FILOSOFIA UNIVERSITÁRIA DO BRASIL
Esse texto é a minha opinião, a opinião de um aluno da faculdade de filosofia, a respeito do modelo de ensino filosófico utilizado nas universidades brasileiras: o modelo “uspiano”. A filosofia uspiana, fundada em 1934 por franceses, defendia que a única forma de se aprender filosofia se dá pelo estudo de sua própria história. Dessa forma, a filosofia acabou sendo identificada como o estudo da sua própria história. O pouco que existia de filosofia no Brasil, naquela época, foi substituído pela filosofia e modelo filosófico trazido e implantado pelos franceses.
Essa forte tradição francesa perdura até os dias de hoje, na maioria das faculdades de filosofia de todo o Brasil.
Eu acredito que essa forma de ensinar filosofia tenha seu lado positivo e seu lado negativo, uma posição radical sobre o assunto, em minha opinião, é incoerente. Reafirmo, esse não é um sistema totalmente satisfatório, nem tão pouco livre de críticas, explicarei minha posição.
Esse sistema de ensino tem sua face negativa, e por um lado limita o ensino filosófico por três motivos: comodismo e conformismo dos professores e alunos; pouco ou nenhum espaço para os universitários exporem suas próprias idéias; e desvalorização e esquecimento das teses elaboradas por brasileiros, dando preferência tradição filosófica européia. Idéias, teorias, teses, como queira chamar, produzidas por brasileiros, com o tempo serão esquecidas, pois é mais conveniente estudar o que já foi dito do que buscar inovar, buscar soluções novas para antigos ou novos problemas. Por um lado esses sistemas não “desenvolvem” filósofos, desenvolvem gravadores e reprodutores de idéias consagradas.
Há questões filosóficas que “aparentemente” foram solucionadas por Platão, Aristóteles, Kant, ou qualquer outro grande filósofo, pois ainda não se provou o contrário, também há questões, teses, que já foram taxadas de equivocadas, mas que mesmo assim continuam sendo lecionados. Quero dizer que a filosofia tem muito mais a ver com argumentação própria e renovada, do que com colocar palavras na boca de quem não pode mais se pronunciar.
Parece-me que esse sistema alimenta um conformismo generalizado, onde filósofos preferem “fotocopiar” pensamentos há criar sua própria identidade filosófica. Na minha visão, esse problema tem base nesse sistema atual de se ensinar filosofia, pois há professores que quando questionados tentam responder com as palavras de um filósofo renomado, e dessa forma se perguntam: “o que eles disseram sobre o assunto?”, “o que fulano diria?”, “como cicrano resolveria essa questão?”. Precisamos de uma filosofia autônoma.
Recepcionar pensamentos prontos não é nem de perto atitude filosófica, “filosofar” dessa maneira é a mesma coisa que dizer que se é padeiro apenas pela atitude de tirar os pães do forno... O sistema atual de certa forma limita a nossa capacidade de filosofar, por vezes ele apenas nos permite fazer uso da nossa capacidade de leitura adquirida na pré-escola.
Esse sistema vigente me dá a impressão de que a filosofia do Brasil tem pais, avós e bisavós estrangeiros, pois ela se limita á repetir o que o europeu acha importante. Não quero aqui desmerecer qualquer filósofo ou teoria filosófica consagrada, o que seria inconseqüente, apenas quero ressaltar minha crença: que temos muito a dizer e a desenvolver quanto filósofos ou futuros filósofos brasileiros.
É triste verificar que alguns filósofos brasileiros contemporâneos, na maior parte do tempo, apenas emprestam seus corpos, inteligências e vozes como meio para que os filósofos renomeados de outras épocas e nacionalidades, continuem a ser aplaudidos. O orgulho do filósofo brasileiro deveria ser sua própria obra, ao invés de ser o reconhecimento de um belo livro que ele escreveu comentando a obra de um filosofo que outrora fora discutido e aclamado.
Esse sistema nos deixa submissos à filosofia “dos outros”, como por exemplo à européia, discutimos o que eles discutem e quando eles desistem de discutir um tema nós também desistimos. Não opinamos, não expomos de forma crítica nossas idéias, na maioria dos casos, copiamos, colamos, falamos amém e reproduzimos as teses alheias. Esse é meu sentimento, quanto um ALUNO de filosofia.
Esse sistema de filosofia produz pouca “mente-de-obra”. Atualmente, ou se discute o que os estrangeiros estão discutindo, ou nos isolamos em uma imensa ilha de conhecimento paralelo. O Brasil teria que produzir uma grande quantidade de filósofos com teses novas e importantes, além de discutir essas teses entre nós, para que enfim possamos criar uma identidade para nossa filosofia.
Em minha opinião, isso será possível quando as faculdades de filosofia em geral, cederem mais espaço para o aluno escrever o que pensa, numa prova por exemplo, ao invés de limitá-los a reproduzir o que já foi dito.
Por outro lado, o sistema de filosofia uspiana se faz importante quando propicia aos universitários entrar em contato com as grandes teorias filosóficas sobre os mais variados temas, pois assim se aprende a debater filosofia e a escrever filosofia, que era o interesse da escola francesa que implantou esse conhecimento no Brasil.
É importante, pois nos coloca em contato com as mais variadas áreas de conhecimento filosófico, e nos propicia uma abertura para novos conhecimentos, além de nos ajudar a criar afinidade com uma área onde iremos produzir nossos textos.
Por esses motivos, os positivos, não devemos deixar de estudar filosofia no modelo uspiano, mas não devemos nos limitar a apenas reproduzir o que já foi dito, reprodução essa que entendo como ponto negativo do sistema. Penso que é importante que as faculdades de filosofia dêem liberdade para seus alunos desenvolverem suas teses em provas, seria um primeiro grande passo para desenvolvermos uma filosofia autônoma.
Aceito tranqüilamente a objeção de que grande parte do que será produzido não terá validade filosófica, mas, o mais importante nesse momento é ter restabelecida a liberdade de expressar o que pensamos como brasileiros, atividade essa que nos foi sacada pelo lado negativo do sistema uspiano.