O CONCEITO DE VIDA NA ÉTICA AMBIENTAL DE KENNETH E. GOODPASTER

Determinar quem é digno de consideração moral é um trabalho filosófico relevante. A razão, é o critério tradicional que define os seres dignos de respeito. Somente quem a possui é considerado como igual. Animais irracionais e outras formas de vida desprovidas de razão são excluídos da comunidade moral, e seus interesses são desconsiderados. Esse critério é antropocêntrico, pois escolhe uma característica exclusivamente humana para definir quem é sujeito moral, e implica em riscos a moralidade humana, pois a maioria dos nossos atos diários afeta principalmente os “não-iguais”, e sobre esses atos não precisamos agir segundo justificativas morais. Além disso, boa parte dos seres humanos são desprovidos de razão, linguagem e autonomia, como os deficientes físicos e os recém-nascidos. Kenneth E. Goodpaster inova ao declarar que o critério que demarca a linha divisória entre os seres que participam da comunidade moral dos que não participam, deve ser a vida, um critério mais abrangente, ao mesmo tempo em que discorda do modelo de moralidade tradicional, pois seu princípio é definido pela perspectiva do agente moral, ou seja, pelo homem. Além disso, Goodpaster exige que se deve levar em conta o próprio bem e os interesses do paciente moral. Para ser digno de consideração moral não é preciso saber o que é o bem ou o que é o mal, é preciso apenas sentir o mal, e para isso não é preciso ter razão. Esse novo conceito permite a inclusão de seres até então excluídos pelo paradigma moral tradicional, que não admite na comunidade moral seres que não sejam sencientes. Para Goodpaster, uma coisa é ter consciência e razão, outra coisa é dizer que para merecer respeito é preciso ter consciência e razão. Ele propõe abandonar o paradoxo tradicional pelo que ele ignora. Para incluir os animais e os demais seres vivos no grupo dos seres que merecem consideração moral, Goodpaster faz algumas distinções conceituais. Para ter participação na comunidade moral não é preciso ter direito moral, isto é, não é preciso ter capacidade de assumir responsabilidades perante os demais seres vivos, mas é necessário ter considerabilidade moral (ponto chave da sua tese), ou seja, é necessário ser digno de respeito. Considerabilidade moral também é diferente de relevância moral, pois esta implica em classificação, que destaca o grau de importância moral de cada um, de cada espécie, dentre os seres considerados morais. Considerabilidade moral não admite hierarquia. Há uma outra distinção: entre nível operacional e regulativo. No primeiro nível, através de descrições, classificações, uso de conceitos para compreender o que é tratado, se reconhece intelectualmente a considerabilidade moral. Através do segundo se admite não fazer certas coisas, mesmo que não se compreenda o motivo dessa “não ação”, apenas não se deve fazê-lo porque é lei. Para Goodpaster, a vida é critério suficiente e necessário para se merecer consideração moral, basta estar vivo para ser digno de respeito. Somente quem possui vida participa da comunidade moral. Segundo Goodpaster, para ter desejos e necessidades, para mover-se para prover-se, não é preciso ter consciência, uma planta não precisa saber que precisa de água para ter interesse e necessidade de água. Portanto, capacidades psicológicas são irrelevantes para identificar quem participa da comunidade moral. Goodpaster abre mão de usar o conceito psicológico de interesse, e nomeia os interesses biológicos, sendo que o maior interesse biológico é o de manter a “bios”, ou seja, manter a vida dos seres dignos de considerabilidade moral.