Vida Real

Não entendo por que as pessoas ficam tão espantadas ao conhecer a história da relação entre Seringueiros e Coronéis no século passado, como mostrado na minissérie AMAZÔNIA da rede Globo de televisão. Será tão absurdo que o Coronel tenha uma porcentagem em toda borracha que, com muito esforço, os trabalhadores retiram das grandiosas seringueiras? Será tão absurdo que os preços dos produtos do mercado da fazenda sejam altíssimos, em virtude da parte que o coronel tem direito sobre todas as vendas? Será tão absurdo que os Seringueiros não possam sair dos arredores da fazenda por medo de represálias do Coronel?

Ao meu ver, essas e muitas outras coisas são perfeitamente normais. Nos dias atuais, ainda vejo meu país dividido em “Seringueiros” e “Coronéis”, onde todo e qualquer esforço feito para produzir a “borracha” que move o país, deve ter uma porcentagem para os “Coronéis”, chamamos isso de IRF, INSS, IPTU, IPVA, etc. Também temos grandes mercados onde se comercializa os produtos essenciais para a sobrevivência dos “Seringueiros”, e para que esse comércio possa ser realizado devemos novamente pagar a parte dos “Coronéis”, chamamos isso de ICMS, ISS, CPMF, etc. Os tamanhos das “fazendas” aumentaram um pouco, mas o medo de atravessar as fronteiras continua o mesmo, chamamos isso de Taxa de Câmbio, Taxa de Exportação e Importação, Burocracia, Visto de viagem, etc.

Enfim, a maldade dos “Coronéis” ainda reina, e enquanto eles vivem em condições invejáveis, os “Seringueiros” quase morrem de tanto trabalhar e não conseguem sair da posição submissa. Enquanto eles comem do bom e do melhor, os “Seringueiros” passam fome e suplicam por condições melhores de vida. Enquanto nada pode contra eles, mesmo havendo provas concretas das suas maldades e injustiça, os “Seringueiros” são humilhados e violentados quando cometem qualquer deslize diante da justiça dos “Coronéis”. Mas ainda acredito em homens bons entre os “Coronéis”, que lutam pela liberdade, como o Galvez da minissérie, ou homens humildes que lutam, com força e coragem, pelos ideais dos “Seringueiros”, como o Bastião que, na minissérie, enfrenta o Coronel Firmino. São nessas pessoas que deposito minha fé de um dia vivermos num país mais justo, onde a “borracha” será inteiramente de quem a produz, e não de quem acha que pode tirar proveito desse bem comum.

Sorocaba, 30 de janeiro de 2007

* texto publicado no jornal "Cruzeiro do Sul" da cidade de Sorocaba na edição de 04 de fevereiro de 2007.

João Valio
Enviado por João Valio em 30/01/2007
Reeditado em 04/02/2007
Código do texto: T363699