Quando falta transparência, sobram boatos

Volta e meio voltamos, nestes artigos, a falar da falta de transparência e/ou da incompetência dos poderes públicos, de se relacionar com a imprensa.

Confesso que não sei porque isso acontece.

Pode ser simplesmente porque o dirigente público ache simplesmente que os jornalistas “são uns chatos”, que vivem bisbilhotando a vida dos outros. Perigo! Quando um servidor público reclama do assédio da imprensa, provavelmente ele tem muito que esconder.

Pode ser também que o fenômeno - que se repete com grande intensidade principalmente em nossa região – ocorra porque os cargos técnicos da área de assessoria de imprensa são entregues a cabos eleitorais incapazes de criar uma metodologia de ação ou de implantar uma política de comunicação minimamente razoável, reduzindo tudo a meros ‘releases’ (informes à imprensa), geralmente carregados de textos puxa-sacos e de loas e boas ao dirigente.

Claro que existem algumas raríssimas exceções. Algumas repartições públicas até se esforçam, colocando profissionais que tentam manter um relacionamento com a imprensa. Na maioria das vezes, entretanto, esses profissionais (normalmente das provenientes da área de Comunicação - Relações Públicas e Jornalismo), esbarram na falta de compreensão de seus dirigentes, que não são administradores e sim agentes políticos.

E os políticos costumam reagir como políticos, ou seja, reagem procurando, em quem elaborou uma eventual critica, motivações pessoais ou partidárias, esquecendo-se do principal: da absoluta necessidade, dentro do regime democrático, de responder as criticas com argumentos sólidos e consistentes visando o esclarecimento da opinião pública.

Se eles pensassem melhor, ou conseguissem enxergar sem os olhos do político, veriam que muitas das criticas que saem na imprensa, poderiam ser poderosos auxiliares das suas administrações, porque. elas apontam quais os erros ou falhas que estão sendo cometidos.

Exceções sempre colocadas à parte, infelizmente o que se constata, entretanto, é que a maioria dos dirigentes públicos prefere ouvir apenas os ‘amigos do Rei’, justamente aqueles possivelmente responsáveis pelas falhas apontadas na mídia.

Por exemplo: porque os órgãos públicos não instituem – como ocorre na Europa e em outros continentes – a figura do ‘ombudsman’, um ouvidor, politicamente isento, que ouviria as reclamações e as apuraria com rigor?

Só essa providencia já seria o suficiente para ‘provar’ que o dirigente público não está querendo esconder nada e que apenas deseja aprimorar o seu trabalho. Mas quem fez isso até agora? O leitor ou a leitora conhece algum órgão público que tenha feito isso?

A conseqüência dessa falta de querer e/ou de competência, é que a falta de transparência abre um espaço enorme para a boataria. Na falta/omissão de resposta objetiva e de informações claras, é natural que campeiem os boatos. “Fulano disse que....” e por aí vai, acabando por tornar a mentira em uma verdade – como diria Goebels – devido à repetição seqüencial. Assim como acontecem com os e-mails, que são repassados muitas vezes sem a devida verificação de veracidade.

Ocorre que os boatos são muito prejudiciais à administração pública, porque muitas vezes denigrem seus ocupantes, outras escamoteiam as realizações e a maioria apenas ‘confunde’ a população.

Para acabar com isso é isso: transparência e competência.

Gosto de repetir que a democracia é o melhor regime existe porque divide o poder entre três pilares básicos - Executivo, Legislativo e Judiciário - e porque permite uma imprensa livre, que tem a função de cobrar desses poderes explicações sobre o que está sendo feito com o dinheiro público.

Para encerrar, vale enfatizar o que já foi dito muitas vezes mas sempre é bom relembrar: os dirigentes públicos nunca ‘são’, todos ‘estão’. Ou seja, ontem eles não estavam em seus cargos e atiravam pedras; agora são vidraças. Mas amanhã voltarão a ser pedras... E o tempo passa muito rápido...

Que os que ocupam esses cargos tenham sempre em mente que a função é absolutamente transitória...

Finalizando: não basta dizer-se democrata. É preciso ser.

Helio Rubens de Arruda e Miranda é coordenador do Polo Sorocaba da Aliança Internacional de Jornalistas e diretor do Instituto Julio Prestes.

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 19/01/2007
Código do texto: T352795