A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES - O JUDAÍSMO
A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES - O JUDAÍSMO
*Por Carlos Henrique Mascarenhas Pires
(de Belem - Pará) Esta é a segunda parte de um artigo que escrevo sobre as grandes religiões do mundo; na primeira eu falei sobre o Islã. Não quis escrever sobre as igrejas, mas sim de seus pilares dogmáticos. Em resumo vou tentar discernir de forma clara, um resumo menos contemplativo e mais histórico sobre o Islamismo, o Cristianismo e o Judaísmo; e neste capítulo, com o maior acatamento, que me é peculiar, escreverei de modo popular sobre o Judaísmo, a crença constituída pelos ensinamentos de Abraão!
O termo “Judeu” é parte fundamental daquilo que conhecemos por “Hebreus” ou “Israelitas”.
Ao longo dos tempos muitos povos começaram a crescer e se destacar; alguns permaneceram ativos e outros sucumbiram às mudanças impostas pelas mãos do homem. Alguns povos foram conquistados e algumas culturas desapareceram completamente, mas um povo pequeno e sem qualquer poder, conseguiu atravessar as inúmeras confusões históricas e se fortalecer para chegar até os dias atuais; e assim se faz a história do povo hebreu!
Muitos e até eles próprios, acreditam que a sobrevivência dos hebreus ocorreu porque eles eram, e é, o povo escolhido por Deus. Por trás desta enorme e inabalável crença há um livro sagrado, como a bíblia e como o corão; este livro pelo qual o povo judeu deposita uma completa e fortificada fé se chama “Torá”. Relatos consistentes históricos contam que por volta do ano 1900 antes de Cristo, um filho de um escultor chamado Abraão, fez um pacto com Deus; em troca Deus havia lhe prometido às terras de Canaã, onde hoje ficam: Israel, Faixa de Gaza, Cisjordânia, parte da Jordânia, parte do Líbano e parte da Síria.
Abraão vivia distante destas terras prometidas; naquela época, 1900 anos antes de Jesus Cristo existir, ou cerca de 4000 anos antes de nossa época, o filho do escultor que fez um acordo com Deus vivia onde hoje é o Iraque, na antiga Suméria. Nenhum fato concreto corrobora com a história científica, mas os Judeus acreditam que Abraão era um líder nato e por conta disso, reuniu seu povo e partiram da Suméria para Canaã. Para fazer uma ideia do esforço e da epopeia deste povo, o trajeto percorrido por eles foi de mais de três mil km...
O grande problema não foi a distância, mas o interesse de vários povos nas mesmas terras que os hebreus diziam serem suas por acordo com Deus. As terras de Canaã tinham uma importância mais do que histórica; elas ficavam entre o Egito e a Babilônia; eram férteis; era uma rota comercial importante e quem as tivesse poderia ter também riquezas intermináveis. Egípcios e mesopotâmios já brigavam por tudo que estivesse ao redor de Canaã. Para os hebreus, há quem diga que as riquezas não importavam e sim a simbologia de ser uma terra sagrada!
Voltando um pouco na própria história dos hebreus, Abraão em seu pacto divino, fez seu povo renunciar a todos os outros deuses e os fez acreditar na existência de um único Criador; aquele que sozinho cunhou todas as coisas e todas as pessoas.
Os judeus usa a terminologia de patriarca quando se referem a Abraão; naquela época a figura de um patriarca sempre cominava as leis e a religião de seu rebanho. Na ausência por morte de um patriarca, assumia automaticamente o seu papel o seu filho varão primogênito. Quando Abraão morreu foi seu filho Isaac quem ficou adjudicado a sucedê-lo; depois deste, Jacó, que teve 12 filhos e cada um fundou sua própria tribo, dando origem a famosa ascensão das 12 tribos de Israel; e até hoje, dizem que todos os israelenses naturais são descendentes destes 12 clãs...
