PUNK
É interessante quando vivenciamos uma época onde fatos acontecem ao nosso redor e só vamos saber os motivos anos depois. Zuenir Ventura iluminou-me o porquê das pancadas que levei, encostado na parede da Candelária, com o seu excelente livro “1968 – O ano que não acabou”.
Comecei a ler esses autores, quase famosos, que estão na casa dos quarenta anos. Li “Trainspoting”. É difícil não fazer analogia com “1985” de Anthony Burgess ( autor também de “Laranja Mecânica”). Quem leu Trainspoting e 1985, deve concordar comigo.
“1984” de Orwel nos leva a uma sociedade robotizada se tivéssemos levado a sério as teorias de Skinner (o dos pombos). Em “1985” Burgess nos leva a uma sociedade alienada e egoísta, onde ao contrário de 1984, o Estado perde o controle dos cidadãos.
Trainspoting retrata uma parte, cada vez mais crescente da sociedade, que seus valores e controle são ditados por eles mesmos. O egoísmo é a única forma de se viver neste meio. Não existe solidariedade ou sacrifício individual para o bem comum. Existe só a solidariedade do “me dá lá, dá cá”.
Tanto Burgess e Wells (trainspoting) não descreveram uma sociedade hipotética. Eles escreveram nossa realidade.
Ambos autores bebem na cultura punk.
O que é isso de cultura punk? Leiam “Mate-me, por favor”. Como contemporâneo deste movimento, porém sem fazer parte, diria que tirando as exacerbadas elucubrações a respeito do pseudotalento dos retratados, o livro é um tratado de antropologia desta época.
A cultura punk está em qualquer um de nós que tenta tocar um violão sem nenhum conhecimento e insistimos naqueles refrões desencontrados. Não importa se estou desagradando quem está por perto ou não. Que se danem! Faço o que quero.
Este comportamento consegue adeptos e daí, grupos.
Musicalmente o movimento Punk não teve importância. O culto à personalidade é, aproveitando o gancho, o leitimotif para que o individuo alienado, voluntariamente ou não, tenha seus quinze minutos de fama.
A “inteligentzia punk” destaca o talento musical do Stooges ao Sex Pistols, enfatizando Richard Hells e Johnny Rotten.
Não creio que musicalmente, principalmente Hells com suas inúmeras bandas, tenham feito alguma influencia ao já estagnado rock´n´roll da época. Mas as suas atitudes sim. Estas vieram influenciar pra sempre o comportamento das sociedades, praticamente do mundo todo.
Acho que Burgess acerta tanto quanto Irving Wells. Embora um era quase quarenta anos mais velho que o outro.