VOCÊ CONHECE ALGUM CANALHA?
Há um ditado que diz que uma chave que abre muitos cadeados é uma chave mestra; já um cadeado que pode ser aberto por muitas chaves é uma porcaria!
O canalha habitual pode ser facilmente traduzido como uma pessoal vil, um velhaco ou um tratante; pessoa que deveria ser desprezível ou a escória da sociedade, mas que na mais pura verdade não o é; e o pior: o canalha moderno é venerado, cultuado e apontado sempre como um belo exemplo a ser seguido. Os novos e velhos canalhas permanecem sendo eleitos pela maioria para representá-lo nas mais diferentes instâncias do Poder.
Não há um local específico para a instalação de um canalha; ele pode estar no Planalto, no Congresso, nos Tribunais Superiores, numa delegacia, no gabinete de Governador, num hospital ou em nossas casas; para se identificar o canalha vai depender de um ponto de vista que em regra geral se começa pela ética; uma palavrinha tão comentada, quase nada entendida e raramente praticada!
Atualmente a mídia é a maior caçadora de canalhas; a gente de imprensa descobre aquilo que muitas vezes já sabemos, mas sempre nos mantemos como desentendidos e ignoramos. A bola da vez na mídia brasileira são os gastos graúdos praticados pelos Legislativos nacional e estadual. Os senhores deputados, federais e estaduais, gastam verdadeiras fortunas em uma farra inescrupulosa e indecente; tudo isso com o aval flagrante do códice que deveria coibi-los, a Constituição; constituição esta que são eles próprios que elaboram e a fazem valer!
A chave mestra do Brasil, pelo visto são estas pessoas vis; gente da mais baixa estirpe que recebe do povo, o cadeado ruim, carta branca para procederem como bem entender. O canalha é irresistivelmente sedutor e tal charme ocorre sempre pouco antes das eleições, quando eles prometem tudo e se fazem parecer amáveis, íntegros e prestativos. Os canalhas que vislumbram mamar nas tetas do Poder passam a beijar crianças sujas de periferia, comparecem em festinhas de favelas sempre sorrindo e comendo feijoada na laje e quando lhes dão oportunidade, eles sempre distribuem comida e fazem acontecer alguma pantomima; fazendo da máxima romana de pão e circo, valerem-lhes os votos necessários para a obtenção de dois diplomas; o primeiro é título de eleito e o segundo o de canalha...
Um deputado do Amapá, um dos estados que menos contribuem com a arrecadação federal, se precisar sair de Macapá para uma das 14 cidades (isso mesmo, o Acre tem 15 cidades apenas), ganha de diária de deslocamento R$ 2.600,00. Uma pesquisa da Rede Globo mostrou que o hotel mais caro de Macapá custa R$ 280,00 (preço cheio e sem descontos que os hotéis costumam oferecer); já o prato de comida mais caro deste mesmo hotel, custa R$ 100,00 e dá para alimentar 6 pessoas; mas isso se o deputado tivesse que usar estes serviços na capital, porque no interior é ainda mais barato. É bom também lembrar que o deslocamento deste deputado, seja de carro, barco ou avião, por qualquer cidade, também é custeado de forma oficial e não está inserido na diária que ele recebe.
Temos que fazer esclarecer aos que não sabem que o Governador do Amapá é Camilo Capiberibe, figura mais do que conhecida aliada do PT; outra figura que também tem raízes no Amapá é nosso ex-presidente José Sarney, atual Presidente do Senado que é do Maranhão, mas se elegeu pelo Amapá, apenas para que seus parentes e aliados pudessem ocupar mais cadeiras no Senado. O Presidente do Legislativo do Amapá, deputado Moisés Souza é do PSC e na mesa diretora tem gente do PMDB, DEM, PP, PSDC e PDT. Pelos dados do próprio portal da ALAP só o gabinete do Presidente gastou em janeiro deste ano mais de R$ 45 mil em despesas extras. Sem incluir a folha salarial esta mesma assembleia gastou em fevereiro com a sua estrutura e manutenção R$ 3,6 milhões; os salários somaram em fevereiro R$ 7,5 milhões; e aquelas diárias que iniciam com 2,6 mil para cada deputado que sair de Macapá, somente em fevereiro somou R$ 1 milhão de Reais.
Pelo que pude pesquisar, em média, cada deputado do Amapá gastou de Verba Indenizatória em fevereiro deste ano um valor perto do limite que é de R$ 100 mil; são 24 deputados, por isso, somente de despesas extras eles mandaram para algum ralo algo em torno de R$ 1,2 milhão; neste mesmo Estado tem muitos professores que não ganham o salário mínimo...! Depois de tudo isso, podemos ou não diplomar os políticos amapaenses como canalhas?
