A REAÇÃO DO PÚBLICO VISTA DO PALCO
No teatro tradicional, com muita luz é difícil de ver a reação do público, no máximo só os das cadeiras da frente, mas para o ator que é um fingidor, como dizia um dos meus poetas favoritos, é até melhor não ver, porque isso pode desconcentrar e fazê-lo errar o texto.
Não posso falar pelos outros, somente por mim, como atuo há muitos anos, na verdade mesmo quando crianças, já dava minhas cacetadas no teatrinho da escola, era sempre a escolhida para fazer a oferecida como a mulher do padeiro no Auto da Compadecida. Fazer a platéia rir é emocionante, pois a piada tem um tempo certinho, sintonia perfeita com o pensar do espectador é o tempo dele ouvir, ver, registrar associar com seus registros de memória e entender a sutileza da piada, ai sorrir lindamente, fazendo o elo se formar entre autor, diretor, iluminador e ator, todos sentem-se realizados.
Todas as vezes que atuo evito olhar diretamente uma reação no público, olho para algum ponto no fundo do teatro, ou nas reações em conjunto, mesmo se o bife for para a platéia, agora quando é texto direto, que exige resposta, ai não tem jeito, o remédio é encarar e esperar o que vem de lá, geralmente no teatro infantil, por falar nisso, hoje aconteceu algo muito engraçado, encenamos em nossa creche, a história de João e Maria, pra variar eu fui a bruxa, tudo corria muito direitinho, até eu entrar em cena e me deliciar com as carinhas das criancinhas, olhos vidrados a esperar a próxima ação bem malvada, tinha um aluninho com uns três anos, sentado bem na frente, ele olhava para a bruxa e gemia de medo, o tempo inteiro, mas no final quando a Maria empurra a bruxa para o caldeirão e a pobre fica de penas para o alto gritando a derrota, ele se encheu de coragem pegou os dois chinelos e jogou na pobre da bruxa. Rimos muito daquela reação. Esse nunca vai precisar de psicanalise, afinal soube resolver seu medo direitinho.
Já com os adultos a coisa é diferente, tudo gira em torno do sensual, isso sim os deixam vidrados, o texto pode ser muito cabeça e coisa e tal, mas atenção total só no sensual, nada como a força da libido. Nesse caso Todo Mundo Nu, foi o que de mais atenção pude observar, pois o texto é o tempo inteiro, sensual e muito real, ao mesmo tempo que o público vê corpos nus, e se encanta, ouve verdades que fazem chorar, sorrir e refletir. Na cena da lua de mel, não há contato físico, apenas texto e marcação, o casal fica um ao lado do outro e o marido narra como está sendo sua primeira noite com a bela mulher, nessa hora acontece uma crítica as multinacionais americana, onde ele fala dos lubrificantes, o público fica esperando uma cena mais forte, afinal dois atores nus, em lua de mel, e ao final não acontece nada de pornográfico e ocorre aplausos em cena aberta.
Quando a Praia entra falando chuá... chuá... rodopiando com seu buá nos ombros, a platéia delira, ai vem Joãozinho e pergunta se pode dar uma entradinha? o texto é todo malicioso, mas no decorrer da cena as pessoas param de rir e percebem o quanto o planeta está sendo violentado, e o quanto estamos perdendo de qualidade de vida, é nítida a reação dos olhos da platéia que vai do desejo de ver uma boa putaria para CARAMBA!!! É ISSO MESMO! ESTAMOS ACABANDO COM O NOSSO MEIO AMBIENTE.
Ao final o público que pagou para se deliciar com corpos nus, percebem que aqueles atores loucos, que apenas com seus corpos nus, os fizeram pensar no quanto somos colônia americana, o quanto valorizamos o que vem de lá, o quanto somos idiotas em valorizar uma cultura que caga e anda para a nossa e nos acha a merda do universo. A nudez foi só a forma de atraí-los e obrigá-los a pensar na imbecilidade na docilidade do homem brasileiro.
As vezes estou na platéia assistindo um espetáculo e vejo aquele ator maravilhoso falando olhando pra mim, sorrio com cumplicidade porque sei que ele não me conhece, não está me vendo de verdade, mas seu texto, se for bom, esse chegará na minha mente e me fará pensar, e o teatro existe apenas para isso, nos fazer pensar, EXERCITAR OS MÚSCULOS DO CÉREBRO, como dizia meu querido Bandeira.