BRASIL: O Purgatório é Aqui!
A partir de hoje, o governo brasileiro vai exigir que os espanhóis que queiram visitar o país apresentem um comprovante de que fez reserva em hotel e passagens de ida e volta com data marcada. Além disso, precisará provar que tem recursos suficientes para se manter no Brasil (R$ 170,00 por dia). Essa será a política da reciprocidade, já que desde 2007, os brasileiros são os principais barrados de entrar na Espanha. Mais de dez mil ficaram nos aeroportos, em situações humilhantes, por não atenderem os requisitos parecidos com os que o Ministério das Relações Exteriores cá estabeleceu.
Com a forte crise financeira européia, o índice de desemprego está alto. Cerca de 20% da população espanhola está sem trabalho e alguns deles tentam a sorte nos países em ascensão econômica, nosso caso. Não seria bom receber essa mão-de-obra qualificada? Afinal, o que custa abrigarmos esses “pobres coitados”? Por ventura não é histórica a nossa receptividade a "escória" da Europa?
Verdade, o Brasil Colonial recebeu vários degredados. Para muitos, o motivo do nosso atraso econômico e social. Para cá vieram ladrões, assassinos, tarados, putas, loucos varridos e mais uma porção de lixo humano, dizem. Aí está à causa do nosso “jeitinho brasileiro”, da nossa malandragem tão apontada e censurada mundo afora. Será mesmo? Afinal, degredado é um termo muito amplo. Quais seriam os crimes passíveis de serem punidos com essa pena? Vamos às respostas.
A sociedade portuguesa no século XVI era muito católica e mística. Portugal havia desde o começo deste século instalado o Tribunal do Santo Ofício, a conhecida Inquisição, para firmar as penas do degredo. Com isso, os “criminosos” não eram necessariamente pessoas de má índole ou pessoas que haviam cometidos crimes hediondos. Prova disso é o caso do jovem aspirante ao clero, que em 1632 foi preso e sentenciado a passar três anos na terra Brasilis por ter assoado o nariz com os panos do altar. Nota-se que a inflexibilidade da Igreja era responsável pelo rigor da punição e não propriamente o nível do delito.
No Brasil chegavam os condenados por benzeduras, feitiçarias, adultérios, pequenos furtos, sedução, bigamia e promessas de casamento não cumpridas. Corriqueiro para nós, porém nefandos para eles, naquela época. O degredo (descer um degrau) era uma punição humilhante, uma vez que a pessoa era forçada a abandonar parentes e amigos para viver numa terra estranha. Daí, a imagem do Brasil paradisíaco mudou de vez: Aqui acabou se tornando o purgatório lusitano. E por falar em purgar, os turistas espanhóis vão sofrer nos nossos aeroportos pelos abusos cometidos contra os brasileiros lá. Pelo visto, não há remissão de pecados do lado de baixo do Equador.