A JUVENTUDE E O VOTO - DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO CIDADÃ

O Brasil se prepara para um grande show, uma enorme festa: a festa da democracia, o voto de milhões de eleitores que vão definir os rumos do país e o que queremos para nosso futuro. O grande número de eleitores faz do Brasil uma das nações mais democráticas do ponto de vista eleitoral de todo o mundo. A juventude se vê diante de uma responsabilidade muito grande, porque são como portadores do novo e querem justiça e paz. Ela é a geração do grito pela paz, pela ética na vida pública e pela participação de todos. As eleições são uma oportunidade singular em que a gente pode transformar aquilo que não mais convém à sociedade e de fazer crescer aquilo que já existe de positivo. E cresce a cada vez o número de candidatos. Isso é muito bom, é sinal de que temos candidatos que pensam de formas diferentes, trazem propostas variadas e nos dá a oportunidade de fazer uma escolha que nos obriga a uma reflexão mais intensa e a discutir em grupos de amigos, no trabalho, no grupo da igreja e na sala de aula as ideias que podem conduzir o país a um caminho de justiça, onde os direitos são respeitados e os deveres cumpridos por todos. Não é daquelas eleições em que os candidatos são mais ou menos a mesma coisa, e tanto faz votar em um ou no outro que não faz muita diferença. Isso tem um nome: avanço democrático. Nossa democracia caminha a passos largos, mesmo parecendo correr contra os tempos da história, geralmente tão lento e com mudanças difíceis de se concretizarem.

No entanto a tradição eleitoral do Brasil é muito mais antiga do que às vezes pensamos. Há registros de que uma eleição foi feita em 1532, onde foi eleito um conselho municipal para São Vicente, em São Paulo, a primeira vila da colônia portuguesa. Era apenas um ensaio, pois não existia nenhuma democracia nem manifestações dela no período colonial do Brasil, o que até seria estranho aos olhos de uma monarquia absolutista. Para termos uma ideia do processo de eleições no país, em 1821, um ano antes da independência, houve uma eleição geral na colônia, que escolheu representantes brasileiros junto à Coroa Portuguesa. É óbvio que nem todos tinham direito ao voto, como acontecem nos dia de hoje, mas não deixa de ter um significado importante para a história do Brasil. Era uma eleição sem partidos e com votos que não eram secretos. Com o advento da Independência, a primeira legislação eleitoral do Estado Brasileiro foi elaborada por ordem do Imperador Pedro I, que foi a base da eleição da Assembléia Constituinte de 1824, onde só votavam os homens de altas rendas.

O processo de eleições no Brasil foi se modificando lentamente, ora com avanços, ora com recuos de direitos. Uma mudança natural, lenta e gradual em sua maioria, como são as mudanças ao longo da história. A República também não trouxe avanços eleitorais como deveria e seria natural acontecer. Pobres e mulheres, analfabetos e o clero não votavam nas primeiras eleições republicanas. As mulheres só conseguiriam ter direito ao voto em 1932. No início da república havia cédulas falsas, votos de cabresto, havia os currais eleitorais e todo tipo de fraude, fazendo das eleições uma rede de ilegitimidade. Na era Vargas o Brasil ganhou uma legislação eleitoral avançada, que além de assegurar o voto da mulher, instituía o voto secreto, tendo inclusive sido eleita uma mulher para deputada federal, a paulista Carlota Pereira de Queiroz. Era sinal de um tempo em que os direitos da pessoa seriam respeitados. Era a conquista do espaço que era de alguns, estendido agora a outros. Mas ainda não era suficiente, e creio que dificilmente um dia será. A história ainda continuou mostrando que ora há avanços, alguns enormes e algumas vezes virão os recuos, que também podem ser catastróficos.

