A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES - O ISLÃ

A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES - O ISLÃ

*Por Carlos Henrique Mascarenhas Pires

Discorrer sobre as religiões, no meu caso, em nada tem a ver com a minha fé. O tema que é polêmico para muitos, para mim é um cerimonial pessoal de circunspecção e ciência; algo tão inseparável em minha vida, que elevo o tema a mais superiora altivez, da mais límpida história.

Eu que nasci em família clássica católica apostólica romana, aprendi desde muito cedo que primeiro o indivíduo precisa avaliar melhor, antes de sair asseverando que concerne a esta ou a aquela religião, pois a maioria apenas expõe, mas nada compreende sobre o que sua boca prognostica. Aquele que profetiza sem qualquer informação, excepcionalmente é um inábil; e destes tantos, sobretudo os fanáticos, tenho receio e quero distância!

Esta é a primeira parte de um artigo que escrevo sobre as grandes religiões do mundo. Não quis escrever sobre as igrejas, mas sim de seus pilares dogmáticos. Em resumo vou tentar discernir de forma clara um resumo menos contemplativo e mais histórico sobre o Islamismo, o Cristianismo e o Judaísmo; e neste capítulo, com o maior acatamento, que me é peculiar, escreverei de modo popular sobre o Islã, a crença constituída pelo Profeta Maomé!

Não podemos começar a falar sobre o Islã sem antes nos remeter a imensidão quase infinita do deserto árabe; um lugar inóspito que viu surgir tribos diversas ao redor dos famosos Oasis. Estas tribos formadas de pastores e os lendários comerciantes; fincaram nestes pontos isolados a distantes um pedaço de suas culturas há milhares de anos. Estes povos antigos e remotos nem sempre eram amistosos; mesmo morando em comunidade, eles não tinha uma crença definida, muito menos um padrão legal a ser seguido. Eram pessoas esquecidas das grandes civilizações. A história destes povos sem fé e sem civilidade durou milhares de anos até a maior idade daquele que os mudaria para sempre, o Profeta Maomé; um iluminado que dizem ter sido analfabeto, que levou algo de muito precioso para todos os povos do deserto, a fé...

Posso afirmar, peremptoriamente, que depois de Maomé, um povo pobre e inábil passou a desfrutar de riquezas inimagináveis. Primeiro pelo desfrute ímpar do convívio constituído, depois pela vastidão absorvida pelo conhecimento.

Não se sabe ao certo a exatidão de datas, mas acredita-se que por volta do ano 500 na cidade de Meca, onde hoje é a Arábia Saudita; uma das muitas cidades espalhadas pelo deserto árabe; havia inúmeras pedras negras espalhadas pela cidade. O povo da cidade passou a adorá-las como totens divinos. Eles acreditavam que estas pedras foram enviadas diretamente do céu por algo milagroso. Milhares de peregrinos souberam destas histórias e passaram a visitar a cidade para também adorar as tais pedras. Este fato tornou Meca um dos centros mais visitados da antiguidade.

Também por volta do ano 570, nascia o garoto Maomé; filho de comerciantes humildes. O pai de Maomé morreu quando ele ainda era criança e o garoto foi criado por um tio. Maomé trabalhou desde cedo como comerciante e pastor. Diz a história que Maomé gostava de se comunicar e desta forma passava horas conversando com as pessoas que iam a Meca adorar as pedras negras. Também nos revela antigos escritos que Maomé gostava das histórias antigas de Abraão e Jesus Cristo, mesmo sem saber ler ou escrever.

Quando Maomé tinha 40 anos, fato também não confirmado, ele teve uma visão do Arcanjo Gabriel após uma meditação no Monte Ira. A própria história islâmica conta que Maomé não sabia bem se era uma visão ou um sonho, mas depois de algum tempo o Arcanjo Gabriel voltou a visitá-lo e o informou que não havia Deus sem Alá e que ele, Maomé era seu profeta.

