Ángel Crespo: apontamentos para um estudo - IV

Millon (2012) recupera fragmentos de uma entrevista gravada com Ángel Crespo em companhia de Bedate, no ano de 1988, quando o casal regressa à Barcelona/Espanha. Ángel foi então questionado sobre suas posições acerca do que chamou de messianismo sebastianista de Pessoa e o da Ásia Central; o interesse pelas literaturas românicas; a situação de bilinguismo formada em diversas zonas da Espanha; o profetismo de Dante; o pecado de Ulisses segundo Dante; o interesse pelo Duque de Rivas, um poeta; o conceito de tradução, para ele algo semelhante a

"El intento de incorporar a la literatura de una lengua lo escrito originalmente en otra, y no sólo el intento de que se entienda una obra escrita en una lengua desconocida para el lector”. A importância da tradução seria a de “que, sin ella, si no existiese ni hubiese existido, la literatura sería algo enteramente diferente de lo que es o ha sido en todos los tiempos y en todos los lugares."

João Cabral de Melo Neto desenvolveu um trabalho de muita importância para a divulgação da literatura brasileira em terras espanholas, pobres de conhecimentos sobre os nossos escritores. Além de haver contribuído nesse sentido, Cabral também teve sua obra bastante influenciada pela cultura da Espanha onde, segundo Mateu, 2009, p. 174-175,

"(...) Cabral se instalou pela primeira vez em Barcelona em 1947 e lá permaneceu como vice-cônsul do Brasil até 1950. Foi a primeira etapa na Espanha de uma carreira diplomática que o levou também a morar, entre outros lugares do país, em Madri (1960-62) e Sevilha (1956 e 1962-1966). Cabral voltou a fazer outra longa estadia em Barcelona em 1967, já como cônsul geral.

Esta experiência deixa um rastro palpável na obra do poeta pernambucano, cuja relação com a Espanha impregna diferentes níveis da sua criação. Ao mais visível deles, a eleição temática, devemos a metade dos poemas de Paisagens com figuras (1954-1955), além de livros completos de inspiração espanhola, como Crime na Calle Relator (1985-1987) ou Sevilha Andando (1987-1993), que fecham sua obra poética."

Ángel também traduziu poemas de Carlos Drummond de Andrade e nisto também está o dedo de Cabral de Melo. Houve um momento da obra drummondiana no qual o poeta brasileiro, um entusiasta de Frederico G. Lorca, andou buscando a poesia participativa. Foi assim que, segundo Torroella, 1996, p. 190,

"Passando à década de 60, Cabral provavelmente apresentou a poesia de Drummond ao poeta Ángel Crespo. Na importante revista Poesía española, dirigida por Crespo e Gabino-Alejandro Carriedo entre 1960 e 1963, estampou-se no suplemento ‘Poesía del mundo’, tradução do poeta brasileiro com nota biobibliográfica, e o poema ‘Noticia a Carlos Drummond’ de José Agustín Goytisolo."

REFERÊNCIAS

http://www.cronistesdelregnedevalencia.org/noticies/?p=1561#more-1561

http://www.letras.ufmg.br/poslit/08_publicacoes_pgs/Eixo%20e%20a%20Roda%2014/13-Ricardo-Souza-Carvalho.pdf

http://www.sumarios.org/sites/default/files/pdfs/11549-37964-2-pb.pdf

http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/carlos_drummond_andrade.html