Veio o período da ditadura de Vargas, com um espaço de oito anos em que o brasileiro foi impedido de dar sua opinião sobre os destinos do país. Após os anos de Getúlio, em 1955, aconteceu uma grande eleição, mais organizada, com títulos eleitorais revistos e com fotos, e ainda com cédulas oficiais produzidas pela Justiça Eleitoral, Juscelino Kubitschek foi eleito Presidente da República, fazendo um governo de otimismo com seu plano nacional-desenvolvimentista, que fez com que o eleitor fosse tomando consciência da importância de seu voto, e fez crescer a percepção de que cada um é responsável pelo seu país. Depois da renúncia de Jânio Quadros e do rápido governo do Presidente João Goulart, podemos considerar ter havido na história do Brasil e do direito sagrado de escolha de seus líderes, um duro golpe contra a democracia e contra a liberdade de expressão: o período de governo militar. Acontece que o Brasil não era mais o mesmo, e que o nível de consciência do povo não deixaria por menos. Houve resistências, sempre abafadas pelos militares.

Quando a resistência se intensificou, a repressão foi mais terrível, com prisões, torturas e mortes. Para os jovens, é muito importante estudar e rever sempre esse momento triste da nossa história. Hoje doi muito ouvir pessoas dizerem que não estão nem aí para as eleições no Brasil, quando sabemos que muitos morreram e sofreram para que hoje pudéssemos ter a chance, o direito e a oportunidade de votar, de escolher livremente os rumos que a gente deseja para a nação. Os anos de chumbo foram marcados pela inexpressividade da participação popular nos destinos do país. As eleições eram proibidas, e as permitidas eram quase sempre sem muito significado. Em 1979, no entanto, quando os partidos políticos foram liberados, a oposição pôde se expressar no multipartidarismo e muitos foram encontrando seu lugar. Aí a democracia não se conteve mais. O grito de Diretas Já tomou conta do país que queria, de novo, eleger o Presidente da República. Esse deve ter sido um momento emocionante da nossa história e da história do voto no Brasil. Foi uma pena ter sido adiado.

Só em 1985 os analfabetos, em toda a história da república conseguiram votar. Em 1989, o sonho foi reconquistado com a eleição direta para Presidente, onde o candidato Fernando Collor foi eleito. Daí pra cá, o brasileiro foi tomando consciência de seu voto com mais intensidade. Viu que sua opinião tem peso e pode mudar os destinos de todos. A democracia brasileira se consolida como uma das maiores do mundo. Tivemos eleições em dois turnos para que os candidatos fossem eleitos com um leque de apoio ampliado e gozasse de uma aceitação e/ou aprovação popular maior.

É mesmo, o Brasil mudou muito, e muito rápido. Agora, teremos uma das maiores eleições, onde serão eleitos os representantes e governantes dos nossos municípios. E vale a pena conhecer a história do voto no Brasil, principalmente o período mais recente da nossa história. Hoje, creio eu, que o eleitor brasileiro é consideravelmente mais consciente do seu voto. Como já mencionei, é lamentável ouvir pessoas dizerem que política é coisa suja, que político nenhum presta que não vale a pena votar, que vai à urna só pra anular o voto e coisas deste tipo. Essa dor aumenta quando vemos nossos próprios colegas de sala de aula agir desta maneira, pois afinal de contas estamos estudando nossa história e debatendo o tema das eleições e sabemos como foi difícil e duro a gente ter a oportunidade e conquistar o direito de escolher nossos representantes.

Acompanhar atentamente cada passo do processo eleitoral e cada palavra dos candidatos se deve se tornar uma obsessão para todos. Sei que tudo o que é dito, e toda a proposta que nos é apresentada vai influenciar na minha e na vida de todas as pessoas. Não quero ser omisso e não quero carregar nas costas e na consciência o sangue derramado em prol da liberdade e o peso da omissão. Estamos num país democrático, livre, mas ainda cheio de injustiças e cheio de necessidades para que todos tenham uma vida digna. E algumas delas são possíveis, viáveis, executáveis, mas ficam presas à burocracia e à falta de vontade política de alguns dos governantes que escolhemos. Não podemos mais errar, é necessário acertar e conduzir para a direção certa o país que a gente sonha e quer.