Naquele encontro o Arcanjo deu a Maomé 6232 versos sagrados e pediu para que o Profeta os difundisse pelo mundo; aqueles versos sagrados seriam a nova base legal de um novo povo, uma espécie de código de conduta para ser seguido rigorosamente por quem acreditasse. Também lhe foi avisado que ao fazer tal difusão, ele salvaria a humanidade do inferno; uma forma de garantir a piedade do único Deus criador de todas as coisas; e desta forma, como Judeus e Cristãos, os árabes também passariam a acreditar num único Deus, basicamente o mesmo Deus...

Maomé começava sua luta árdua para difundir a grandeza de Deus e proibir a adoração daquelas tais pedras negras. Muitos começaram a ouvi-lo e seguir seus ensinamentos. Era crescente o número de seguidores deste novo código, enquanto no santuário das pedras, cada vez menos pessoas iam vê-lo; começava então uma revolta de líderes de Meca que se sentiram ameaçados com as profecias daquele homem comunicador.

Após uma grande revolta os seguidores de Maomé e ele próprio foram perseguidos e ameaçados de morte. Alguns anos depois Maomé e centenas de seus seguidores se refugiaram em Medina, onde viveram muitos anos. O efeito de migração foi tão forte que recebeu nome próprio, Hégira; os islâmicos consideram esta fase histórica como o ano Zero, assim como o nascimento de Jesus para os cristãos; e a fuga do Egito pelos Judeus.

Existem muitas formas de traduzir a palavra Islã, mas a forma mais usual é “submissão à vontade de Deus”. Todos os que se submeteram aos ensinamentos de Maomé passaram a serem chamados de Mulçumanos, que nada mais é do que “crente”. Aqueles versos sagrados oferecidos a Maomé foram agrupados e organizados e recebeu o nome de Alcorão.

Reunidos em sociedade em forte crescimento, os discípulos de Maomé começaram a difundir pelo mundo tudo aquilo que o Profeta lhes dizia. Uma das crenças mais fortes é que há vida após a morte; e do outro lado da vida, somente os verdadeiros seguidores do Islã poderiam desfrutar de um paraíso com fartura de leite, mel e tudo mais que conseguissem desejar, inclusive mulheres.

Logo o Islã tornou-se muito forte e seus seguidores ganharam números cada vez mais multiplicados. Após sete anos sitiado em Medina, Maomé havia recrutado milhares de valentes soldados armados com todos os tipos de aparelhamentos de ponta da época; em 630 o exército do Profeta atacou Meca; e derrotaram seus inimigos, aqueles que cultuavam as pedras negras. Meca, rendida ao exército islâmico, tornou-se a cidade mais importante para a religião; e é assim até os dias atuais!

Em 632 o Profeta de Alá morreu; e sua religião serviu para unir todas as cidades e vilas da Península Arábica; depois disso, eles foram ainda mais organizados e conquistaram da Espanha até a Índia, formando muito além de uma religião, mas um dos impérios mais poderosos da época, o Império Mulçumano!

O mulçumano se reúne em edificações chamada de Mesquitas, como são as igrejas para os Cristãos e as Sinagogas para os Judeus. As mesquitas sempre foram conhecidas por sua imponência arquitetônica; em geral são prédios altos que possuem torres esguias e vistosas. Uma peculiaridade é que independentemente onde é construída, cada mesquita deve estar voltada para Meca, para que seus fiéis possam orar nesta direção todos os dias; é uma forma simbólica e ritualística de preservar o culto a Alá sempre voltado para sua cidade sagrada.

Pelo que se sabe, uma das primeiras mesquitas foi construída em Damasco, hoje capital da Síria. No lugar desta antiga mesquita havia um templo cristão, que foi destruído após a invasão mulçumana, para que erigi-la; e foi este modelo que serviu de molde para todas as outras espalhadas pelo mundo.

Um dos traços mais fortes do povo árabe é o comércio, portanto, depois dos ensinamentos de Maomé, toda cidade deveria ter como centro um bazar e pelo menos uma mesquita. Estes antigos locais eram como uma pequena cidade dentro de outra cidade. As ruas começavam no bazar e sempre terminavam numa periferia, ligando todos os arredores do lugar ao seu centro, onde eram discutidos os temas da política, dos negócios e da religião.