Sabemos bem que este tipo de gente é como ratos, proliferam numa velocidade estonteante e contaminam a pobre e medíocre cultura brasileira. Sabemos bem que não é só no Amapá que o político canalha sobrevive diante de todo tipo de impunidade, inclusive com a cegueira completa da justiça e daqueles que a deveriam promovê-la; mas dados geofísicos e sociais do Amapá estão na contramão da história atual brasileira. 5% da população são de analfabetos, mas dados não oficiais dão conta de que este número está aquém da realidade; o PIB per capto mensal oficial é R$ 958,00, mas a população que vive abaixo da linha de miséria, segundo também estudos publicados chega a 37%; pelo menos 37% da população estão inscritos nos programas de ajuda social do Governo Federal como o “Bolsa Família”.
Há uma tabela que classifica os diversos tipos de canalhas como INSENSÍVEL, que são aqueles que querem apenas uma curtição e mesmo agora, ficam de olhos fixos no futuro; há também o PREDADOR, que são os consumistas que imaginam que tudo vai acabar e precisa ser devorado urgente. Tem o canalha DOMINADOR, aquele que esmaga, destrói e sufoca. O NARCISISTA é o tipo charmoso que tenta ser o máximo até que haja o primeiro problema para que ele saia pela tangente. O MEDROSO é o canalha que se entrega logo e tenta se tornar o MENTIROSO. O mentiroso nunca sabe de nada! O canalha DESAPEGADO mantém intransigente o domínio sobre si e jamais arrisca. Para finalizar a lista de canalhas existentes há o ADOLESCENTE, que insiste e não amadurecer e abandonar os maus hábitos e o PERVERSO, que é atencioso no início e nos faz sempre crer que somos imprescindíveis e exclusivos; depois de algum tempo, ele abandona, sempre deixando uma cicatriz visível.
Charles Chaplin disse um dia que “se matamos uma pessoa somos assassinos. Se matamos milhões de homens, celebram-nos como heróis”; e a supor da escrita de Mário Quintana, quando escreveu que “E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando a vidas dos insetos...”; talvez conseguíssemos discernir entre a pessoa de bem e o canalha. De fato e justo que quem mata um deve pagar, muitas vezes por homicídio, mas e aqueles que matam milhões sem ao menos ter que empunhar uma arma?
Somos nós, pobres ingênuos, que ainda acreditamos que estes canalhas vestindo de ternos caros, falando errado e de pouca elegância conseguem impor um padrão adjutório social; e quem de fato pensa que um canalha pode mudar algo, senão sua conta corrente e sua ficha criminal; também acredita que eles, os extraterrestres vem aqui para nos estudar; porque desta raça, a humana, onde uma maioria não pensa; e quem pensa não age, deixando a escória os dominar, com certeza acopla em menor grau do que reles insetos.
Abraham Lincoln também disse algo a respeito dos canalhas; o humanista americano disse um dia que Deus deve amar muito os homens medíocres, porque fez vários deles. O mal que a humanidade costuma suportar e fazê-lo perpetuar através de atos desta gente imunda, com certeza está cada vez mais sobrepondo o bem que é sepultado com alguns poucos e raros bem intencionados.
Uma das lições para nos vermos livres de uma aproximação do canalha é jamais nos aproximar deles, mas e como fazer isso; se insistimos em eleger pessoas sem o menor preparo? Já tentamos eleger médicos sádicos, juristas injustos e palhaços tristes; todos pertencentes a uma única classe, a classe dos canalhas; aqueles que não dão a menor importância pra nada mais que não seja seus ganhos extras, mesmo isso elimine vidas e transforme em calamidade uma miséria tão notória que eles até conseguem enxergar, mas preferem a cegueira da distância.
Possa ser que minha palavra não dê em nada, mas não irei pecar jamais pelo silêncio, porque isso me transformaria num covarde. Também não sou nenhum exemplo a ser seguido, mas não culpo a vida, muito menos meus mestres por isso. Pior do que o covarde é aquele que enxerga e insiste em eleger mais canalhas; e não digam que os homens de bem estão em extinção, porque não podemos justificar o erro com a preguiça da procura.
Meu avô que repousa numa lápide fria e esquecida me dizia: o homem vale o que possui; há os que são ricos e seu peso é em ouro; os canalhas deveriam ser pesados e comparados como lixo; quanto mais há, mais deterioram e contaminam um ambiente. Não podemos nos refutar e esquecer que somos nós, quem produzimos este lixo...
Carlos Henrique Mascarenhas Pires é autor do Blog Crônicas do Imperador – WWW.irregular.com.br