Uma Nova Civilização
Na Hora dos Assassinos – um estudo sobre Rimbaud escrito por Henry Miller -, o autor evoca o protesto do poeta francês na juventude: “Tudo o que nos ensinam é falso”. E acrescenta que a nossa missão na Terra “consiste em combater os falsos ensinamentos em nome da manifestação da verdade que trazemos em nós.Mesmo sozinhos, somos capazes de conseguir milagres. Mas o grande milagre é unir todos os homens por meio da compreensão”.
O autor publicou o ensaio em 1955 como um grito de revolta contra a crise moral do século 19 seguida da crise espiritual do século 20, a hora dos assassinos, quando “a política transformou-se em negócio de ganguesteres”.
O leitor não sabe ao certo quando Henry Miller está a falar ou quando é veículo das idéias, protestos e angustias do poeta francês.
Para eles, o homem não começou a pensar; vive à sombra de si mesmo e de idéias negras, pensamentos monstruosos, a reeditar os grandes desastres que são as guerras, sem se dar conta de que a modernidade exige o desmonte das quimeras e dos dogmas.
“Temos que produzir luz, e não iluminação artificial”.
“Se um único átomo contém tanta energia, o que dizer do homem, que contém universos de átomos? Se é a energia que ele idolatra, por que não a procura em si mesmo?”, protestou o indignado americano.
É possível que o século 21 seja o das iluminações; que os âmbitos escuros dos universos individuais sejam desvelados, iluminados; que o ser humano deixe de ser inimigo de si, de seus irmãos, da Natureza e do Deus único. E que os dois poetas, e tantos outros seres humanos que nos precederam e que continuam entre nós por seus escritos, sonhos e esperanças, possam ver o despertar de uma nova civilização, a dos homens que entenderam que há mudanças radicais a serem feitas na Terra para salvar o planeta, começando por mudarmos a nós mesmos. Todas as crises humanas que temos presenciado, as políticas, ecológicas, econômicas, sociais, têm suas raízes numa grande crise espiritual gerada por fanatismos e fundamentalismos.
A Verdade está dentro do ser humano. Tudo o que o afaste de si e dos semelhantes é uma grande mentira, uma grande impostura. Tudo o que promova a compreensão e a união dos seres humanos através de suas mentes e de sensibilidades colaborará para a construção de uma nova civilização.
Nagib Anderáos Neto