FLERTANDO COM O INIMIGO
                                              Sérgio Pandolfo*
   
      Piratas contemporâneos, do mar-oceano webiano, agem hoje, mutatis mutandis, muito à semelhança do que faziam corsários e bucaneiros (piratas europeus que infestavam mormente o mar do Caribe) dos tempos dos descobrimentos e do comércio transoceânico, quando abordavam naus e caravelas para pilharem tudo que levavam. Abordagem e pilhagem agora se fazem na rede.
      Notícias veiculadas essa semana principalmente pelas rádios e TVs (menos pelos jornais) davam conta de que hackers pertencentes aos grupos AntiSecBRTean e iPirates Group, integrantes dum certo movimento internacional hacker autodenominado Anonymous, atacaram inicialmente os portais do Bradesco e Itaú, após, Banco do Brasil, HSBC, CEF, Santander (os dois últimos pós farfante “aviso prévio”, dando-lhes a oportunidade de reforçar seus serviços de proteção) também os sites da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), das empresas de cartões Redecard e Cielo e outros. Só na sexta-feira foram seis os estabelecimentos bancários solapados. No Reino Unido foi confirmada a captação de diálogo entre o FBI e a Scotland Yard, ratificado por membro do grupo no Brasil. E agora?  
      Isso vem pôr a descalvado a vulnerabilidade dessas instituições, haja vista que os bancos atingidos foram justamente os considerados mais seguros e confiáveis. Imaginem os outros! As instituições atacadas garantem não ter havido dano em nenhuma conta, que houve apenas “congestionamento” das páginas ocasionado por “máquinas” instaladas tão só para sobrecarregar os sites. Quem garante? O gerente. Logo surgirão os prejudicados. O Brasil, segundo se ficou sabendo, é apenas o 17º país em eficiência na proteção de seus sistemas de informática.
    Os hackers já conseguiram penetrar em sistemas considerados de máxima segurança, havidos mesmo como inexpugnáveis, tais o do Pentágono e, mais recentemente, o da diplomacia norte-americana que teve seus arquivos vasculhados e divulgados pelo WikiLeaks, pondo às claras uma série de “telegramas secretos” enviados pelas embaixadas dos Estados Unidos ao governo do Tio Sam sobre embaixadas e embaixadores de vários países, inclusive o nosso.
      Com toda a sinceridade, ficamos pasmado com a credulidade e ingenuidade de nossa gente – “a população é muito acomodada... Irão nos conhecer pelo amor ou pela dor”, disseram os hackers - ao acreditar piamente que uma simples senha vai protegê-la da ciberpirataria, onde há indivíduos de tal forma safos nos meandros dos programas e dispositivos mil do computador - até porque a isso se dedicam obstinadamente e passam dias inteiros a pesquisar meios e modos de prejudicar ou furtar os incautos ciberargonautas - que não há barreiras que lhes paralisem.
     Todos conhecemos alguém que já sofreu ataques desses bandidos virtuais, mas que continuam a crer que isso se deveu apenas a uma falha burocrática – tanto que o banco lhes ressarciu o prejuízo! – e seguem a efetivar transações bancárias de seus PCs e, mais próxima e perigosamente, de seus celulares “de última geração”, incitados pelos bancos que, dessa forma, auferem maiores lucros por prescindirem de pessoal para tais operações. E ainda se vangloriam disso. Vã glória, pois a qualquer momento por esquecimento, furto ou roubo do querido objeto de desejo (iPhone, iPad, iPod e agora os modernosos tablets) lá se vão seus dados todos e, muitas vezes, o dinheiro da conta. A imprensa daqui tem sido, a nosso ver, muito complacente ao divulgar esses fatos e quando o fazem é para colocar panos quentes, repetindo a versão dos bancos. Vimos em telejornal da Rádio e Televisão Portuguesa Internacional - RTPI, com destaque e apreensão, a indagação de se não seria isso um sinal de fragilidade do sistema bancário brasileiro. Vai o alerta em legítimo parauarês: Net banking? Só te digo vai!
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*Médico e escritor – ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 10/02/2012
Reeditado em 11/02/2012
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