Gritos da Alma
Gritos da Alma
Que vida atroz!
Três anos de experiências amargas, vivenciando tristeza, dor, choro abundante, frustração, depressão; problemas de saúde como: infecção urinária, problema intestinal, pressão ora muito alta, ora muito baixa, problemas alérgicos afora a saudade!
Que notícia!
Cinco de Fevereiro de dois mil e nove, 4 horas da tarde. Um telefonema foi portador da triste notícia. Aquele momento teve um sabor eterno. Queria acordar do pesadelo, mas a realidade era crua e angustiante.
Entrei em meu quarto com o coração palpitando e a respiração ofegante, soltei um grito de clamor ao meu Deus. Posso lembrar-me do desespero que se apossou de mim quando recebi aquela notícia. Seria o suficiente para fazer que esta mãe ficasse às portas da loucura, no entanto busquei força em Deus, de joelhos clamei ao Senhor: que a paz de Jesus me envolvesse, protegendo-me com seu amor e conforto.
Que cenário!
Dia 7 de fevereiro de 2009 estava diante do féretro.
Quão misteriosa a cara de um morto. Quanto tempo eu passei junto ao ataúde, imaginando os dias vividos ao seu lado. No entanto, naquele momento a vi de olhos cerrados. Rosto inexpressivo.
Algo prendia os meus olhos abertos aos seus fechados: A certeza trágica de que no-lo roubaram, de que não voltaríamos a vê-los na terra; de que estavam contadas as horas para fitá-los. Logo serão cinza as feições. Realidade dura! A passagem leve do último adeus que não passou pela garganta, mas que ficou no pensamento: A...D...E...U...S.
Muda, contemplando-a, era tão absorvente a dor que quase não chorava, somente olhava, olhava faminta; e ao colocar as mãos sobre o féretro tentava acariciar aquele rosto que embora junto a mim, sentia infinitamente longe e ausente.
Seus olhos não podiam mais ver os meus. Seus ouvidos não podiam ouvir-me. Sua boca não produzia nenhum som. Seu coração não batia. Seus lábios não sorriam, nem jamais me beijariam. E seus braços? Jamais me abraçariam! Quanto custa sentir isso!
A dor era tão profunda que não conseguia pronunciar qualquer palavra. As lágrimas não desceram só os músculos contraídos da face acusavam meu tormento. Enfrentei o mais angustiante terremoto emocional.
Quão dolorosa a morte!
Você tem planos para o futuro, para a semana que vem, para o dia de amanhã, para hoje, e de uma hora para outra acontece! Acabou! Foi embora! Sumiu! Já se foi! Perdemos de vista!
Como assim? E a carreira, os sonhos, as músicas, os CDs que ia gravar; o piano, a casa própria que queria comprar, a aposentadoria, a vida ao lado de um amor verdadeiro.
O dia seguinte.
Acordei com uma sensação de tristeza. A realidade da tragédia começou me invadir completamente e percebi que não foi um pesadelo; afinal desejava com todo meu ser que não fosse verdade, mas, era, e tinha que enfrentá-la.
A idéia de encarar o dia traz uma depressão tão grande que é necessário fazer um enorme esforço para não permanecer na cama.
Minha fé foi duramente provada e sinto que não passei na prova. Perdão Senhor!
Quantos sonhos!
Passou toda vida estudando, trabalhando, fazendo cursos, planejando. De uma hora pra outra tudo isso termina num assalto. Um disparo feito por um delinqüente que queria seu dinheiro conseguido com tanto esforço.
Morrer é triste. Obriga você sair sem se despedir, sem se preparar, sem ter visto sua família. Sem dar seu último beijo, seu último abraço, seu último sorriso. Sem dizer: “te espero lá”!
Você sai sem tomar café, e, talvez sem nem almoçar, caminha por uma rua, e não chega à próxima esquina. Que tragédia! Que transgressão! Que horror!
Nunca havia pensado em me defrontar com uma tragédia tão grande e tão terrível, tão difícil de ser suportada! A sua ausência abriu em meu coração uma ferida que ainda hoje sangra e dói.
Viva lembrança!
Dedicou toda vida ao estudo e trabalho. Amava o que fazia. Adorava a Música e o Teatro. Sua vida era alegre e divertida. Nenhum problema a entristecia nem desanimava. Aproveitou a vida como se soubesse que viveria tão pouco.
Se colocássemos um espelho, diante de sua história, veríamos refletidos ali a arte, a música, o seu modo de ser. Recordo seus momentos alegres e descontraídos.
Partiu, mas permanece viva no meu coração, em minha memória. Foi maravilhoso fazer parte da sua história, como mãe e amiga.
Levou consigo a alegria, o ânimo, um pedaço de mim.
Quanto custa aceitar a dor.