Cesio 137
Uma Cidade inteira, Goiânia, refém de um simples catador de lixo.
Em setembro de 1987, dois anos após minha mudança pra Goiânia, aconteceu o segundo maior acidente radioativo do mundo, o Césio 137 que colocaria Goiânia no mapa. Todas as atenções se voltaram para o Estado de Goiás, mais precisamente a capital, no centro onde moravam os catadores de lixo que arrombaram um hospital em ruínas, onde fora abandonada uma máquina de exames radiológicos.
Quando isso ocorreu, o Brasil inteiro ficou preocupado que algo mais grave de proporções inimagináveis pudesse ter ocorrido e o terrorismo e o medo tomou conta de todos nós Goianos. A maior gravidade de tudo é que ninguém estava preparado para identificar e assim a saúde das pessoas infectadas ficou num estado critico e ninguém sabia como assisti-los e obviamente a comunidade médica não estava preparada para enfrentar tal situação, embora tivesse conhecimento dos perigos da contaminação que acabara de ocorrer.
Técnicos do Brasil inteiro vieram em nosso socorro e no que tange às vitimas as seqüelas não puderam ser evitadas e assim, as trocas de acusações e apuração de responsabilidades foram se avolumando e a exacerbação tomou conta da política e surgia um impasse grande que seria o de determinar em que local e como teríamos que enterrar o lixo atômico, ou seja, os restos do maldito césio 137.
Várias representadas em nosso escritório naquele tempo, bloquearam mediante telefonemas a remessa de correspondências com o receio de contaminação. Naquele tempo, o fax era uma novidade recente que salvo engano meu, sequer havia ainda chegando em Goiânia, a internet também não era o correio eletrônico que temos hoje, embora já existissem computadores e assim a remessa de pedidos, documentos de constituição de empresas que requeriam credito, fichas de cadastro, tudo isso ficou retido, paralisado por mais de 45 dias, gerando um prejuízo fantástico a nossa comunidade.
É quando a gente pode dizer que o mundo é fantástico e uma cidade inteira pode de repente ser refém de uma atitude de irresponsabilidade em cadeia e finalmente por um ato de um simples catador de lixo, ignorante e afinal um pequeno ladrão que jamais poderia ter invadido um prédio público, colocou uma cidade inteira, uma comunidade naquele tempo de 350 mil habitantes ou pouco mais em total perigo.