O BENDITO "MAS" QUE NOS CONDENA...

VIDRO

Ainda agora minha tia me enviou uma linda mensagem sobre o valor da terapia do elogio, tendo em vista que se tem observado que os brasileiros estão cada vez mais frios, também em família, priorizando antes as críticas, à menção das qualidades daqueles com quem convivem.

Trata-se, sob uma outra perspectiva, da mesma questão abordada num artigo passado onde mencionávamos a tendência mórbida existente atualmente no comportamento humano, viciado em enaltecer a negatividade acima de tudo que nos possa remeter ao que há de belo, de positivo, de precioso em muitas das pessoas e das coisas mais simples da existência.

Sem dúvidas, diz respeito a uma propensão talvez mais velha que a humanidade, já que, como reza o ditado, nem Jesus Cristo foi uma unanimidade! De fato, a sua crucificação foi o comprobatório óbvio desta afirmação. Bem provável que muitos, na época, devam ter-lhe criticado o modo de ser, alegando pretextos talvez que os mais fúteis: o modo de se vestir, falar, ou como usava os seus cabelos, à moda nazarena. Também o nosso saudoso Chico Xavier foi cruelmente criticado por tais detalhes fúteis, ligados aos poucos detalhes relacionados à sua quase inexistente vaidade humana. Dentre tantos e tantos outros seres humanos exemplares que visitaram o nosso mundo legando-nos o seu rastro indiscutível de luz!

E este tipo de conduta, nos diálogos do dia a dia, ainda e sempre são facilmente identificáveis no hábito lastimável de se pronunciar inadequadamente, e com frequência insuspeitada, o vocábulo "mas"!

- Fulano é muito bom... mas o modo como se posiciona em relação àquele assunto é errado...

- Aquele outro é até simpático... mas não gosto dos seus gostos para a música, ou do seu modo de se vestir...

- Até que a Maria é boazinha... mas a cor do baton que usa... cafonérrimo!...

- Aquele funcionário tem o modo de ser agradável, mas não acho que trabalhe bem...

E vai por aí, ao infinito, a sequência infindável dos mas que nos arrastam cotidianamente àquele modo sutil, mas malicioso, de lançar mais peso ao que, num indivíduo, nos desagrada, - e em função exclusiva de opinião própria, não de verdades definitivas sobre quem quer que seja, que seja dito! - do que às virtudes mais ou menos ostensivas com que as pessoas se distinguem no decorrer de suas vidas!

Então, amigos, já faz bastante tempo que aproveito o aprendizado também para mim, já que, como todos, aliás, apreciaria ser lembrada e considerada mais em função dos meus acertos, ou pelo menos das minhas boas intenções, do que daqueles enganos de conduta comuns a todos, e que a todos ocasionam oportunidades valiosas de aprendizado - e não mais que isso!

Procuro fazer uso deste mas, porém, de maneira mais sábia: ao contrário!

Então, quando posso, e as ocasiões e situações admitem, procuro opinar assim:

- É possível que tenha acontecido em relação àquela pessoa desta forma lamentável... mas também procuro me recordar de que se trata de alguém generoso, em tais ou tais situações; que me apoiou ou incentivou naquelas ou noutras circunstâncias; ou o(a) vi agindo desta ou daquela forma sensível quando tal pessoa se viu necessitada de auxílio...

Tempos atrás, lia um artigo empresarial narrando a iniciativa bem sucedida de determinado empreendedor de sucesso que toca os seus negócios de vento em popa depois de empregar, no convívio com os funcionários, a terapia do elogio, e conseguindo a partir disso, em todos os sentidos, sucesso em todos os aspectos possíveis! Porque trata o trabalhador reconhecendo, enaltecendo, incentivando e valorizando, em primeiro lugar, o seu potencial e qualidades - para, então, sendo o caso, corrigir, sem alarde ou opressão, as suas possíveis limitações!

Já nos dizia Carlos Castañeda, no seu legendário Viagem a Ixtlan, mais ou menos nestes termos: "o que chateia uma pessoa é alguém atrás o tempo todo censurando, corrigindo, dizendo o que é certo e o que é errado!"

Trata-se de lição atemporal, meus amigos, apropriada a qualquer tempo! Porque a qualquer época o ser humano há de ser um só, em sua essência espiritual! E, sobretudo nos tempos turbulentos de desamor nos quais vivemos, faz-se imprescindível o reconhecimento desta deficiência, que nos arrasta às vezes a gastar mais tempo em casa criticando e deprimindo filhos, pais, esposas e familiares com comentários depreciativos, do que com o carinho, o amor, a tolerância de que tanto o mundo de hoje se ressente!

Que tal, então, começarmos a utilizar o bendito mas em relação ao próximo - e começando com aqueles próximos que nos são mais próximos - do modo como gostaríamos todos que fizessem conosco?

Por qual razão haveremos de ser talvez e sempre mais polidos e cordatos com os que nos são absolutamente estranhos, diante dos quais por vezes, em virtude de traquejo social, não ousamos externar nossas opiniões ao seu respeito de maneira frontal, do modo como a intimidade excessiva supostamente nos autoriza a fazer em casa, e justo contra aqueles a quem mais amamos?!

Por que, meus caros? Se todos nós, no fim das contas, possuímos os mesmos telhados de vidro?!...


 

 

 

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 05/08/2012
Reeditado em 05/08/2012
Código do texto: T3814570
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.