O ANOITECER!
Lá no horizonte o sól e põe.É o crepúsculo de sexta-feira.Após um dia
estafante, na labuta diária, tomo meu carro em busca da capital, em busca do grande centro - Porto Alegre - a Faculdade me espera.
Aqui, na cidade dormitório, na Canoas/Niteroi, do operário,do pedreiro
e do muro que divide a cidade; alinham-se num amontoado disforme os
casabres marginais a estrada, mostrando as primeira luzes de vela, de
lampião, elétrica, mas, sempre luz que afasta a noite que chega com a partida do sol, que se deita vermelho no poente para ir iluminar a outra façe do planeta.
A pista de rolamento - rodovia - está coberta por um mar de luzes ,faróis, sinaleiras, pisca-pisca, dos mais variados coloridos; os ônibus, por ser horário de pico, vêm de Porto Alegre, trazendo , já cansados, os dormidores da cidade bairro;a penumbra já mascara os rostos nas janelas dos veículos que correm juntos com destinos,quiça,
diferentes.
Atravesso a ponte.A velha ponte que liga a minha cidade ao colosso
de cimento e ferro, a mui leal e valorosa Porto Alegre.Nas águas do rio Gravatai, os barcos, estagnados sobre a sua fria façe poluida, ali esperam o amanhã para carregar, descarregar, enfim movimentar todo
um complexo de seres e máquinas no espelho do velho rio.
Após vencer o rio, sinto o jugo da grande free-way que cruza sobre a
minha cabeça.O Parque Anchieta, com as suas industrias, os valetões
sujos e amatados à margem da rodovia, onde uma máquina me leva
em busca de cultura, talvez, para, um dia, modificar muito disso.
A CEASA, o depósito de alimentos, verduras, mil seres que se agitam, qual fora ali uma feira oriental. O campo - sim outrora haviam
campos - ao lado das rodovia, onde se podia ver crianças brincando, animais pastando, apesar de tão perto da grande metrópole.Mas já foram destruidos pela evolução, o progresso, sei lá o que mais. Só sei
que lá existem casas, casebres, fábricas, malocas, tudo, mas tudo mesmo, menos o campo.O campo já não existe, não existem mais os pirilampos.Sim, eles pereceram sufocados pela necessidade de uma maquinização do homem.Alguns pirilampos ainda existem, resistem e vagueiam ao redor das lampadas num bailado louco e lhes queimar as asas e acelerar a sua extinção.
Olho em frente, um gaúcho de bronze me recebe:Benvindo seja ao mundo de ferro.Eu sigo andando.A estátua gaudéria, rigida, pasmada, ficou lá ao lado da rodovia,como um guardião da cidade que se está preparando para a noite que chega, trazendo luzes artificiais que vêm substituir as estrelas, os sonhos, mil coisas que só mesmo a noite consegue esconder.Sim esconder até mesmo as estrelas, porque elas não existem neste mar de luminosos, nesta confusão de cores que comercialmente enfeitam a cidade grande.
Avenida Farrapos, lembrança Farroupilha, saudosismo gaúcho que se paradoxisa com a agressividade do trânsito local.Meu ser se projeta num mar de veículos, que lutam por um espaço para alcançar de modo rápido o seus destinos.Os freios se acionam, os carros estancam, a sinaleira.A luz vermelha para tudo...O homem obedece à máquina!!!
Tudo ao redor vai perdendo a vida. As portas se fecham; nas vitrines iluminadas, com as ofertas de trocas, com as proposições de novos e proveitosos negócios, se quedam em silencio os manequins, seres frios
de aparência humana, susbtitutos, na noite, ao homem que já se recolheu em busca do descanso.
A avenida é tragada pela velocidade dos pneus.As casas correm para tráz, trazendo, para mim, o centro da cidade capital.
Mais uma sinaleira me para.O viaduto da Conceição, com suas luzes amarelas, carrega um mundo de carros e gentes para destinos mil.A luz verde ordena a partida; ali está a Estação Rodoviária tal qual um formigueiro.A massa humana se agita, cada qual, em busca de seu destino.Correm, gritam, misturam-se e eu sigo...Ali está o porto, sim eu posso deduzi-lo, mas, já não posso vê-lo, pois mais um muro, tal como na minha Canoas/Niterói, sepára aqui a cidade do Rio Guaiba.Um
muro de proteção ou de sufocação? Bem, mas eu sei que o porto está lá, sei que os navios lá estão, pois posso vizualizar os seus mastros turcos, infleses, gregos; das mais variadas nações num intercambio de
coisas e de vidas.
O velho mercado, ainda tem vida.A noite lhe obriga a cerrar as suas portas, após um dia cheio, quando teve dentro de si uma cidade inteira
e que,agora, finalmente, ele silencia e espera a vinda do amanhã.
Eis, enfim, o centro de Porto Alegre.Quase já não preciso usar dos faróis de meu carro, tal o cabedal de luzes de vários matizes que já iluminam o mundo central, o coração da grande metrópole.
Eu, afinal, me massifico entre o populacho informe do crepusculo já
inexistente e, não vejo mais o vermelhidão do sol anoitecido nas águas tristes e poluidas do velho Guaiba.