Estação Pinheiros: o “Palace II” paulistano
O Brasil, e inevitavelmente o mundo assistem a mais uma tragédia estarrecedora, inadmissível em função do atual avanço tecnológico, e de proporções inimagináveis.
O acidente é um fato, as conseqüências são fatos de impossível enumeração, de soluções imprevisíveis e prazos indetermináveis.
A única e verdadeira certeza é a solidariedade humana, a começar pelos bravos profissionais de resgate às vítimas, seres humanos vulneráveis como elas, seguida da fraterna consciência coletiva de esperança, até a consolação proporcionada por quem ainda se enternece pelo sofrimento alheio.
O futuro é a dolorosa e absoluta incerteza, em todos os sentidos.
Uma ocorrência tão lamentável e traumática traz à luz da realidade, a verdadeira comprovação da inépcia e da irresponsabilidade daqueles que se propuseram à tamanha empreitada, pois ouvir a afirmação de um “suposto engenheiro”, de que “a engenharia não é uma ciência exata”, é uma grave e profunda ofensa à razão e inteligência humanas.
Independentemente da reputação dos partícipes deste consórcio, nada, absolutamente nada justifica uma tragédia dessa natureza, pois mesmo aceitando e compreendendo a nobre atividade profissional, com o justo e merecido lucro (rápido) financeiro para as empresas, a louvável criação de mão-de-obra e, sobretudo, o atendimento para as necessidades de transporte maciço da população crescente, é sabida a notória ganância desenfreada após ultrapassar as “barreiras” de uma licitação de tal monta, o que dá margens a dúvidas e incertezas quanto à honestidade oferecida aos futuros usuários da “mega obra”, e até mesmo àqueles que jamais terão a oportunidade de se “aventurar” nessa experiência, tendo sido tragados antes mesmo do início das suas atividades.
Embora alertas tenham sido feitos com antecedência, nenhuma providência foi tomada ou determinada. Assim, a vida humana é uma mera insignificância.
E como se não bastasse, a “culpa” foi atribuída à chuva, ou seja, a responsabilidade é Divina ! Sim, Deus é o único responsável !
Ressalte-se que o solo trabalhado é de tamanha instabilidade que, durante as operações de resgate, diversos deslizamentos ocorreram, informados pelo Corpo de Bombeiros, e até mesmo vistos pela TV, no subterrâneo da “obra”, e piorados sim, após a chuva precipitada depois da “ferida aberta”.
Agora, claramente declarado o fato, as buscas foram suspensas por pelo menos três ou quatro dias, evitando que os que resgatam tenham que ser também resgatados.
“Divindades” à parte, a quem caberia a ou as responsabilidades, no plano da civilização humana ?
Enumera-se a Cia. Metropolitana de São Paulo, o Consórcio Via Amarela, a Cia. de Seguros (de quem ?), o Governo Estadual, o Municipal, ou “ambos” os seis ? Seis sim, pois Deus é parte !
Não há que se falar em “vergonha”, mesmo porque para isto, não há adjetivos conhecidos, mesmo na riquíssima língua portuguesa !
Para finalizar, e alertar, maior objetivo do presente artigo, torna-se necessário lembrar o “caso do Palace II” no Rio de Janeiro, em 22 de Fevereiro de 1998, cujo responsável direto, o ex-Deputado Federal Sergio Naya, e que seu "curriculum crimines", está fartamente documentado, encontra-se impune, e suas vítimas sem mais saber o que e a quem requerer, por conta da perda de seus lares, suas memórias que lá ficaram, despejados de hotéis inicialmente pagos pelo “réu”, e simplesmente abandonados à sua própria sorte, até hoje, ou seja, 8 (oito) anos depois do “acidente”.
O conjunto “Vítimas – Judiciário – Ressarcimento”, é extremamente complexo, atrapalhado pelos responsáveis identificados como tal.
Desta forma, é imperativo reconhecer que, no caso do “Palace II”, o acusado era uma pessoa somente.
Já no caso do “Buraco Brasileiro”, coincidentemente feito em São Paulo, como dito acima, os acusados e principais solidários pela “desgraça”, são 6 (seis) pessoas, incluindo a Divindade, sobre a qual é desconhecido qualquer tipo de “recurso”, embora teoricamente exista um “Procurador” que pode ser encontrado na Itália, apesar de um simples ser humano.
Por Alexandre Boechat,
Em 16 de Janeiro de 2007.