NORDESTE: UM DESTINO INVENTADO.

Por Carlos Sena

 
 
A nação nordestina está cada vez mais acesa. Literalmente acesa nestas festas juninas tão cheias de sentimento. Esse sentimento está presente em tudo que a gente faz, em tudo que a gente vê, em tudo que a gente pensa. 

A gente faz musica de primeira
A gente faz comidas regionais de primeira
 A gente faz invenções de primeira. 


 
Inventar é próprio do ser humano, mas é mil vezes mais próprio dos nordestinos. Talvez sua maior invenção tenha sido mesma a do destino. Nuca vimos se inventar destino, mas nós tivemos que a isto nos submeter, sem subverter valores. A própria seca que dizima a plantação, que levou muitos ao regime escravo ditado pelo sudeste nem sempre maravilha,  nunca conseguiu ceifar. Porque esses destinos não eram do “EU”, mas do “NÓS” – como que a refletir “nós nos destinos” que inventamos para não poder morrer de fome e de sede e de injustiças colonialistas...
A invenção dos destinos de “nós” perpassou pela consciência de nação. Uma nação dentro de outra, mas talvez com maiores traços de nacionalidade. Uma nação que tendo o sol como companhia, a pobreza como dinastia, se reinventa pela audácia da fé, pela ousadia do trabalho, pela liberdade da educação... Por isto hoje o meu nordeste vira lampião e Maria Bonita; vira linho e vira chita; vira cacho e cachaça; vira cheiro e inhaca; vira bolo e bolacha; vira balo e balão, santo e São João... 
Ao som de Luiz Gonzaga, lá fora as fogueiras se esgueiram e se esmeram no difundir nossa invenção. O céu se enche de balão, o chão se enche de pés ralando a terra ao som da sanfona, do harmônico, dos oito baixos. Dos oitenta altos que nossa estima revigora como que dando recado em forma de baião, de xote... Esse é o mote que revigora nossa invenção em forma de gente que o país não mais ignora. Afinal são do nordeste Gilberto Freire, Paulo Freire, Lula, Austregésilo de Athaíde, Graciliano, Raquel de Queiroz, Jorge Amado, Castro Alves, Joaquim Nabuco, Ascenso Ferreira, Augusto dos Anjos, Erundina, Maria da Penha, Chico Anísio, Joaquim Nabuco, Joaquim Cardoso, Josué de Castro, Capiba, Pedro de Lara, Chacrinha, Frei Damião, Padre Cícero, Carlos Sena, Fernando Louzada, Pedro Eymard, Marllon Nascimento, Vicente Zirpoli, Lourdes Sena, Alex Santana, Dona Biu, Zefinha, Severos, Severinos e Severianos...
Hoje tem festa no nordeste inteiro. Tem quadrilha sem Brasília. Tem mantos de chita, tem mantilha. Tem cachos sem “cachoeiras”, tem brincos e brincadeiras no derredor da fogueira.


Porque nossa nação foi inventada 
sol a pino,
com o choro da criança
com o sorriso do menino.
Com o pau e com arara,
Sem pau-de-arara, mas, vergonha na cara...
 
Nação inventada no canto da asa branca
No travo do mandacaru
No brado do norte
No escravo do sul...
Nação sanfônica, antagônica, pecadora e santa...
Sinfonia do SOL maior
Supressão da DÓ que  matou de fome a tantos...