Lei Barraria Guimarães Rosa nas escolas de MG

Recentemente, o projeto de lei de número 1983/2011, do Deputado Bruno Siqueira (PMDB), quase foi aprovado. O conteúdo restringiria a adoção, pelas escolas públicas ou privadas do estado, de qualquer material didático cujo conteúdo fizesse menção a erotismo, violência ou que “transgredisse” de alguma forma a norma culta (ou padrão) da língua portuguesa.

Considerando as proibições do famigerado dispositivo, ficaria difícil de se encontrar autor para se trabalhar em sala de aula. O pobre do Gregório de Matos, com toda aquela presença de espírito sarcástica, seria o primeiro a dar adeus às escolas. Praticamente toda a turma que escreveu desde a década de 1930 seria enxovalhada, expulsa do Templo da Ignorância.

Guimarães Rosa, certamente um dos três melhores romancistas do país, não pisaria nem no portão dos colégios mineiros, pois inaugurou um estilo próprio em solo nacional, repleto de palavras novas e uma densidade narrativa ímpar, provocada não apenas pela reprodução do dizer caipira mas pela força dramática e filosófica com que suas personagem desfilam nos Grandes Sertões e nas Veredas Sertanejas.

Não acredito que excelentíssimo deputado tenha agido de má-fé. A intenção foi angariar alguns votinhos de parcelas puristas da população que acreditam que escola não é local para se discutir diversidade lingüística, para se discutir sexualidade, para se debater acerca de violência, de pluralidade de culturas e comportamentos.

Um Estado Democrático de Direito que se preze não educa seus cidadãos com uma concepção única de certo e errado, pois reconhece o valor do homem do campo, do rapper, do favelado, do mauricinho, do judeu, do evangélico, do umbandista, do homossexual, etc. Qual de vocês, leitores, não leu na infância o Chico Bento e o Cebolinha. Isto fez com que os senhores escrevessem ou falassem como eles?

Ocultar nossa formação histórica, nossos hábitos e diferenças linguísticas em um ambiente de pluralismo ideológico (como devem ser as escolas) só geraria ainda mais intolerância e preconceito em nossos jovens. Se não fossem um abaixo-assinado virtual e uma forte comoção nas redes sociais, uma lei retrógrada, inquisitorial e totalmente desconhecedora das propostas pedagógicas nacionais seria aprovada e possivelmente estaríamos regando uma geração ainda mais avessa à leitura e desconhecedora de nossos clássicos literários.

Deputado Bruno Siqueira, o senhor por acaso acompanha a luta diária que os nossos desvalorizados e injustiçados professores travam para desempenhar seu ofício? O senhor sabia que agressão a docente já se tornou rotina em algumas escolas brasileiras? O senhor sabia que o desinteresse pelo magistério aumenta a cada dia, fazendo com que tenhamos que improvisar profissionais não especialistas? O senhor sabia que nossa Constituição Federal legitima as diferenças sociais? Se o senhor não pode ajudar, defendendo um salário digno para aqueles que educam os cidadãos que representa, criando melhores condições de trabalho em ambiente escolar, pelo menos não atrapalhe.

Giu Santos
Enviado por Giu Santos em 21/04/2012
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