Enquanto isso, no restante do mundo, havia mais expansão do mundo árabe. A África e a Península Ibérica foram praticamente dominadas por este cultura; e eles queriam mais. A Europa era o alvo dos mulçumanos, pois Roma já mostrava sinais claros de declínio de Poder. Em 732, já completamente ameaçada pelo avanço mulçumano, ocorreu a Batalha de Poitiers.

Os árabes lutaram bravamente por seis dias e seis noites sem descanso contra os francos, mas no sétimo dia, como profecia bíblica, os francos tiveram a rendição dos árabes. Mesmo em desvantagem os homens do General Carlos Martelo, neto de Carlos Magno, detiveram o avanço árabe e os venceram, numa guerra que ficou conhecida como a mais sangrenta da época. Este ato de extrema bravura dos francos conferiu a Carlos Magno, neto de Carlos Martelo, o título de Protetor de Roma; título designado pelo Papa. Carlos Magno fortaleceu a Europa e impediu que os mulçumanos dominassem o mundo...

A contribuição mulçumana ao mundo não ficou restrita a uma religião e a guerras de domínios. Eles influenciaram o resto do mundo com sua cultura refinada, sua argúcia jubilosa e sua perspicácia inigualável.

No Império Islâmico quem governava eram os Califas; eles eram os sucessores do Profeta. Abaixo dos Califas estavam os Emires, que governavam grandes territórios. Anos mais tardes estes emires fundaram seus próprios domínios e passaram a serem chamados de Sultões. As lendas envolvendo os antigos sultões até hoje povoam as cabeças daqueles povos do deserto. Relatos afirmam que mesmo poderosos, eles não possuíam vaidades com suas casas, mas no relacionamento amoroso, foram eles que eternizaram a cultura da poligamia. Sabe-se que cada homem mulçumano pode ter até 4 esposas, mas desde que possa prover o sustento igual para todas.

Como homens e mulheres viviam praticamente separados, a ala da casa que ficava as mulheres era chamada de Harém. Ouve-se até hoje relatos de que houve sultões poderosos que possuíam centenas de mulheres em seus haréns privados; e falam também que quanto maior o número de mulheres num harém, maior era o poder daquele sultão.

O momento de maior glória do Império Mulçumano ocorreu entre 750 e 1258, quando os Abássidas, os descendentes diretos de Maomé, transferiram a capital da religião de Meca para Bagdá no Iraque. Foi nesta época em que a religião começou a dar mais espaço para a cultura. Seus seguidores passaram a absorver todo tipo de relação cultural de cada lugar onde eles haviam estado. Desta forma se aperfeiçoaram incrivelmente nas artes plásticas, nas ciências e até na matemática; prova dessa influência e mistura de culturas é que até hoje a Espanha se confunde em estilos; não sabemos ao certo se a Espanha é mais romana ou mais árabe...

Os árabes mulçumanos estudaram tanto outras culturas que partiram para doutrinarem o resto do mundo em algumas áreas. Inspirados pelos grandes filósofos gregos, eles começaram a pesquisar e entender o mundo e suas coisas naturais. Até hoje devemos gratidão a eles pelos avanços em química, física e astronomia; e foram os mulçumanos que desenvolveram a álgebra. Se hoje entendemos que a soma entre cada número resulta em outros números; e que estes se dividem em dezenas, centenas, milhares, etc., foram os árabes os grandes idealizadores destes pilares!

Outra enorme contribuição árabe mulçumana para a cultura mundial é a coleção de livros chamada de Mil e Uma Noites. A maioria de nós, conhecemos algumas destas histórias que são capítulos entrelaçados em outras histórias e outros capítulos. Se você não entendeu, é simples: a coleção Mil e Uma Noites, onde estão as histórias de Aladim, de Simbá, de Alibabá e do Gênio da Lâmpada, nada mais é do que uma história dentro da outra história que promete não ter fim. Estas histórias retratam lendas dos países influenciados pelo Islã na época; até a China entrou nesta série e não foi por acaso; os árabes chegaram a China e também tiveram seu declínio maior por causa dela...

