Quando a literatura se aproxima do futebol
Por Rodrigo Capella*
Muito se tem discutido, nos grupos acadêmicos e literários, sobre a utilização do ensino à distância como forma de se incentivar e, até certo ponto, propagar o gosto pela literatura brasileira. Os defensores desse tipo de ferramenta argumentam que, ao utilizar a Internet e participar de cursos via web, os alunos seriam motivados a pesquisar sobre as diversas tendências da escrita e, com isso, passariam a consumir mais livros.
Na outra frente, os opositores acreditam que a busca por novas obras só ocorre quando o estudante recebe estímulo dos professores, muitas vezes especializados em determinados assuntos de nossa literatura.
Eu acrescentaria mais alguns argumentos: assistir um curso de literatura pela Internet é como acompanhar uma partida de futebol pela televisão. Não tem a menor graça. Diminui-se a emoção de ver o time entrar em campo, deixa-se de comer hot dog com queijo e mais: o gol perde grande parte de sua característica, sentido e cor.
A literatura, assim como o esporte mais popular do Brasil, é feita de momentos. O lance é único, o gesto merece ser contemplado por minutos e o drible precisa ser eternizado com uma fotografia marcante. Todos esses sentimentos, infelizmente, não podem ser captados em uma aula pela Internet.
Vamos a um exemplo: quando meu professor de literatura do ginásio recitava Drummond de Andrade, eu percebia emoção em seus olhos. Se esse mesmo profissional lesse o mesmo poema em uma aula virtual, eu, rapidamente, sentiria uma perda de credibilidade e sustância. O ao vivo é sempre melhor!
Nesse debate presencial versus virtual, outros argumentos também precisam ser destacados. Em uma aula cara-a-cara, os alunos podem, por exemplo, tirar dúvidas, apontar questionamento e, até mesmo, apresentar composições próprias, dos mais diversos estilos literários. Além disso, o professor direciona as explanações de acordo com as necessidades dos estudantes.
Esses motivos tornam, portanto, o ensino à distância, até o presente momento, uma ferramenta desnecessária para a nossa literatura. Precisamos, então, valorizar as aulas presenciais, ensinando os alunos a respeitarem os professores, investindo no conhecimento intelectual desses profissionais e, principalmente, possibilitando o surgimento de centros de pesquisa literários. Difundir a literatura é investir em educação, conhecimento e cultura.
* Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor do livro "Transroca, o navio proibido", que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer. Informações: www.rodrigocapella.com.br