompe a festa com o aviso de que seriam atacados.

Os índios minuanos, guerreiros bem preparados, montam em seus fogosos cavalos e, armados de flecha, lanças e boleadeiras, deixam seu acampamento e rumam para surpreendê-los. Usam de sua tática de ocultarem-se ao longo do dorso dos cavalos, fazendo com que o inimigo pense tratar-se de bando de cavalos livres, para serem aprisionados.

O bando desconhecendo tal tática empregada pelos minuanos e avistando à distância o bando de cavalos pastando, tomam essa direção, com a intenção de cercá-los e laçá-los.

A isca estava preparada, de um lado dorso de cavalos pastando, do outro lado, dorso com índios imóveis e ocultos, aguardando para o ataque de surpresa.

Os minuanos percebem, que o bando está suficientemente perto e desfecham o ataque.

Endireitaram-se nos cavalos, partiram rápidos como o pensamento, e desfecharam contra o bando de brancos atônitos saraivada de flechas e boleadeiras. Numa nova investida, agora se servindo das lanças obrigam o bando a fugir desordenadamente.

RODRIGO, SOBREVIVENTE, PRISIONEIRO E CONDENADO À MORTE

Vitoriosos, os índios ao examinarem o lugar onde se travara o combate, ouvem um gemido. Havia alguém vivo!

Era Rodrigo, o mais jovem do bando. Fizeram-no prisioneiro e o levaram para a aldeia.

Foi realizada grande festa pela vitória, na qual o Conselho da Tribo condenou Rodrigo à morte.

Os minuanos tinham como tradição de guerra não matar prisioneiros doentes ou feridos. Assim, enquanto esperavam a cura do prisioneiro, Imembuí, linda jovem minuana e filha do Chefe, foi indicada para cuidar de sua alimentação.

Penalizada, tratava-o de forma especial dando-lhe o que de melhor existia na aldeia em alimentação. Nesses encontros diários não poderiam se entender, pois ela falava Quíchua (ou Quéchua) e ele português.

Entretanto, com sorrisos, olhares e gestos e com o tempo passaram a se entender. Certo dia, como o ferimento já estava cicatrizando, Rodrigo sabia estar próxima a sua hora. Gesticulou e olhou para Imembuí, perguntando-lhe se ela sabia a data da cerimônia.

A índia com olhar umedecido por lágrima, que resistia correr-lhe pelo rosto. Fez com que entendesse que estava de seu lado e que nada iria lhe acontecer.

Rodrigo ficou muito contente e resolveu fazer uma viola. Era um de sues dons cantar e tocar viola. Para tal, o jovem pediu à íImembuí, por gestos de mímica, taquaras, corda feita de tripa de capivara, restos de madeira e cola silvestre.

Pronta a viola, os encontros diários entre Rodrigo e Imembuí, agora eram acompanhados de balas e suaves canções, que transportavam os dois para campinas desconhecidas.

Olhares, gestos, alguns toques dissimulados e, agora a música, revelaram aos dois que, agora se comunicavam com outra linguagem: a universal; a mais forte e convincente; a linguagem do amor.

O DIA DA EXECUÇÃO É MARCADO

Dias depois, um índio trouxe a mensagem do cacique aos protagonistas daquele amor impossível: na próxima lua seria a execução.

A esperança de Rodrigo ficou abalada e, embora Imembuí prometesse que haveria de conseguir salvá-lo. Apesar disso, continuou a cantar e aproveitar aqueles momentos com a linda minuana, que poderiam ser os últimos.

Assim, alguns dias se passaram e a próxima lua preparava-se para brilhar no firmamento.

O dia do sacrifício chegara. Alguns índios levam Rodrigo e o amarram a um tronco.

Embora Imembuí tivesse implorado diversas vezes ao pai e Chefe; embora o pai se sentisse inclinado a libertá-lo; a sentença teria que ser executada por respeito à tradição e à decisão do Conselho.

PEDIDO DE IMEMBUÍ PROVOCA O ADIAMENTO DA EXECUÇÃO

Imembuí ao ver a execução de Rodrigo, praticamente, consumada e impulsionada por seu desespero, implora a todos os chefes, um a um, por clemência a Rodrigo. Afirma-lhes sobre a bondade de Rodrigo e que, certamente, fizera aquilo por influência dos companheiros.

Os chefes não estavam dispostos a ceder. Entretanto, por gostarem tanto da indiazinha e por já terem percebido a divisão do coração de seu Chefe, resolveram formar outro Conselho para decidir, de uma vez por todas, a sorte de Rodrigo.

Mandaram soltá-lo até a solução final.