Em 1258 Bagdá foi atacada pelos mongóis sob o comando feroz do neto de Gengis Khan; os mulçumanos sofreram sua mais grave derrota e por causa disso, eles se dividiram. Quem sobreviveu e tinha força política se uniu a outros e destas uniões surgiram mais dois grupos de mulçumanos; os Fatímidas do Norte da África e os Turcos Otomanos no Oriente Médio.

Os reinos islâmicos existiram beirando a Europa até 1492 no auge da corrida marítima por novas terras, mesmo ano que Colombo chegou a América; mas os reis católicos expulsaram os mulçumanos da Europa; e de lá para cá muito ainda se observa da influência islâmica, mas tudo hoje restrito a uma religião que somente perde em número para os cristãos, mesmo assim com certa controvérsia, pois todos que se declaram mulçumanos de fato os são, já os cristãos, a maioria somente se rotula como tal, mas não pratica, muito menos o conhece...

Maomé dizia que a “Fé move montanhas”; e se analisarmos friamente, isso é uma grande verdade. A fé mulçumana uniu antagônicos indivíduos; fez fortunas, desenvolveu a ciência e entusiasmou o resto do mundo com sua delicada cultura e o charme de seus rituais.

Até hoje milhões de seguidores rezam 5 vezes por dia voltados para Meca e fazem uma peregrinação a cidade, pelo menos uma vez quando em vida. Isso é a prova cabal que a pira ardente de sua fé não desapareceu; e creio que jamais desaparecerá.

Enquanto os mulçumanos estavam a pleno vapor, criando novas tendências para o futuro, o lugar que foi considerado como o Centro do Universo, pelo poder e pela inteligência, a Europa, vivia dias de trevas. As duas grandes religiões pregavam ideais distintos! Enquanto o cristianismo fazia questão de ter seguidores ignorantes e sem nenhum tipo de conhecimento, porque sempre foi mais fácil manobrá-los, o islã pregava o contrário. Os mulçumanos sempre foram dotados de conhecimento; sabiam ler, escrever e tinham discernimento lógico de todos os acontecimentos; por isso é que seus fiéis eram sempre mais fiéis...

Por volta do ano 1000, os Reis e aristocratas europeus queriam e pregavam que quanto mais ignorante fosse o povo, mais fácil dotá-lo de medo, o medo de tudo que lhe era imposto como pecado. O rigor dos clérigos e mantenedores cristãos findou por fortalecer, mesmo sem querer, a fé islâmica.

Hoje em dia, para quem não o conhece, o islã é visto como algo ligado ao terrorismo; líderes malfeitores espalhados pelo planeta se afirmam islâmicos, mas os grandes entendedores desta fé sempre afirmam que não são estes os reais ensinamentos de Maomé. Aqueles que usam o nome do Profeta para espalhar o medo e o terror não são pessoas dignas, pois se interpretassem piamente os versos do Corão, com certeza estariam fazendo algo contrário.

Mesmo que o Corão pregue em alguns de seus versos a batalha em nome de Deus, nota-se que há menção claramente em atacar quem os ataca; e é isso que fomenta aquilo que hoje conhecemos por terrorismo. Muitos buscam nestes poucos ignorantes a altivez supostamente ferida para promoverem barbáries.

Quando te forem apresentados àqueles que creem nos Nossos versículos, dize-lhes: Que a paz esteja convosco! Vosso Senhor impôs a Si mesmo a clemência, a fim de que aqueles dentre vós que, por ignorância, cometerem uma falta e logo se arrependerem e se encaminharem, venham, a saber, que Ele é Indulgente, Misericordiosíssimo! Alcorão 6.54

Controverso, altercado, querido e execrado; assim é o Islã, da mesma forma que sempre serão todas as grandes religiões!

No próximo capítulo nos encontraremos para conhecermos melhor o JUDAÍSMO. Até lá!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires é jurista e autor do Blog Crônicas do Imperador – www.irregular.com.br

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Enviado por CHaMP Brasil em 07/07/2012
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