PEDAÇO DE ESTRADA VELHA

PEDAÇO DE ESTRADA VELHA

Ainda está lá, para qualquer viandante ver e nela passar!

Não tem mais curvas, nem mais o prolongamento de uma esticada rodovia com o seu normal tamanho, porquanto ter sido mutilada.

Antes era mais expressiva, pois levava a longas distâncias. Agora, em virtude do progresso pelo asfalto que a tange e cobre o solo, não dá mais acesso a destinos vários: é a velha estrada não mais empoeirada... Mas, quantas velhas estradas se vêem neste mundo! Qual delas ? Alguém pergunta. Resposta: é a que se vislumbra à margem de um asfalto (pioneiro dos pequenos parcos avanços progressivos desta diminuta cidade interiorana de Muniz Freire), em direção à vizinha cidade de Alegre.

É a que possui pouca beleza natural, porquanto sobrevive da rudeza de seu estado pouco conservável, mas que se constitui de um legado tranquilo, sob algumas estórias que não foram contadas e nem decantadas em versos ou prosas, não foram musicadas e nem catalogadas nos anais de alguma biblioteca famosa, mas existe este pedaço de estrada velha! Suas histórias são reais! Tão reais que alguém delas se lembra e salta aos olhos, que só olhar para ela ou passar por ela ou senti-la na planta dos pés, já se vê, nos páramos da imaginação, algumas reminiscências etéreas! ...

Vi tudo, senti tudo e pensei em tudo que podia, mas, aturdido, não posso descrever tudo de ilusório e real ao mesmo tempo, que nem sei se é exatamente a imagem que ela imprime no coração de quem sabe perceber ... pois eu sei que não sei! ...

Deleitei-me e me contentei com o que vi, o que me foi suficiente para lembrar o passado infantil, quando muitas ocasiões me prestei a, por ali perambular! ...

A velha árvore, também ali, mas hoje mais velha ainda, com suas folhas a sacolejar-se ao ínfrene vendaval e suas raízes salientes, como se já estivessem arrependidas de sustentarem o caule troncudo há tantos anos! Ali perto, bem perto, cresceram outras, mas que não significam para mim tanto quanto a árvore anciã que há tempos conheci e ora revejo... Acredito que nem mesmo para os pássaros que por ali voejam, também não significam coisa alguma, uma vez que só nela, - a velha árvore, eles se abrigam, só nela, eles fazem seus ninhos, musicando o ambiente com seus chilreios divinais, entretendo-se com a misteriosa coruja que se não arreda dali, nem para sonhar! ...

À margem daquele pequeno pedaço de estrada velha, tem-se um curral que já foi, há decênios, infinitos pontos de referência ou de encontros de quem estava a marcar seus compromissos: “Pra lá do curral do senhor Mileto!”. Após o curral, uma velha casa reformada, sem alpendre tradicional, por não ter altura para isso, mas que já foi abrigo de muitos, sombra de incontáveis peregrinos e frescor a quem se lhe oferecia um copo d água fria! Tem-se mais adiante, além da velha árvore, uma pequena banca-de-leite, em desuso, talvez, mas com o privilégio raro de fazer parte de um panorama, para muitos esquecido, mas para outros, uma relíquia incomum que rutila nos caracteres de um tosco poema! E todos fazem parte de um cantinho entenebrecido, de uma paisagem não colorida e nem cobiçada, mas de incontáveis notoriedades, porque enriquece o coração do poeta, os sentimentos de um saudosista, os olhos de um apaixonado pela natureza! Mesmo que não façam parte de uma rica avenida, mas de um pedaço de estrada velha, é o que importa, para quem vê ali o passado envelhecido, mas não desaparecido, como as pedrinhas que calcavam os pés de quem por ali passasse!

Muniz Freire, 10 de fevereiro de 1.993

Fernandinho do forum

Obs: Este artigo versa sobre o prolongamento da Rua “Joaquim Ribeiro Neto”, (saída para Alegre, no início do asfaltamento, à direita, RUA esta que faz parte do loteamento residencial da Família “Bernardino de Souza”. Por coincidência, no fim desta citada rua, residem os participantes da família FIM -venha conferir.