A juventude nesta eleição tem um peso imenso. A juventude é aquela que é portadora do novo, traz em si a característica do diferente, da irreverência e até mesmo da rebeldia. A juventude representa um grande avanço da democracia ao ter o direito de voto aos dezesseis anos. Entre outras, juventude rima com coerência, ou seja, discurso vinculado às ações práticas. Palavras são fáceis, porém já sabemos medir a possibilidade das palavras que podem se tornar realidades. E está cada vez mais evidente que o político do discurso bonito já não convence mais, quando esse não vem vinculado com resultados. A juventude se tornou um diferencial nestas eleições e no país como um todo. Em toda parte do Brasil existem injustiças que nos sensibilizam. A informação chega-nos de toda a parte e o conhecimento político nos faz ver que só através da participação política é que podemos mudar a realidade de dor. Nosso legislativo elabora leis que podem acarretar em uma vida melhor para todos (ou não), e enquanto não soubermos eleger políticos que são sensíveis às dores do povo e dispostos a dar rumos novos, não teremos um país que respeita os direitos de todos, e que não permite a fome, o desemprego e tantos outros males que nos afligem.

Não é hora de pensarmos apenas em nós, em grupos, em setores sociais, apenas: o momento é de abrirmos os olhos para uma imensidão de problemas que podem ser solucionados, e muitas vezes com ações bem simplificadas. Também precisamos entender que os cargos executivos precisam ser ocupados por pessoas idôneas e honestas, preocupadas e sensibilizados com as questões sociais. Temos muitos políticos de má índole, que querem defender interesses pessoais ou setoriais, mas temos também muitos parlamentares que estão ocupando seus cargos com muita dignidade e fazendo um belo trabalho pelo nosso povo. Os meios de comunicação tem sido imprescindíveis para que formem nossas consciências, desde que tenhamos um senso crítico apurado, e nesta área contamos com os jornais de vários segmentos, as TVs legislativas que tem trazido a muitos lares as ações dos parlamentares, bem como mostrado o Brasil sem retoques aos brasileiros.

Isso tudo nos ajuda a tomarmos consciência da importância do voto para a consolidação de um Estado soberano e preocupado com seu povo. Ninguém ocupa um cargo público por indicação de ninguém, como aconteceu em vários períodos da nossa história e tampouco por hereditariedade como na monarquia. Nós escolhemos. E cabe a nós uma vigilância constante e uma presença junto a todas as ações dos mesmos. Hoje é fácil estar em contato com nossos políticos e estamos cada vez mais conscientes disso. É preciso que cheguem a todas as pessoas, os benefícios dos avanços do Brasil. Faz-se necessário que todas as pessoas possam acordar e ter um café da manhã e não irem dormir de barriga vazia. Vai ser maravilhoso o dia em que todos estiverem na escola, tendo as mesmas oportunidades e poder ter muito mais a oferecer ao Brasil do que a pedir dele. Queremos um Brasil nosso, de todos. E isso só vale a pena se conquistado pelo voto, sem violência, sem sangue, sem tortura. Uma revolução livre, da paz, do amor, da ética e da justiça. E espero que não seja só sonho de juventude, que dure por toda a vida. Que este ano os brasileiros aprendam um pouco mais, a como fazer desse país um lugar melhor de se viver. É bom lembrar que vamos eleger homens e mulheres, e não anjos impecáveis. Todos, qualquer um que seja, cometerá erros, mas quero crer também que todos acertarão. O poder numa democracia é cada vez mais compartilhado, e não podemos votar em alguém e deixá-lo lá. Temos que fazer a nossa parte. Votar é uma delas, e uma das mais importantes, pois todo caminho se torna seguro ou não a partir do momento em que se faz uma escolha acertada.

O momento não podia ser outro, e está acontecendo uma verdadeira onda de mudança, e a palavra pode até mesmo ter perdido seu sentido mais importante por ter se tornado muito utilizado e ter ficado desgastada, mas ela continua carregando uma ideia e uma vontade, que é imutável e irredutível. Mudar é preciso, e agora mais que nunca. É preciso mudar conceito, mudar situações tristes e fazer uma grande transformação. Não podemos mais nos permitir ver pessoas passando fome, sem ter acesso a uma educação de qualidade ou mesmo sem ter um lugar para morar com dignidade. A juventude está convocada nestas eleições a formar um verdadeiro exército na luta por um voto consciente de que pode ser o diferencial no destino da nação. Eu vou embarcar nessa ideia e vou levar quantos mais eu puder. Você também pode vir comigo e trazer outros tantos mais. E esse país com certeza vai ser muito melhor. Melhor para todos. E aí, vem comigo?