Um dos filhos de Jacó, José, dizem que possuía uma dádiva especial de sonhar com o destino das coisas e das pessoas. Em um destas ilusões exóticas, José falou com seus outros irmãos que havia previsto uma cena em que eles o adoravam e faziam tudo que ele pedisse. O sonho de José custou-lhe a liberdade!
Os irmãos de José ficaram irritados; o sonhador foi atirado num poço e depois ele foi vendido como escravo para uma caravana de mercadores que estava de passagem por Canaã em direção ao Egito. Nas terras dos faraós o sonhador foi preso e feito escravo. Mesmo preso José permaneceu disseminando seus sonhos e logo os egípcios ficaram impressionados com a oratória do rapaz. Em pouco tempo José estava confabulando com o Faraó, que contou-lhe um sonho especial e pediu para José interpretá-lo.
Disse o faraó que havia sonhado com sete vacas gordas e muito tempo depois com sete vacas muito magras. José advertiu o faraó que após sete anos de fartura viriam sete anos de miséria no Egito. O faraó acreditou em José; o libertou e em seguida deu-lhe emprego na corte. José ocupou o posto de Vice Rei do Egito. Há quem diga que tudo aconteceu, conforme interpretação de José e que o faraó havia esticado alimentos suficientes para encarar os anos de desventura.
Os 11 irmãos de José entraram em infortúnio intenso e junto com suas famílias, foram até o Egito procurar o irmão. José deu-lhes auxílio, ignorando o passado, mas um novo faraó, recém-empossado na mesma época em que chegaram as tribos de Israel, temia e desprezava os hebreus. Ele escravizou todo o povo das tribos dos filhos de Jacó e todos seus futuros descendentes por quase 200 anos até a chegada histórica de Moisés, que libertou seu povo e os fez vagar por 40 anos no deserto em busca de nova oportunidade de fartura.
Certo dia, cansado de vagar pelo deserto, Moisés subiu no Monte Sinai para receber de Deus os 10 mandamentos; uma espécie de tábua de leis em que todos deveriam seguir. Os hebreus guardavam estas tábuas divinas na Arca da Aliança e sempre as levavam consigo na quase eterna peregrinação pelo deserto.
Uma pausa para reflexão nos mostra que a história do judaísmo sequer começou e vários nomes já surgiram dentro dela: Abraão, Isaac, Jacó, José e Moisés foram apenas os principais dentre tantos outros. A chegada dos 10 mandamentos foi uma forma de se criar regras mais severas para que aquelas pessoas não mais deixassem sua missão por algo banal. Foi o princípio de justiça dentro de uma organização social e religiosa. Sabemos que já existiam leis em tribos mais antigas do que Moisés, mas foi ele quem as deu fama e por conta disso, até hoje, Moisés é considerado como uma espécie de 1º juiz da terra...
Não se sabe exatamente quantos anos os hebreus perambularam pelo deserto transportando as tabulas dos preceitos de Moisés inspirados por Deus, que recebeu o nome de Jeová; mas eles dizem que após muitos anos, retornaram a Canaã que passou a viver dias de glória; e para manter toda esta glórias precisaram escolher a figura de um Rei; este monarca foi escolhido após análise de um sábio, Samuel, que designou que Israel seria governada pelo Rei Saulo, que guerreou contra vários inimigos, vencendo-os todos, menos os filisteus...
Na época de reinado de Saulo, ou Saul, aconteceu a história de um jovem pastor conhecido por Davi, que lutou contra os filisteus e um gigante chamado Golias. O pequeno hebreu Davi não tinha nenhuma chance contra o gigante Golias, mas sua inteligência golpeou Golias e isso o fez Rei de Canaã e instituiu Jerusalém como capital de seu reino.
Depois de Davi foi à vez de seu filho, Salomão, o construtor do Grande Templo de Jerusalém. Dizem que Salomão queria a paz, mas se viu diante de bravos inimigos que desejavam suas terras e manter seu povo como escravo. Em 922 antes de Cristo Salomão morreu e seu povo entrou em discórdia; dividiram o reino em dois, Judá, ao sul e Israel, ao norte. Estes dois reinos viveram assim por centenas de anos; ambos foram invadidos e seus povos expulsos. Os hebreus voltaram a vagar pela vastidão do deserto em busca de terra e comida...
