FORMA INUSITADA DE UM PREFEITO INAUGURAR UM CEMITÉRIO
A inauguração de uma obra, de um órgão ou das instituições públicas (mas não só públicas) de um modo geral destinada à população e visando ao bem público tem como praxe um cerimonial que inclui uma série de atos, dentre eles o corte (ou desenlace) de fitas, o descerramento de placas, discursos, etc.
Isso é feito normalmente com muita pompa, porque o ato da inauguração tem um claro objetivo de "marketing" político. Por vezes, a pompa é bem maior e até tem um custo mais alto do que a própria obra.
Amiúde, há até inaugurações sem que a obra esteja concluída ainda.
Temos na Paraíba um exemplo típico deste último caso: O governadar, apelidado carinhosamente pelos seus admiradores de "Zé do Povo", não foi reeleito governador na eleição de 2010. Ele, que retardara demasiadamente a obra ( tendo até mandado quebrar um piso para refezê-lo e, com isso , "ganhar tempo"), depois da veredito desfavorável das urnas, providenciou imediatamente a inaugaração de um hospital em Campina Grande, o Hospital de Trauma. A inauguração ficou só no ato da cerimônia. A inauguração propriamente dita, isto é, o início da funcionamento do hospital só ocorreu muito depois de inciciado a gestão do atual governador (Ricardo Coutinho).
Já o prefeito de Mataraca fez o contrário: A prestação dos serviços da obra que construiu começou antes da inauguração cerimonial. E ele foi o primeiro a "usufruir" da obra que construiu. Não teve a vaidade sequer do cortar a fita. Foi uma forma bastante original de inaugurar obras públicas.
Vejamos a reportagem sobre o caso:
"Ação póstuma: prefeito que construiu cemitério é o primeiro a ser enterrado em Mataraca. Foi com recursos próprios que o prefeito João Madrugada construiu um novo cemitério pra Mataraca, cidade do litoral norte da Paraíba. Quis o destino, com suas refinadas ironias, que ele fosse o primeiro a inaugurá-lo. Mas não em vida.
Morto na manhã desta sexta-feira, após sofrer problemas cardíacos, o prefeito João Madrugada, que se tratava de um câncer em São Paulo, foi o primeiro a ser enterrado no novo cemitério da cidade.
Foi hoje à tarde, sob forte comoção popular, que ele preencheu a primeira cova do cemitério.
A cena remete ao clássico da teledramaturgia brasileira, O Bem Amado, quando o incorrigível Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia Sucupira, foi o primeiro a inaugurar o cemitério que construiu.
Não fosse, lógico, o reconhecido esforço real que o prefeito João Madrugada teve, em vida, para garantir outro cemitério pra Mataraca, visto que o antigo não mais suportava a demanda da região.
Pra muitos, o enterro de Madruga no novo cemitério foi uma homenagem da cidade ao prefeito. Que, além do cemitério, também acabou “inaugurando” uma creche que deixou pra abrir, ao ter o corpo velado no novo prédio durante todo o dia.
Para outros, fica a lição. Bom seria que os gestores públicos fossem sempre obrigados a usar aquilo que constroem. Sairia tudo melhor".
Luís Tôrres
Não sou dado a crendices. Mas, vejamos algumas coincidências:
A cidade se chama MATARaca, o prefeito é MADRUGADOR (João Madrugada), a obra foi um CEMITÉRIO... Quem madruga, todos sabem, pega a estrada mais cedo e caminha sempre na frente dos outros. O realizador prefeito, sempre à frente dos outros, pegou mais uma vez a estrada mais cedo. Desta vez, exatamente a que leva ao cemitério, lastimavelmente!
Meus pêsames à família do prefeito!