EQUÍVOCOS
Pois, há pessoas, que por ignorância umas, por preguiça mental outras, ou simplesmente, por mórbida apatia pelo mundo que as rodeia, vivem e morrem equivocadas.
Para não ficarmos apenas em enunciados, teorias, no dizer por dizer, nada melhor do que justificar as palavras ou dar-lhes vida com exemplos reais para que assim possamos justificar o que dizemos.
Poderia trazer inúmeros exemplos para corroborar o enunciado deste texto, diga-se, sem outras pretensões maiores, para além do reafirmar de que, nunca devemos prejulgar pessoas ou coisas que não conhecemos, pois assim fazendo estaremos inevitavelmente a correr o risco de sermos injustos ou taxados de mal intencionados, ou no mínimo, de ignorantes.
Dou aqui um pequeno, ou grande exemplo, cuja dimensão dependerá do julgamento de cada leitor a partir do momento em que tome conhecimento do mesmo e, consequentemente da respectiva história. Vamos, pois, aos factos. Em tempo recente confrontei-me com funcionário de importante repartição pública, reclamando de algo que a mim tinha deixado de ser creditado. Fi-lo sabedor que não era pelo valor material em causa, mas pelo meu sagrado direito de reclamar o que por direito era de minha pertença, portanto, justa reivindicação. O tal funcionário arvorou-se em defensor de causa pública, proferindo gratuitamente e a desoras a seguinte sentença: “o brasileiro gosta muito de reclamar seus direitos, e se esquece de cumprir com seus deveres”. Retorqui que não era esse o meu caso, pois sempre procurei ter na mesma conta meus deveres e meus direitos desde que me conheço por gente, valores que me foram transmitidos desde o berço.
Examinando o documento que lhe tinha passado às mãos, penso que o dito cujo ficou um tanto sem jeito, quando verificou que minha nacionalidade não era brasileira, quando comecei então a perceber seu latente jacobinismo. - “ A Dilma, proferiu, (referindo-se à nossa presidente), tem que dar o mesmo tratamento a portugueses, e a todos os que pertencem à comunidade europeia, como eles dão aos brasileiros. Para eles, todos os brasileiros que para lá vão ou são ladrões, preguiçosos, homossexuais, e as mulheres prostitutas”. Educadamente rebati que ele estava equivocado, pois os brasileiros de um modo geral no que diz respeito a Portugal, tem tratamento semelhante aos portugueses. Tenho dois filhos em Portugal, um homem e uma mulher e, posso asseverar que nunca sofreram nenhuma espécie de descriminação pelo facto de serem cidadãos brasileiros, e agora também portugueses por força de lei, respondi. - Ora isso por que tem pai português, retrocou. – Mas eles não tem gravado na testa, tal condição.
Por fim confessou que era filho de pai galego. Discorremos um pouco sobre a história de Portugal e Galiza e suas peculiaridades, suas raízes praticamente comuns, enfim... Também me confessou que costuma assistir à RTP Internacional (televisão portuguesa), o que para mim foi uma surpresa, visto sua aparente animosidade, e também uma grata revelação, pois assim, quem sabe, estaria aprendendo um pouco sobre a história de um país que ele não conhece, e de sua gente. Falei-lhe que deveria fazer uma visita a Portugal para ver que as coisas são bem diferentes de seu pensar. Sua resposta - Nem em Portugal, nem na Espanha porei nunca meus pés. Outra surpresa para mim, pois quase sempre as pessoas tem curiosidade de conhecer a terra de seus ancestrais, suas raízes, e assim se conhecendo melhor, terem mais orgulho de si próprios.
Não sei o quanto terá valido meu bate papo com este cidadão, contudo penso que terá valido a pena na medida em que terão sido eliminadas algumas arestas, talvez? Por minha parte desejo que o meu prezado interlocutor tenha ficado menos acrimonio, e de melhor com a vida, pois, no fundo, pareceu-me gente boa ainda que seu cabelo colorido pelo meio, destoasse um pouco, mas isso já são outras conversas.
Eduardo de Almeida Farias