DIA DA NACIONALIDADE PORTUGUESA E DE CAMÕES                                        
                          Sérgio Martins Pandolfo*                                    

Camões poeta maior

da lusa língua escultor       
no épico foi prior
da lírica grão-mentor
                      SerPan                                                                                                                                             
        Portugal é um país de pequena extensão territorial e população igualmente diminuta. No entanto, ao longo de sua existência como nação, que já se vai aproximando do primeiro milênio, tem dado ao mundo exemplos extraordinários de qualidade e operosidade de sua gente.
      Cinco séculos passados maravilhou o mundo de então com suas descobertas de além-mar que deram “novos mundos ao Mundo”. Também, há quase o mesmo tempo, vira nascer em seu seio esta que é hoje tida como uma das maiores cerebrações da humanidade, em todos os tempos, Luís Vaz de Camões. A data exata de seu nascimento segue sendo incógnita, conquanto Manuel Faria e Souza, um de seus mais fecundos e percucientes estudiosos precise o ano de 1524. O dia ninguém conhece.
      Dono de uma cultura polimorfa incomensurável dominava todos os idiomas cultos de sua época e o conhecimento que detinha das ciências de então, que brota de sua obra, ainda hoje surpreende e mesmo espanta a quem a lê.
      É fora de toda dúvida ter estudado em Coimbra (em sua afamada Universidade? Não há registros), questão que ele mesmo dirime nos versos de alguns sonetos, como o que inscreve no Cartão-Postal da Cidade: “Doces e claras águas do Mondego” e se confirma, depois, na letra da canção: ”Vão as serenas águas do Mondego descendo...”. O vate-mor viveu sempre “Em perigos e guerras esforçado”, por isso que em sua obra Rhitmas (Rimas), assenta: “Numa mão sempre a pena e noutra a espada”. 
      Foi ele o renovador, enriquecedor e cinzelador da lusa língua, que se pode bem dividir em antes e depois do genial poeta. Escreveu muito, acerca de tudo e sob todas as formas literárias existentes, conquanto tenha sido a poesia sua forma de expressão mais exuberante.
      Do sábio alemão Wilhelm Storck merece a distinção de “filho legítimo do Renascimento e humanista dos mais doutos e distintos do seu tempo” pelos “múltiplos e variadíssimos conhecimentos em história universal, geografia, astronomia, mitologia clássica, literaturas antigas e modernas, poesia culta e popular, tanto da Itália como da Espanha”. Dele disse, também, Schlegel: “Camões vale toda uma literatura”.
        Camões é um poeta essencialmente lírico. Canta o amor, a saudade, a despedida, a frustração amorosa, o desespero da distância, a natureza, a beleza feminina, a contemplação, o apelo às coisas simples da vida. Seus sonetos são primorosas obras de arte e de genialidade.   
      Sua obra lírica é densa, inconfundível, inovadora, só não sendo mais vultosa ainda por lhe terem furtado os manuscritos do Parnaso, coletânea lírica que ultimava para levar ao prelo. Mas é certamente seu opus magnum Os Lusíadas, poesia épica impactante, definitiva, inexcedível, na qual canta “o peito ilustre lusitano” e os percalços da viagem de Vasco da Gama às Índias, abordando todos os fatos e feitos da lusa gente, desde sua origem até o momento da edição do poema. Camões é, para nós, o Príncipe Perpétuo dos Poetas da Língua Portuguesa
      Por isso que Portugal, uma vez mais em feitio singular e de extrema felicidade escolheu o dia de sua morte, 10 de junho, para marcar o Dia da Nacionalidade Portuguesa, o Dia da Raça, que as Comunidades (dir-se-ia melhor Camõesnidades) lusitanas anual e festivamente relembram e, “se para tanto as ajudam o engenho e arte”, “cantando espalharão por toda a parte” “deste rotundo Globo”, visto ter sido, ele próprio, um de “aqueles que por obras valerosas/ se vão da lei da Morte libertando”.
      O poeta viveu pobre e miseravelmente morreu. Seus restos mortais estão no Mosteiro dos Jerônimos, onde repousam os grandes de Portugal, ao lado de Vasco da Gama, da urna (vazia) reservada a D. Sebastião e do outro grande mágico da pena, Fernando Pessoa.
      Temos certeza que, vivo estivesse à altura, o bardo iluminado não deixaria de também cantar e louvar esta outra epopéia da gente lusitana, que este ano (2008) está a completar o bicentenário: a da Transmigração da Família Real e da Corte Portuguesa para sua colônia maior e mais rica, “na quarta parte nova” situada, no outro lado do “mar-oceano”, a fim de “No Brasil, com vencer e castigar/ o pirata Francês, ao mar usado” (Os Lusíadas, X-63).

Na foto acima, busto de Camões em frente ao píer da "Feliz Lusitânia", Belém.
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*Médico e Escritor –SOBRAMES/ABRAMES
 
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 02/04/2012
Reeditado em 03/04/2012
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