A maior das ilusões

“Contudo, quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçava para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento; não há nenhum proveito no que se faz debaixo do sol”. (Eclesiastes 2. 11).

Qual seria a maior das ilusões? Para o sábio Salomão, o que “se faz debaixo do sol”, ou seja, o resultado do trabalho, segundo o verso acima. Quem sabe seria a própria vida, o período de existência aqui na terra, a maior das ilusões, principalmente quando nos deparamos com a sua efemeridade e as circunstâncias que a envolvem? Certamente que viver é uma arte complexa de ser construída. Não se trata de nenhuma alucinação, mas de um convite à reflexão do que se pode ser experimentado ou vivenciado. Por exemplo: o que poderia ser dito de alguém com 83 anos, condenado pela terceira vez a prisão perpétua? A própria condenação já é uma utopia. E o que dizer dos grandes pensadores da história, nas suas exaustivas meditações na tentativa de descobrir a razão da existência, deixando para a humanidade um legado de controvérsias, quando comparados com aqueles que pouco pensam ou não se preocupam tanto com essas coisas, mas que igualmente vivem? Filósofos, sociólogos, antropólogos, teólogos, psicólogos, pensadores, contestadores, entendidos, metidos, formadores de opinião e tantos mais, de um lado, e o homem simples, comum, com os seus modestos entendimentos, de outro, tantas vezes cercados de profunda sabedoria? E os ricos e poderosos a esbanjarem suas fortunas de forma frívola e irresponsável? É tanto dinheiro que não se sabe mais o que fazer com ele. Conta-se que o filho de um sheik árabe que estudava na Alemanha, escreveu para o pai dizendo que sentia-se envergonhado em chegar à universidade em sua Ferrari de ouro, enquanto os seus colegas chegavam de trem. No dia seguinte o pai lhe comunicou que ele não precisava mais se envergonhar, porquanto tinha depositado em sua conta bancária alguns bilhões de euros e ele podia agora comprar um trem. O que dizer da paz encontrada em uma refeição simples e em um abrigo acolhedor, em contrapartida com o vazio dos palácios? O que dizer da obsessão pelo poder, arrastando consigo a ética, a integridade, de um lado, e de outro um ínfimo poder de simplesmente dizer “não”? O que dizer da ilusão de procurar a partícula que teria ensejado a origem do universo, com a utilização de sofisticados equipamentos a produzirem explosões de átomos, elétrons, neutros, prótons, etc., etc. e a simplicidade da fé que crer que Deus tudo criou? O que dizer do tempo despendido na ganância que afasta os demais, e a prazerosa comunhão de uma reunião de família, a conversar amenidades? O que dizer do alimentar sonhos impossíveis e o desprezar o prazer das pequenas realizações? O que dizer da não valorização dos pequenos instantes que podem ser transformados em grandes momentos? O que dizer dos planos para o futuro quando não se tem a certeza do instante seguinte? O que dizer de se vasculhar o passado sem nenhum objetivo concreto? O que dizer da exacerbada preocupação com a beleza e a estética, de tão pouca durabilidade? O que dizer até mesmo da neurose com o cuidar da saúde diante de uma inesperada doença? O que dizer da procura desenfreada pelos prazeres fortuitos, em seguida transformados em grandes frustrações? O que dizer de uniões que pareciam tão estáveis e duradouras e que de repente se estilhaçam? Castelos de areia desmoronados ao impacto de uma ventania ou da primeira onda. E o que dizer ainda do suicida que não consegue conviver com a ilusão que seria a vida? O poeta, no desfilar da sua sensibilidade e da arte de juntar as palavras, diz na letra de uma canção: “eu não quero e nem peço, para o meu coração, nada além de uma linda ilusão”. Estaria ele certo? Por tudo isso, quem sabe possamos concluir que a vida é a maior das ilusões, que tudo parece realmente um engano.

Não obstante esse labirinto de inquietantes perguntas, a vida é bela e deve ser vivida com toda a intensidade possível, mesmo que consciente da sua fugacidade. Vale a pena acordar todos os dias e ver a beleza do planeta em que vivemos. As estações, o mover dos astros, a beleza das flores, o sorrir da natureza. O mar e o movimento das marés. Vale a pena andar na chuva e sentir a água a escorrer pelo corpo e a levar as mágoas. Vale a pena estender a mão a quem precisa, sem querer nada em troca. Vale a pena amar, abraçar e dialogar com outras pessoas como nós. Valem a pena os sonhos e os projetos, apesar de suas incertezas. Vale a pena a capacidade de aprender, pensar e decidir. A vida proporciona desafios e inúmeras oportunidades. Quer pensemos seja ela a maior das ilusões, ou não. “Cada um de nós compõe a sua própria história e cada ser carrega em si o dom de ser capaz de ser feliz”, nos diz a poesia de uma música, como a dizer-nos que podemos fazer com que a nossa vida não seja uma ilusão, ou que seja ela uma “bela ilusão”.

É em um cenário assim que Jesus Cristo oferece uma nova e diferente vida. E mais: Uma vida eterna, sem as inquietações, dúvidas e ilusões desta. Uma vida para sempre de gozo e paz. Uma vida que aqui, não estaria livre das adversidades e aflições, mas com promessa de sua presença em cada situação. São de Cristo as palavras: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (João 10.10). Quando se refere à vida eterna, ou seja a vida após esta vida, Ele afirma: “Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pai ou filhos por causa do Reino de Deus deixará de receber, na presente era, muitas vezes mais, e na era futura, a vida eterna” (Lucas 18.29 e 30). Tenho dificuldade de entender o porque da maioria dos homens rejeitarem essa excelente e preciosa oferta de Cristo e preferirem continuar vivendo o que seria a ilusão da vida presente. Sem Cristo e sem a certeza de vida eterna, esta vida pode sim, se transformar na maior das ilusões. Por isso o meu apelo: reflitam sobre isso, enquanto há tempo.