COM A LUZ DOS OLHOS TEUS
Ouvi em determinado ponto de minha existência, não saberei precisar aqui quando ou onde, que a beleza das coisas depende dos olhos de quem vê. Quero hoje fazer um adendo a essa frase. Frase esta que, confesso, acreditei ser verdade irreparável e absoluta por muito tempo. Diria hoje, ao me reencontrar com a superação em nome e idade, que a beleza das coisas depende dos olhos de quem vê ou da alma de quem sente. Atrevo-me a complementar tão nobre pensamento, por descobrir que o coração de uma pessoa que foi privada, por alguma desconhecida razão, do sentido da visão é capaz de enxergar muito além dos olhos meus.
Geovane Frois Lima, 19 anos. Seria, apenas, mais um deficiente visual não fosse a sua história marcada pela arte de superar a dor e surpreender os que o cercam. Reencontrei o garoto no ultimo Natal e o prodígio que encantou me os olhos fez me refletir também sobre a beleza da vida no tom que o seu coração a contempla.
Geovane que nasceu com glaucoma, perdeu a mãe aos quatro, foi privado da companhia do pai por algum tempo e teve que aceitar a presença estranha de madrasta e irmão em menos de três anos; teria todos os motivos para se revoltar e ver o mundo com o cinza que este lhe foi pintado. Porém o verde foi a cor escolhida por ele para colorir seu universo e fazer seu coração nobre acreditar que a “vida é bela apesar dos calos”.
O garoto que cursa hoje o terceiro ano do ensino médio, sonha com a universidade, joga truco, sorri com facilidade extrema, manipula seu laptop com a sutileza de um expert, ainda teria mais uma “carta na manga” para extasiar me a alma. Tateando o papel Geovane falou-me em linguagem poética de um amor que a maioria das pessoas, com almas blindadas, ainda desconhece. O amor livre de condições. Eu que tenho verdadeira “queda” pelas palavras e pela emoção que estas são capazes de despertar em nós. sentia ali, naquele instante, a sensação inexplicável, da escuridão nos olhos meus. De repente descobri-me cega a confessar baixinho, ao talento, que na minha frente se anunciava, que nem na mais inspirada das minhas tardes de outono conseguiria eu ver o mundo com a luz dos olhos teus.