Humilhados e enfraquecidos, os hebreus divididos e querendo voltar à antiga união, começaram a serem chamados de JUDEUS. Durante um período conhecido como a Primeira Diáspora eles esqueceram antigas desavenças e voltaram à antiga terra para reconstruírem o templo sagrado aniquilado por Nabucodonosor.
Neste período que recebe datação por volta de 539 AC, o povo judeu passou a isolar-se dos outros povos; e inseriu em sua cultura religiosa algo surpreendentemente inacreditável para a época, a união. Nesta época eles escreveram sua história e reescreveram os mandamentos sagrados de sua religiosidade; e tudo isso compôs o livro da Torá. Durante a grande diáspora. Que nada mais é do que dispersão, os judeus queriam viver em paz, mas voltaram a ser quase dizimados; primeiro por Alexandre, o Grande e depois pelos romanos.
Cansados de tantas humilhações os judeus se rebelaram e lutaram contra os romanos por quase dois anos, mas voltaram a ser vencidos. O imperador romano Tito mandou aniquilar o templo de Salomão pela 2ª vez; em seguida mandou atear fogo em toda Jerusalém.
De todas estas batalhas humilhantes os judeus quase acabaram; os poucos sobreviventes se espalharam por todo o mundo. Alguns mais unidos foram para a Europa e no século XV foram mais uma vez expulsos pelos católicos que os consideravam uma ameaça e sempre os julgaram como os provocadores da morte de Jesus Cristo.
Viveram sem pátria por milhares de anos, mas sempre sonhando com a terra prometida. Ficaram espalhados pelo mundo numa época em que não havia comunicação e o único instrumento que os faziam unidos era a sua fé.
Ler a Torá numa Sinagoga (templo judaico), que também é parte integrante da Bíblia cristã, aos sábados, dia mais importante para eles, é um dos rituais sagrados da religião judaica. Nos casamentos judaicos um vidro é quebrado para simbolizar que a felicidade jamais será completa antes da reconstrução do templo de Salomão. Também no casamento judaico, o rabino, líder religioso atualmente, recita sete bênçãos e as últimas sempre pedem um rápido retorno a terra prometida.
Sabemos que inúmeros povos sumiram ao longo da história e isso quase ocorreu com os judeus, mas sua incrível fé em Deus e sua inquestionável força para superar problemas graves, como suas constantes perseguições sempre os mantiveram unidos, mesmo a distância.
Estudar a história dos judeus é como viver a parte mais interessante de nossa própria história, pois atualmente, nenhum outro povo que exista foi tão perseguido por diferentes razões; nenhuma delas concretamente compreendida pela razão. De faraós a cruzados, de cristãos a Hitler, todos em diferentes épocas e por diferentes razões tentaram dizimar este povo religioso que tem fama de somítico...
Os judeus tradicionais falam hoje a língua judaica, ou língua sagrada. Muito mais do que uma religião, ser judeu é pertencer a um estilo de vida; e se não bastasse a notável perseverança, eles precisaram ser mais uma vez perseguidos e mortos covardemente para finalmente voltarem pra casa, à terra prometida. Ao final da segunda grande guerra, por terem sido devastados por Hitler, receberam as terras de Israel como recompensa, mas até hoje vivem em conflito com a Palestina e outras nações fundamentalistas que desejam expulsá-los de lá...!
Desde Abraão até hoje, percorrendo quatro mil anos de história milhões de judeus escreveram a história de uma religião com baldes de sangue e com toneladas de razões falidas.
Acredita-se que haja hoje cerca de 15 milhões de judeus, a menor das três religiões monoteístas e a mais antiga delas, a maior parte destes judeus estão em Israel e nos Estados Unidos da América.
No próximo capítulo nos encontraremos para conhecermos melhor o CRISTIANISMO. Até lá!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires é jurista e autor do Blog Crônicas do Imperador – www.irregular.com.br