A MÚSICA LIBERTA RODRIGO

Imembuí e Rodrigo passeavam. Ela cheia de esperanças num futuro de realizações com seu amor; ele cheios de dúvidas, despedia-se de sua amada em cada olhar.

Enquanto isso, os chefes discutiam no Conselho. Não viam motivo para poupá-lo, mas também não queriam desgostar a jovem índia, nem a seu pai, que era o Grande Chefe.

Na volta do passeio, Rodrigo foi agraciado com inspiração salvadora: tua clemência está com tua música.

Como sempre que estava com Imembuí levava sua viola, correu, sentou-se o mais perto possível do lugar onde o Conselho deliberava e começou a tocar e cantar as mais belas canções que conhecia.

As falas e as argumentações cessaram, pois a viola e o canto de Rodrigo maravilharam tanto os chefes, que um a um, curiosos saíram todos para ver quem cantava e tocava, com tanta beleza e doçura.

Todos ficaram surpresos, quando descobriram tratar-se do prisioneiro.

Ele não era um homem! Era um deus!

Rodrigo acabara de conseguir a decisão favorável do Conselho, bem como a admiração dos minuanos com a música.

Imembuí, que seguira Rodrigo, chegara a tempo de ver suas esperanças virarem realidade. Rodrigo estava livre para que os dois vivessem um belo amor.

Muitos outros minuanos foram chegando e Chefes, índios e até mesmo Imembuí, todos admirados.

Enquanto ouviam as tristes e belas canções, exclamavam: “Gaú-che! Gaú-che!” Gaú-che!” - “gente que canta triste”. Desta expressão minuana, teria vindo a palavra gaúcho.

RODRIGO O PRIMEIRO GAÚCHO É ACEITO COMO MINUANO

Rodrigo é aceito como minuano, casa-se com Imembuí e, com o tempo, outras qualidades e o caráter de Rodrigo influenciam o Conselho de a Tribo a elegê-lo como um de seus membros.

Sua forma de pensar civilizada influenciou o viver minuano e trouxe à lavoura, á criação organização e um viver melhor à tribo.

Os filhos de Imembúí e Rodrigo deram início aos que hoje chamamos gaúchos. Esse povo: zeloso com a família, a terra e as tradições; preocupado com o desenvolvimento; e amantes da música a cantoria.

MINUANOS PRESENTES NO PRESENTE

São muitas as noites em que grupos ao redor do fogo, num Conselho da Amizade e Alegria, passam o chimarrão: cuia de mão em mão e bomba de boca em boca. Sempre, também, como companheira, estará a cantoria e a música gaúcha.

Se por acaso tiveres um dia participando, não te assustes, se tua sensibilidade e intuição, perceberem minuanos admirados por esse cantar, ao mesmo tempo forte e doce, e por essa viola evocando saudades, exclamando: Gaú-che! Gaú-che!” Gaú-che!”.

Tua intuição e sensibilidade é semelhante à de Imembuí, que tinha certeza da realização de seu “amor impossível” com Rodrigo.

“Primeiro Gaúcho” é tentativa de registrar em rimas a beleza dessa lenda que identifica as raízes do gaúcho.

Primeiro Gaúcho

Brancos e índios em conflito.

Um quer mão de obra escrava,

o outro tem a liberdade como fito.

Em terras do sul a luta se trava.

Fogem os obreiros da escravidão,

minuanos encontram Rodrigo ferido,

que só não é morto graças à tradição

e é levado como prisioneiro à tribo.

A morte é, do conselho, a decisão,

que ordena à jovem e bela Imembuí

os cuidados para sua recuperação,

que se faz mais rápida, quando sorri.

Apesar de seu destino ser a morte,

o talento com a viola e o canto

altera, de Rodrigo, a sua sorte.

Imembuí entrega-lhe seu coração

e o Conselho sua decisão revoga,

aceitando-o como, da tribo, um irmão.

Se estiveres com gaúchos numa roda,

onde, num ritual ,se toma chimarrão

e se expressa alegria com cantoria e viola,

não te assustes se vires com a outra visão,

minuanos exclamando “Gaú-che” a tua volta,

celebrando Rodrigo e sua triste canção.

Celebrando Imembuí, seu amor e sua união,

os gaúchos, povo, de garra e tradição.

FONTES:

SITES:

biblioteca.virtual@sp.gov.br;

cafehistoria.ning.com;

haroldoabrantes.blogspot.com.br;

poesia-rs.blogspot.com.br; e

terrabrasileira.net.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 27/08/2012
Reeditado em 02/09/2012
Código do texto: T3852411
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