LUGAR PEQUENO

LUGAR PEQUENO

A própria expressão “lugar pequeno” foi talhada, acredito, por pessoas das “bandas” de interior ou de lugar de pequeno porte.

No “lugar pequeno” as pessoas se acomodam... Se acostumam...

Sempre apreciei o cair da tarde, em meu pequeno lugar, onde resido e tenho passado em minha curta existência. Gosto imensamente de contemplar o dia empalidecido do horário vespertino. Meditar no crepúsculo e ver sua fulgurância inimitável. Sinto-me bem. Deleito-me em demasia.

A suavidade da brisa leve, o panorama bucólico, a frescura ínfrene de um dia que se vai sem arrepios, sem dores, sem saudades, sem tristezas ou angústias humanas, pois ela (a brisa leve) é toda independente, pois passa sem pedir licença.

No interior tudo é melhor ainda, porque se soma a tudo que é delicioso, o silêncio real, a escassa ou quase nenhuma violência urbana. Ouve-se mais fácil e docilmente o gorjear dos pássaros que fazem ninhos pelos jardins e sótãos das casas antigas. A criançada e a força pujante da juventude e adolescentes que brotam nas esquinas, nas saídas dos colégios, eufóricos, risonhos e cheios de planos para o restante do dia.

A simplicidade e a alegria sincera se vêem estampada em cada face dos colegiais, bem assim a diminuta agitação dos automóveis que não produzem muita poluição, são as evidências de que no interior a tarde é mais humana, mais saudável e incomparavelmente melhor que nas megalópoles.

Aqui se vê o dia passar, pois as horas não são tão velozes e a natureza se torna um relógio do dia, marcando os momentos que se vive bem de perto como uma sentinela que está atenta a tudo ao seu redor.

Há mais credibilidade em tudo no interior, em se comparando com os grandes centros urbanos. Nestes, onde a maioria das pessoas, alimentando ambições desmedidas, sem temor a Deus e sem amor no coração, procura avançar na frente, pisando nos demais e “dando os golpes”, para encherem mais a bolsa ou seu “caixa dois”, não medindo as conseqüências!

Para se meditar no interior da cidade pequena, seja numa tarde e de manhãzinha, longe da balbúrdia dos engarrafamentos que a vida moderna e citadina nos empurra, é bem mais condizente. É preferível mil vezes que em outra parte, principalmente, ao contemplar as altas montanhas que nos rodeiam, trazendo pra gente um verdadeiro convite natural, para concentrarmo-nos e pensarmos nas coisas que partem de nossas mentes, com mais facilidade, já que a poluição sonora não é a tônica florescente de quem se posiciona e reside nestas plagas naturais que o Criador nos outorgou, com incomparável privilégio de aspirar a suavidade de uma tranqüila vida pacata, de cidade campesina, num horário mui próprio, como o do lugar pequeno.

Muniz Freire, 08 de abril de 1998.

Fernandinho do fórum