SENHOR BELEZA (“sô beleza”)

Aparenta ser um sexagenário. Tem esposa e um filho que estão sempre com ele. Cabisbaixo, sempre passando pela gente com um sorriso nos lábios, deixando-se levar pela vida simples e sem maiores ambições.

O que nos chama mais a atenção em relação a este cidadão é o fato de mudar de residência, tanto como a gente muda de roupa – diariamente.

É uma figura lendária nesta Muniz Freire, tal como aquele cidadão da cidade de Alegre (ES) – onde se realizam os festivais de músicas por essas bandas e outro do Distrito de Rive (Alegre-ES) – onde se encontra situada a famosa Escola Agrícola (hoje IFES).

O primeiro (da cidade de Alegre), um freqüentador assíduo do hospital alegrense, que, por longos anos a fio, não faltava um dia sequer às visitas ao nosocômio local. Fazia questão de ver diariamente os seus conterrâneos enfermos, com idas e vindas rápidas, cumprimentos e apertos de mãos, não medindo esforços. Marcou época e deixou exemplos para muitos de nós.

O segundo (do distrito), um determinado cidadão (para mim, anônimo) que empreendia uma longa caminhada, a pé, todos os dias, do Distrito de Rive a Alegre e de Alegre ao referido Distrito. Recusava terminantemente “caronas” ou qualquer meio automotivo para continuar sua caminhada. Sabe-se que o espaço que percorria entre esses dois lugares é de, no mínimo, 10 Km.

Lá, na “cidade jardim” (Alegre) podia-se ver, corriqueiramente, aquelas duas figuras anteriormente mencionadas; aqui, em Muniz Freire, o senhor “Beleza”. São mesmo umas figuras “sui gêneris”, considerando os atos que praticavam, ou melhor, nas pernas que movimentavam (ou movimentam), porque não sei se os “amigos Alegrenses” ainda estão vivos!

A única diferença do senhor “Beleza” em relação aos cidadãos alegrenses supramencionados é que, aqueles eram firmes em seus propósitos – um, por freqüentar ou visitar assídua e diuturnamente os leitos dos enfermos no hospital; o outro, por caminhar e caminhar no asfalto, dispensando as caronas e ônibus! Já o senhor “Beleza” (desta Muniz Freire-ES), mantém, por natureza, o despropósito de não se fixar num local de moradia. Vive sempre trocando de ambientes e vizinhanças, não criando limos nem raízes sociais. Leva a vida numa verdadeira maratona de mudanças, sem se importar com a freqüente troca de bastões. Tão logo finca as estacas, com mais brevidade ainda, desinstala-se, para alçar vôo em direção a outros rumos ...

Seu assunto mais freqüente é: “Você não sabe quem tem uma casa prá alugar, não, hein?” E dali, segue tomando providências para procurar outro “canto”, a fim de se alojar! Não sei até quando vai continuar nesta vida de locomoção freqüente, corriqueira e sem planos. Eta “sô beleza”!

Muniz Freire, 03 de setembro de 2010.

Fernandinho do forum