A maravilhosa tecnologia que emporcalha o mundo
Gases do efeito estufa são como flatos que nossos automóveis descarregam na atmosfera. Proponho a lei: de hoje em diante é proibido automóvel peidar. Que tratem inventar um jeito de jogar esses gases dentro de algum tanque do automóvel e devolver para as companhias que estão lucrando com essa brincadeira. Eles que se virem com os gases que nos obrigam a soltar.
Que direito tem essas bravas máquinas de pegar, livremente, o nosso ar e devolver os seus dejetos? Sim, os seus dejetos gasosos. Poderia eu, se o quisesse defecar em cada esquina como um cavalo? Poderia eu urinar em qualquer árvore como um cachorro? Então porque os fabricantes de motores acham que o podem fazer?
Sempre fizeram, nunca houve regras para o uso industrial do ar. Os alto-fornos das siderúrgicas consomem ar em grande quantidade, os aviões vivem no ar e do ar, americanos gordos e coronariopatas queimam de tudo para manter suas residências aquecidas em climas tropical no inverno e temperado no verão. Mexem com o clima em cada momento e agora, que o clima está, definitivamente alterado, todos se alarmam. Ah, não se esqueçam, o cirurgião geral alerta: fumar faz mal!
Que se dane Bangladesh, lugar baixo que será engolido pela água, que se danem os países baixos, o Tibet poderá ter vista para o mar.
A floresta amazônica vai virar um cerrado, ou um novo deserto do Saara? O sertão vai virar mar? Cumprem-se as previsões marxistas, não pelo poder organizado das classes revolucionárias, mas pela falta de perspectivas da classe dominante, pela sua visão estreita que apenas visa o lucro pelo lucro, suas contradições insolúveis nos conduzem ao desastre.
Como sempre. Homens desempregados pelo automatismo exagerado, uma autêntica carne para o açougue da guerra, o exército de reserva dos carros-bomba e da auto-imolação, e o ambiente terrivelmente ferido pelos carros bomba de dióxido de carbono.
A solução é tecnológica, dizem os burocratas estatais dos mais diversos países, apostando todas as suas fichas no deus tecnologia. É óbvio que sim. Mas quem fará tais pesquisas? Quem as implementará? Que lei os obrigará a isso? A ONU?
Enquanto isso, nós queremos apenas viver as nossas vidinhas. Sonhamos com poesia, todos os dias. Somos o usuário, confiamos nos caminhos do progresso, trabalhamos, pagamos impostos, amamos e nos procriamos, produzimos a nova geração de cidadãos ordeiros e confiantes, como nós, uma nova edição, como dizia Machado de Assis, aumentada, revisada e melhorada de nós mesmos. E para eles reservamos o melhor dos mundos... Só não contávamos com isso: fome, secas, inundações, mudanças climáticas, um mundo em mudança, diminuído, encalacrado e piorado.
Podem filmar os tornados com os seus celulares-maravilha. Será tão corriqueiro que ninguém se interessará.