A realidade é a Verdade? (do cético em mim)

O meu amigo “eu” tem algumas certezas que não ouso ter. Ele me afirma que existe uma mesa, porque ele vê a mesa e a toca, enquanto este eu que vos escreve, apenas nota que parece haver uma mesa. A mesa, da forma que a percebo, não passa de uma construção mental elaborada por meus sentidos e decerto, vejo que as pessoas confiam demais em seus instrumentos de percepção, sejam eles os olhos, microscópios ou telescópios. Porém, o que as pessoas percebem, esquecem, não passam de uma interpretação de seus instrumentos diante de um “algo”.

Se, como descrevo, não há maneira de certificar-se de uma Verdade concreta com instrumentos ditos objetivos, com os subjetivos a situação complica-se exponencialmente. Há beleza? Eis que belos cemitérios geram arrepios gélidos e horror diante de alguns! Há prazer, se para outros o prazer é só uma interpretação distorcida de uma dor, como ocorre no coito? Tão relativos são todos os sentidos, sentimentos e interpretações que não há de ter tantas verdades para um mesmo fato e tão ambíguas, por sinal, ou, haverá só uma, que reúna a todas.

Recuso-me a chamar algo de Verdade, porque, se ela existe, o ar de sua graça é impossível em qualquer forma de manifestação. Se há manifestação, há relações e consequentemente, interpretação. Quando esta palavra surge, interpretação, as possibilidades são infinitas e as certezas se fragmentam em um fractal eterno de dualidades autossustentáveis e intercambiáveis.

Diante da palavra Verdade só permanece a palavra silêncio. A ninguém cabe a Verdade, exceto a sua verdade, interpretação de sua interação com o “algo” que pode ser Verdade, ou apenas projeção de si mesmo. Sim, pois como projetamos! Projetamos o par romântico ideal na pessoa que acabamos de conhecer, projetamos nosso conceito de mãe nas mães e nosso conceito de médico em um médico. Esquecemos que eles são o que são e passamos a percebê-los como acreditamos que são. Até que ponto alguém pode conhecer o outro de verdade? O outro não é, para nós, o que é, mas o que nossa mente interpretou dele e isso é válido para tudo, a meu ver.

Espinosa chamou o “algo” de substância, os cientistas de matéria e energia, que são intercambiáveis, e os místicos e religiosos de Deus, deuses e suas criações. Como relatei, parece que, quando há manifestação há um fractal de possíveis Verdades. Diante da Verdade, para eximi-la das variações da interpretação e fazê-la una e não muitas Verdades opostas, só pode haver silêncio. A interpretação tem que ser banida totalmente. Ninguém chega a este ponto. Claro, esta é só a minha interpretação da Verdade e me contento com ela, me negando a afirmar qualquer coisa, sem deixar, contudo, meu parecer, que é só a minha verdade, totalmente particular, como é o universo interpretado por meu cérebro ilusionista.

Baco Diphues
Enviado por Baco Diphues em 14/05/2012
Reeditado em 19/05/2012
Código do texto: T3667371