Da Alquimia Especulativa e outras Ciências/Artes Místico-Ocultistas-Filosóficas

Assim como a Maçonaria, em seus primórdios, tinha duas visões, uma voltada ao ofício dos construtores e outra especulativa, voltada ao desenvolvimento da consciência através de uma filosofia própria, usando, muitas vezes, metáforas dos processos da primeira visão, a Alquimia antiga pode ser dividida em uma “Alquimia Química”, por falta de definição melhor, que lida com as operações e reações químicas e uma especulativa, que lida com metáforas para o crescimento individual, a nível filosófico e espiritual.

Metáfora é a principal figura de linguagem para o aprendizado, pois leva uma pessoa a perceber um conceito a partir de comparações com conceitos já familiares. Dizer que amor é um fogo, apesar de não demonstrar de forma clara o que é o amor, denota que o mesmo “arde”, traz fortes sensações físicas, que brilha, que aquece e podemos fazer infinitas comparações aqui, escrevendo textos e mais textos sobre esta simples metáfora. Quem pode definir algo tão abstrato, como o amor, sem recorrer a metáforas?! Claro, alguns podem se confundir e aceitar a afirmação de forma literal, passando a crer que o amor é um fogo aceso no coração. É um risco perfeitamente compreensível e que não deixa de ter suas razões.

A Filosofia e a espiritualidade, devido a seus conceitos abstratos, dificilmente cabem em uma linguagem puramente racional (muitos não concordarão, mas apesar do apelo racional da filosofia, seus conceitos têm raízes no laço entre razão e emoção). Aqui temos uma metáfora perfeita: para chegar a um conhecimento filosófico é necessário volatilizar o que é fixo e para aplicá-lo é necessário fixar o volátil. Jung, um dos maiores estudiosos do assunto no último século, compreendeu de forma sublime a Alquimia em uma visão psicológica e o estudo da Psicologia Analítica é altamente recomendável aos curiosos e estudantes da Arte Alquímica. Todos os textos alquímicos são altamente simbólicos, como o são todos os textos de filosofias ocultistas. O estudo da mitologia e do simbolismo é a base para qualquer vislumbre sobre o significado de obras desta natureza. Não se pode ter a mínima noção de textos Alquímicos sem conhecimentos prévios de mitologia, astrologia, filosofia clássica e bons fundamentos de química inorgânica.

Operações como sublimação, dissolução, cristalização, são utilizadas de forma magnificamente metafórica, assim como reações químicas conhecidas. As correlações entre metais e astros que simbolizam determinadas energias na tradição astrológica, bem como com esferas cabalísticas é perfeita, simbolizando, além das operações físicas e processos psicológicos, os estágios e caminhos percorridos pela consciência em expansão.

O intuito deste texto não é ensinar Alquimia, pois seria muita pretensão de minha parte, um simples estudante curioso. O objetivo do texto é demonstrar o que muitos se esquecem, que é tentar sublimar, abstrair. Metáforas são muito mais belas se não as compreendemos como algo exclusivamente literal, o que, muitas vezes, nem é. Assim como as parábolas, que não passam de formas de metáfora, é necessário transcender a literalidade. Relegar a Alquimia a uma proto-química é como relegar a Maçonaria a um clube de pedreiros; é como relegar o tarot a um jogo de buraco, ou pior, uma ferramenta exclusivamente de previsões duvidosas de alguns; é como relegar a Kaballah a um simples estudo de beabá judeu, a yoga a um simples exercício físico; o sexo a uma simples forma de prazer sensorial; é como relegar o Candomblé e a Umbanda a troca de favores via oferendas e as religiões cristãs e mulçumanas, a simples troca de favores, via oração e regras de conduta.

Com estudo e boa vontade, podemos perceber que abstraindo a teoria dos quatro elementos, encontramos não uma teoria atrasada em relação à teoria atomista, mas uma metáfora a quatro planos de manifestação (físico/terra/naipe de ouros; emocional/água/naipe de taças ou copas; racional e/ou intelectual/ar/naipe de espadas; espiritual/fogo/naipe de paus ou bastões) dentre tantas outras maravilhosas analogias que antigos sábios nos deixaram, em nossa busca por expansão de consciência, em cada uma destas Artes sublimes, através das quais, encontramos o Abstrato que gera e se move no concreto.

Baco Diphues
Enviado por Baco Diphues em 27/06/2012
Código do texto: T3748430