A BAHIA VAI BEM?

Certa vez li um texto do jornalista Gilberto Dimenstein intitulada “Deus e o diabo na terra do Acarajé”, uma alusão pouco inequívoca sobre a vida e trabalho do ex Governador ACM; uma pessoa que tinha lá suas mazelas e sempre estava aprontando das suas, isso é verdade; mas um homem que desde que o conheci, na vida pública, poucas vezes notei haver “duas caras”. Mas ACM é coisa do passado, porque o Governador atual é Jaques Wagner, uma espécie de protótipo de Lula; Wagner é o carioca barbudo que não terminou os estudos, ingressou em movimentos sindicais e virou Governador.

A vida e a história já me pregaram algumas peças; isso por mero escarnecimento de coisas que pregamos e que temos a obrigação de engolir; e é por isso que eu levo ativo o ditado de meu pai: - Quem fala de mais dá bom dia a cavalos!

Eu conheci Wagner no Sindiquímica lá no bairro de Nazaré, nos tempos boêmios da Bahia, quando íamos comer lambreta na Confraria do saudoso Beleza no Campo da Pólvora; na época, o cara, hoje Sua Excelência, era a esquerda em pessoa e quem ditava as regras políticas no Estado era ACM. Greve era a palavra de ordem da turma do Sindiquímica, o sindicato dos petroleiros; qualquer movimento em falso, fosse do governo federal ou estadual, lá estavam os rapazes do PT gritando palavras de ordem e organizando mais um movimento que ameaçava greve. Quem fosse contrário aos amigos petistas era considerado “filhote da ditadura”.

Hoje a história coloca Jaques Wagner do outro lado da mesa e uma greve como a que está acontecendo, ameaça não somente a paz da Bahia, mas a vida política do Governador. Logo ele que tem tanto traquejo com este tipo de amálgama, agora se vê encurralado em seu próprio gabinete.

A Bahia está literalmente entre a cruz e a caldeirinha; as vésperas do carnaval, uma industria que movimenta milhões de Reais no bolso de alguns poucos e tira outra fortuna dos cofres públicos, o Estado da folia acendeu a luz amarela e mantém-se em atenção máxima por causa da cessação coletiva (ou quase isso) dos trabalhos policiais militares. No dia em que tudo começou, 31 de janeiro, eu estava na capital baiana e fui testemunha do que uma ação desta pode causar; a cidade parou e para eu poder chegar ao aeroporto deu muito trabalho, porque nem os taxis estavam circulando...

Os policiais estão paralisados por causa de aumento salarial; um soldado em início de carreira na Bahia ganha hoje R$ 1.612,00, menos de três pisos mínimos, segundo o Jornal Correio da Bahia; já no pequeno Sergipe, também governado pelo PT, um soldado recebe R$ 3.012,00, quase duas vezes mais que seus colegas baianos.

A Polícia Militar é um órgão da Administração Direta do Estado, cuja destinação se encontra definida pela Constituição Federal, Art. 144, § 5º, reforçada na Bahia pela Constituição Estadual, Art. 148, incisos de I a V. A ela compete (ou deveria competir) a execução, com exclusividade, do policiamento ostensivo fardado com vistas à preservação da Ordem Pública. Sua ação é tipicamente preventiva, ou seja, atua no sentido de evitar que ocorra o delito; o problema atual é que a PMBA está fazendo vistas grossas para o delito e em alguns casos, cometendo ela própria o delito flagrante, pois alguns de seus homens invadiram a sede do Legislativo do Estado e sem farda, portam armas e ameaçam a preservação do estado democrático de direito.

De meu humilde ponto de vista, fazer greve faz sentido; promover bagunça, desordem e crimes, não; e é isso que se está sendo observado até agora!

O movimento foi deflagrado exclusivamente por causa do carnaval da Bahia que tem data marcada para a próxima semana; o Brasil inteiro participa da festa e ela já está comprometida por causa da falta de segurança em todo o Estado. Apenas como forma ilustrativa, em seis dias de greve quase 100 pessoas foram assassinadas em Salvador, mais da metade registrada em todo o mês de fevereiro de 2011.

Notícias que tive da Bahia apontam que centenas de bancos foram alvejados por vândalos, pessoas aos montes assaltadas, espancadas e até baleadas em todas as cidades baianas. O Governador Wagner, do PT, solicitou auxílio das Forças Armadas e Força Nacional de Segurança, mas o efetivo que chegou ficou na Capital como forma de mostrar ao Brasil que a situação está sob controle; o que não está!

A tropa de quase 40 mil homens, ao que se acredita, está quase 100% mobilizada para reforçar o movimento grevista; e na atual conjuntura, a velha história de vencer o mais forte, começa a dar sinais claros que o problema será ainda mais grave. Primeiro que se eles desistirem do acampamento na Assembleia Legislativa, dificilmente voltarão às ruas para exercerem seus papeis constitucionais; segundo que o Governador não concederá o aumento exigido e não outorgará por quê não pode pagar.

Por causa do Carnaval eu acredito que Jaques Wagner chegará a no máximo 10% de acréscimo salarial; ele já sinalizou 6,5% e no final sairá um acordo para aumento gradual em alguns meses, ou anos. Previsível mesmo é que nem o Exército poderá ficar muito tempo cuidando da segurança da Bahia, nem os PMs ficarão muito tempo no movimento; saber qual será o final, isso é uma outra história...

A Justiça declarou a greve como ilegal e várias prisões foram legisladas contra os líderes do movimento grevista que estão acampados na ALBA (Assembleia Legislativa da Bahia); o líder mor dos grevistas é o presidente de uma associação de policiais militares ilegítima, segundo fontes do Governo; isso por que, Marcos Prisco, o Presidente, não é policial.

Para garantirem que as Forças Armadas e outras milícias oficiais não invadam o prédio do legislativo, os grevistas levaram suas esposas e até seus filhos para dentro da casa e em tese são estes não grevistas que estão segurando a barra até agora.

A história ainda continuará e pelo meu ponto de vista, por muito mais tempo; a batalha entre a plebe rude e a novíssima aristocracia petista vai virar uma notória queda de braços; de um lado Jaques Wagner e seus lacaios de estrelinhas no peito querendo garantir mais quatro anos de governo; do outro a polícia militar que consegue deixar a Bahia paralítica; no meio deles está Dilma Rousseff, que anseia ver o Brasil nos trilhos.

Quem sairá vencedor eu não sei, ainda; mas quem sairá perdedor, isso todos nós sabemos: o povo da Bahia que insiste em eleger pessoas no calor das emoções ou por indicações espúrias de quem sequer conseguiu qualquer dignidade lógica em seu próprio governo!

Em uma frase de Goëthe tento eu, humilde postulante da sabedoria de almanaque, enfatizar o que ocorre na minha querida Bahia: “O topo derruba-nos, não os degraus que aí conduzem: gostamos de errar na planície, com os olhos fixos no cume. Só uma parte da arte se pode ensinar, o artista tem necessidade de arte total...”.

Se o Governador Wagner acordar de sua abstração vaidosa de domínio, poderá, enfim, dar socorro aos que necessitam e alívio aos que padecem, pois são também estas as suas delegações como líder eleito. O povo da Bahia está enfermo em todos os sentidos, inclusive por falta de doutrinação esclarecida; e por estas veredas estão se multiplicando os crimes e todas as outras dores sociais; e não podemos mais permitir que haja propagação desta onda aziaga, nada surpresa, das usurpações arrogantes!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires é autor do Blog www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 07/02/2012
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