racísmo cultural

O Manuel era branco, mas não gostava de ser reconhecido como alguém que mesmo enfrentando muita dificuldade se tornara um vencedor; não obstante, tinha muito orgulho de estar vencendo uma barreira comum a todos os excluídos, era, sem dúvida, digno de elogio o seu empenho e a sua perseverança para se formar em economia, mesmo trabalhando como vigilante noturno. Todavia, teria mais força seu exemplo se ele além de pobre fosse também negro. No Brasil, só se reconhecem os méritos de quem realmente luta sem nenhuma possibilidade de vitória, e para um homem branco de boa aparência, este feito não tem o mesmo efeito que teria se a situação fosse oposta. Entretanto, é importante ressaltar que, o que mais conta não é a cor da pele, e sim o peso psicológico que a herança genética impõe sobre cada um. Deve-se, portanto, se verificar os dramas vividos por cada indivíduo. Há casos em que há uma crassa diferença, o abismo que separa um ser de outro. Olhe para os negros como um todo, são ou não são herdeiros de escravos que por séculos foram espancados física e emocionalmente; mesmo depois que ganharam a pseudo-liberdade, continuaram à margem da sociedade que os instigavam ao crime, ou ao furto das suas necessidades, ou à busca de sua sobrevivência pelo uso da força, e não pelo domínio do raciocínio; por décadas ou séculos tiveram que forjar do suor do rosto o pão mal dormido. E quando retornaram à sociedade, não foi para servir nas cozinhas dos brancos? Desta vez não como escravos, mas como assalariados, e, em muitos casos apenas pelo sustento material e pelo abrigo, por um teto.

Há, portanto, outro extremo que deve ser considerado. Os brancos que se sentem em muitos casos como uma raça superior pela brancura da pele, não raro se esquecem de que, a maioria deles também tem origem não menos ignóbil que os negros, pela forma que aqui chegaram; brancos que emigraram para cuidar das terras que os escravos não mais quiseram cuidar, criminosos banidos de muitos lugares da Europa, europeus fugindo dos massacres étnicos dos países baixos, em outros casos, italianos em busca de trabalho e fugindo de regimes totalitários, até mesmo judeus que escapavam das atrocidades das perseguições religiosas.

Entretanto, há quem diga que, depois de quinhentos anos de mistura de raça, seja contraproducente discutir quem tem mais direito à uma retratação, à uma análise mais apurada, a um julgamento mais justo. Levanta-se, sobretudo com o advento dos direitos humanos uma bandeira que visa defender apenas os negros do Brasil, com essa conversa de que é preciso dar um tratamento equânime no que tange aos direitos e oportunidades para que todos, independente da cor possam alcançar os mesmos níveis de educação, e com isso, os mesmos benefícios de uma sociedade igualitária. Há, portanto, uma discussão em curso sobre a legitimidade do direito dos negros à cotas nas universidades federais. Uma vez que não havendo como mensurar quem realmente é branco ou negro no Brasil, penso que os seres humanos são indiscutivelmente capazes de realizar quaisquer projetos racionais, sendo negro ou branco, o que importa são os meios que cada um possui, e a meu ver, só há um meio: educação de forma universal para todos e ponto.

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 27/01/2007
Reeditado em 27/01/2007
Código do texto: T360265