O PAÍS DO SOL NASCENTE
                                              Sérgio Martins Pandolfo*
        Os jornais locais não noticiaram ou, se o fizeram, foi de forma tão parcimoniosa e discreta que nos passou despercebida. Nada muito diferente do verificado na grande imprensa do eixo Rio-São Paulo-Brasília que também escreveu parcamente sobre os primeiros dez anos de independência deste que é o mais jovem país de nosso “rotundo Globo”, o Timor-Leste, seguramente ofuscado por ocorrências de maior cintilância midiática, tais os aspectos da falhada economia europeia, sobreagravada por terremotos na Itália, inundações na China, reunião cimeira da OTAN, retirada das tropas militares do Afeganistão. É pena, pois com isso o povo brasileiro fica a não conhecer parte da história que indiretamente nos toca, por isso que, para nós, reveste-se de especial importância, máxime no que tange às origens e à atualidade desse pequeno grande país.
    Timor-Leste ou Timor Lorosa’e (em tétum, uma das línguas locais faladas no país, “terra do sol nascente”) foi colônia portuguesa de 1512 até 1974, quando se deu a descolonização lusa; logo o país foi invadido pela Indonésia, que durante os 25 anos seguintes promoveu o massacre de um terço da população local. Em 1999, após plebiscito supervisionado pela ONU, foi confirmada a autonomia da região, abrindo caminho para a independência, formalmente declarada no dia 20 de maio de 2002, para a qual os timorenses foram os atores decisivos, pelo estoicismo, determinação, espírito cívico e resistência indormida e indômita, fazendo jus, a pleno, ao nome oficialmente adotado.
    Timor-Leste é uma ilha bem pequena, disposta mormente na Ásia (no extremo leste do continente), mas  também fazendo parte da Oceania, por isso que é uma ilha transcontinental, com população estimada de um milhão e cem mil  habitantes que têm o catolicismo como religião dominante. É o mais novo estado-membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - CPLP, idioma que soberanamente escolheu como língua oficial, junto com o tétum, como forma de expressão para seu povo.
     O país preparou-se condignamente para celebrar, nesse final de semana, o 10º ano de sua independência, com o orgulho de ter restabelecido a paz, após décadas de conflitos, ainda que muito haja a fazer para garantir seu progresso e sair da pobreza endêmica, agravada pela necessidade de reversão do estado de “terra arrasada” deixada por seus vizinhos algozes: ao saírem, as tropas indonésias vandalizaram 99% do novo Estado, pondo fogo no que lá havia, daí o bordão permanente nos lábios do sofrido, mas altivo povo maubere: "Queimado, queimado, mas agora nosso".
     
    O pavilhão timorense vermelho, amarelo e preto tremulou nos prédios públicos de Díli para receber as delegações oficiais, dentre as quais anotavam-se líderes das antigas potências ocupantes: Aníbal Cavaco Silva, presidente de Portugal e Susilo Bambang Yudhoyono, presidente da Indonésia, além de outros como Wang Zhizhen, representando o presidente da China. O Brasil não se fez presente ao ato cívico, o que é deveras lamentável. O novo presidente, o ex-guerrilheiro Taur Matan Ruak, assumiu o cargo pouco antes do início das comemorações solenes; o processo eleitoral será concluído com a realização de eleições legislativas em 7 de julho e  a ONU já programa a saída dos capacetes azuis para o final do ano.
    A exploração de uma grande reserva de petróleo e gás no Mar de Timor confere-lhe lídima esperança de desenvolvimento e é a principal fonte de recursos financeiros do Estado. Costumamos dizer, e já o fizemos algures, que “o Mar de Timor sobrenada um mar de petróleo”, o qual vem sendo explorado por companhias petrolíferas australianas, italianas e indianas. Nossa Petrobras, talvez por menor interesse, lá não está. Afora os hidrocarbonetos, o país possui entre seus recursos uma ainda modesta produção de café de excelente qualidade, cacau, copra, marfim, mármore e sândalo, madeira nobre que foi a principal mercadoria extraída da ex-colônia portuguesa, além do turismo, crescente no país.

Nota: na foto acima vista aérea do pequeno Timor-Leste, vendo-se a Indonésia acima e um pouco à esquerda e parte da Austrália, no canto inferior direito. O território do Timor-Leste é o correspondente apenas à metade direita da ilha do Timor (ao centro), separado
pela linha pontilhada vermelha da porção à esquerda, que pertence também à Indonésia e chama-se Timor Oeste.
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 25/05/2012
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