NOTAS DE VIAGEM - 13
Do tempo da minha tenra infância,
recordo este destino de caminhar
pela mão-guia de meu pai.
As pedras da calçada eram irregulares.
Aqui e ali, escorregava ou tropeçava,
e lá ficava eu suspenso da mão-guia,
olhando a queda que não dava...
As pedras da calçada sorriam para mim,
numa cumplicidade de estranha sedução.
Mais do que tentação ou atracção do abismo,
sei-o agora, era a certeza do caminho a percorrer,
independente da minha vontade.
Tal como meus dias são rotações.
Tal como meus anos são translações.
Agora, muitas e muitas translações se cumpriram.
Não tenho mais a mão-guia!
O que faço com meus dias?
O que faço dos meus dias?
O que faço com meus anos?
O que faço dos meus anos?
E tantas quedas tenho dado!
E sempre me levanto, dorido, e vou em frente.
Do despertar no berço ao tumular adormecer,
o destino é caminhar...
E como se aprende o saber caminhar!
24 de Janeiro de 2007.
Viana do Alentejo * Évora * Portugal