O AFETO PRECARIZADO ou a MORTE DO AMOR.
Por Carlos Sena
As relações, como são a essência da vida, têm prazo de validade. Todas têm tempo pra terminar, embora a gente não goste muito dessa certeza. Calma: há relações que são pra vida toda, mas que, como ninguém é eterno, se acaba quando um dos atores morre. Existe, pois, amor eterno e amores que duram até se acabar... O que não dá pra esquecer é que sentimentos, como outras coisas, também se transformam, amores se acabam. Melhor entender assim e partir para relações inteiras ou, quando pela metade, não exigir delas conteúdos inteiros. Por Carlos Sena
Neste domingo é bom pensar na sua relação, inclusive consigo mesmo. Repaginar-se é sempre bom, reler-se é sempre saudável, pois nos proporcionam uma melhor caracterização acerca de qual pessoa (perfil) queremos perto de nós pra dividir a vida. Lá fora está cheio de relações “certinhas”, “bonitinhas”, “bem comportadas”, mas que dentro dos atores que as pratica há só insatisfação. Relação é coisa de dois e tem que ser bom pra ambos, independente de ser relação homo ou hétero, afetiva ou apenas social.
Como hoje é domingo, nem sempre pede cachimbo. Pode pedir um novo olhar sobre as relações meio capengas que estão por ai posando de eficientes e eficazes, quando apenas salvam as aparências, ou se sustentam por conta de filhos ou fatores semelhantes de afeto. Portanto, dentre tantos aspectos que podem caracterizar relações afetivas precárias, citamos:
- Alteração de nome: com o tempo passa-se a se chamar o outro de AMOR, depois de “mor” – vai perdendo o “A” até...
- “BEM” é outro nome que normalmente se chama. Vira lugar comum e “bem” termina não casando com o dia-a-dia, pois quem quer bem não faz bobagem com o “bem”. Se é o “bem” então teria tudo pra não haver traição, nem exploração de serviços domésticos, nem falta de respeito...
- Usar muito o diminutivo de nome é até interessante, mas deixa dúvidas na caracterização do afeto. Carlos pode ser Carlinhos; Maria, Mariinha. José, Jô. Delzuita, Ita, etc., sem maiores problemas desde que seja bom pra pessoa que está tendo seu nome reduzido.
- Acho péssimo chamar alguém por um nome que foi gerado na intimidade da cama. Esse tipo de codinome pode ruir fácil, no mesmo ritmo da relação, inclusive porque diante de alguma pergunta de amigos acerca dele, fica-se numa situação embaraçosa. O certo mesmo é chamar o outro sempre pelo nome de batismo, ou o pelo nome que todos conhecem mesmo não sendo o de batismo.
- No rol dos nomes, acho péssimo e abomino quando vejo alguém chamar o marido ou a mulher de PAI e MÃE. Tem-se a impressão de que a relação já foi pro beleléu há tempos. Se houver um filho no meio, então a bagunça será geral! Melhor uma terapia de casal, pois quando essa forma de chamar o outro se estabelece, não raro os casais tem mais de vinte anos de casados, mas não justifica.
- Andando juntos, alguns casais deixam transparecer a falta de cumplicidade: um vai à frente e o outro atrás. Muitas vezes sentam num restaurante e não trocam sequer uma palavra.
- Nas reuniões de colégio sempre só vai um. O ideal seriam os dois, mas sempre haverá desculpas e quem no geral acaba indo é a mãe.
- Pergunte ao seu pai. Pergunte a sua mãe. Cena comum de relações precarizadas.
- “Isto é coisa de mulher”, diz o pai quando a filha lhe pergunta, por exemplo, acerca da menstruação. “Isto é coisa de homem”, pergunte ao seu pai, diz a mãe no mesmo nível de pergunta...
- Pequenos cuidados começam a minguar: não se espera mais para refeições. Não se guarda mais o pedaço preferido da galinha. Não se lembra do aniversário de casamento. O sexo é só pra cumprir tabela. Não se retornam rápido as ligações de celular. Não sai mais ao barzinho nos finais de semana. Um visita a mãe do outro, mas sem a presença do outro, etc..