História de Chapecó: Dos primeiros povoadores à delimitação do território

São diversas as hipóteses relacionadas à origem e ao significado do nome do município. Durante muito tempo, a suposição mais difundida apontava "Chapecó" como sendo vocábulo de origem Kaingang, que significaria "Donde se avista o Caminho da Roça". No entanto, pesquisas recentes tendem a atribuir origem tupi-guarani ao termo, com o significado de "Meu Caminho de Ida". Esta seria uma referência ao antigo Caminho de Tropas que cruzava a região em direção às missões rio-grandenses.

À parte a ocupação do território por povos indígenas - sobretudo kaingangs e em menor proporção guaranis - desde tempos imemoriais, acredita-se que os primeiros exploradores a percorrer o oeste catarinense tenham sido bandeirantes paulistas, ainda no século XVII. Há, entretanto, historiadores que sugerem que a região já teria sido pisada por homens brancos em meados do século XVI. De qualquer forma, pode-se afirmar que o território que atualmente compõe o oeste de Santa Catarina foi pouquíssimo explorado até pelo menos o início do século XIX.

A partir de então, em função de uma frente agro-pastoril vinda do norte, a região passa gradativamente a ser ocupada por criadores de gado. Tal fato está relacionado com a descoberta, por volta de 1839, dos chamados "Campos de Palmas", os quais vinham sendo procurados havia tempo por fazendeiros que já tinham ocupado os campos de Guarapuava. Dessa forma, graças à demanda dos pecuaristas guarapuavanos por novas áreas de pastagem, grandes porções do atual oeste catarinense começaram a ser ocupadas por fazendas de criação.

Com a expansão das atividades pecuárias, surge a ideia de abrir-se uma estrada - ou caminho de tropas - que ligasse os Campos de Palmas à região missioneira do Rio Grande do Sul, a fim de viabilizar uma nova rota de tropeiros no sul do País. A abertura desta estrada - que ficou conhecida como "Caminho das Missões" - deu-se por volta de 1845, e para tanto foi decisiva a atuação do Índio Condá. Cacique kaingang de grande ascendência sobre os índios da região, Condá, que relacionava-se bem com os novos povoadores brancos, concordou em apaziguar os indígenas que habitavam os lugares por onde passaria a futura estrada de tropas.

O "Caminho das Missões", logo após ter sido aberto, passou a receber um grande fluxo de tropeiros. Esta nova rota lhes era vantajosa porque encurtava consideravelmente o trajeto entre o sul do Brasil e as feiras de gado de São Paulo. Além disso, passando por ali as tropas escapavam dos tributos devidos à Província de Santa Catarina, caso utilizassem o antigo "Caminho de Viamão", que passava por Lages (até essa época, a região que atualmente faz parte do oeste catarinense pertencia à Província de São Paulo).

O intenso fluxo de tropeiros que passou a existir na região foi responsável pelo aparecimento dos primeiros núcleos de povoamento, que surgiram nos locais de pouso e descanso das tropas. A cidade de Chapecó, de fato, desenvolveu-se a partir de um desses peculiares agrupamentos populacionais. Percebe-se, dessa forma, a importância do tropeirismo para a economia regional na segunda metade do século XIX. Concomitantemente, passou a ser relevante a atividade extrativista de erva-mate na região.

AS QUESTÕES DE LIMITES E A COLÔNIA MILITAR:

O território do oeste catarinense foi motivo de diversas disputas por sua posse. Primeiramente, entre Espanha e Portugal. Depois, tornou-se questão de litígio entre Argentina e Brasil. Foi por isso que, em 1859, por meio de Decreto Imperial, foi criada a Colônia Militar de Chapecó, a fim de assegurar a soberania brasileira sobre a região. A Colônia, entretanto, só foi instalada de fato mais de vinte anos depois, em 1882. Apesar do nome, localizava-se em área atualmente pertencente ao município de Xanxerê, e era comandada por José Bernardino Bormann, futuro Marechal do Exército Brasileiro. A ele cabia a função de organizar a Colônia Militar, além de conceder títulos de propriedade a colonos que se instalassem nos arredores da mesma.

Tais iniciativas foram importantes para assegurar a posse brasileira da região, que ocorreria de forma definitiva apenas em 1895. Neste ano, por meio de um processo de Arbitragem Internacional, que teve como árbitro o então presidente norte-americano Grover Cleveland, a questão foi decidida favoravelmente ao Brasil.

Surgia, porém, uma nova disputa, agora de caráter interno, entre os Estados do Paraná e de Santa Catarina: A questão do Contestado. Esta só viria ser revolvida com o fim do conflito - Guerra do Contestado -, que deflagrou-se na região entre 1912 e 1916. Assim, em 1917, o Estado de Santa Catarina cria quatro novos municípios no território que lhe coube da área anteriormente disputada, a fim de garantir a posse barriga-verde da região. São criados, então, os municípios de Mafra, Porto União, Cruzeiro (atual Joaçaba) e Chapecó. Nessa época, o recém criado município de Chapecó abrangia todo o grande oeste catarinense.

Só então, a partir da delimitação do território e da criação do município, entram em cena as Companhias Colonizadoras - dentre as quais a de Ernesto Bertaso -, que haveriam de promover a colonização sistemática da região por meio do estabelecimento de colonos, em geral de origem italiana e alemã, vindos do Rio Grande do Sul.