“O dia em que Deus me salvou”
Luiz Luna*
Não leia este texto pensando estar diante de um testemunho de quem se fanatizou por algum tipo de religião, tampouco de alguém que está interessado em pregar algum tipo de conversão, filosofia ou, simplesmente, vender uma ideologia de vida. Tenha apenas a pretensão de reflexão e de observar os exemplos que a vida nos oferece, pois quando nos baseamos nas histórias ou estórias que ouvimos/vemos, temos mais chances de alcançar nossos objetivos.
Paulo há muito não sabia mais o que era felicidade plena. Os momentos em que se sentia bem escassearam sobremaneira, mais ainda quando estava no ambiente familiar. Acostumado a desabafar por meio de poemas, certa feita discorreu sobre a solidão diante de uma multidão. Nem o sucesso profissional, bem como a competência que demonstrava em se comunicar com as pessoas, estava sendo suficiente para que o jovem conseguisse manter as coisas no patamar da normalidade. A vida começou a desandar quando Paulo passou a alimentar idéias quase suicidas. Às vezes nem percebemos que nossas atitudes nos colocam sob constante perigo. Tentava se libertar daquela situação, mas os acontecimentos não colaboravam. Como a base para o bem-estar de qualquer ser humano começa na família, seja ela originária ou formada após o casamento, tentava se entender com a esposa, no entanto não alcançava êxito, provavelmente pelo temperamento inquietante que ambos alimentavam, algo comum durante a juventude. Cansado dos destemperos caseiros, resolveu mudar de vida, pondo fim ao matrimônio.
Depois que saiu de casa, resolveu comemorar, principalmente quando chegou a sexta-feira. Saiu cedo do trabalho e por volta das dezoito horas já tinha iniciado os trabalhos alcoólicos. Percorreu os bares mais conhecidos da cidade, sem se preocupar com o equilíbrio ou com as conseqüências que aquela atitude poderia causar. Era madrugada de sábado quando resolveu encerrar a festa e ir descansar, porém, não seguiu os procedimentos pertinentes a quem ingere bebidas alcoólicas e isso quase lhe custou a vida. Após sobrar em uma curva, na beira de um canal, bateu, capotou três vezes e adentrou nas águas enlameadas do córrego, por pouco não morrendo afogado. Quando perdeu o controle do veículo, o único pensamento que lhe veio à mente foi o de que estava morrendo. Quando se deu conta, já havia ingerido certa quantidade de lama e tentava soltar o cinto de segurança. Deus havia salvado sua vida. Provavelmente, Ele tinha uma missão maior para Paulo do que morrer de forma tão trágica. O jovem sentiu isso no momento em que se olhava. Sentia apenas dores em algumas partes do corpo e o sangramento de um pequeno corte. Daquele dia em diante, tudo mudou em sua forma de agir e de pensar... Teve a chance de recomeçar outra vez.
As imagens do acidente nunca abandonaram sua mente, porém, não se martirizou com o episódio, pelo contrário, fez dele um exemplo para, como se diz no linguajar popular, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Como tudo que é feito com trabalho, honestidade e força de vontade não acontece do dia para a noite, Paulo ainda reconstrói sua vida, mas incorporou ao seu dia-a-dia princípios que devem nortear a vida de qualquer pessoa, a exemplo da persistência, paciência consigo e com os semelhantes e, acima de tudo, a humildade de entendermos que somos pequenos diante dos mistérios da vida...
* Jornalista e especialista em gestão de pessoas.