A LEI DA SEMEADURA

Certa vez tivemos a oportunidade de participar de um “um dia de campo”, numa propriedade rural em nossa região. Presenciamos o entusiasmo e euforia do proprietário, quando levou todos os convidados ao campo de sua lavoura.

O milharal já quase no ponto de ser colhido, e cada espiga de milho apresentava uma boa performance. Com raras exceções, as espigas eram bem nutridas e formosas, de forma que fazia gosto apreciá-las.

No final do evento, houve uma espécie de premiação, para aquele que acertasse a quantidade de grãos de milho que continha numa espiga. Para isso, foram separadas três espigas, ninguém conseguiu acertar corretamente, só por aproximação, mas uma delas superou a casa dos seiscentos caroços, de forma que, nenhuma possuía menos de quinhentos grãos.

No evento havia técnicos, agrônomos, comerciantes vendedores de produtos destinados à agricultura. A maioria desses ilustres cidadãos fez seus discursos, e cada um defendia a sua área ou seu produto.

Os vendedores de máquinas agrícolas, propagavam seus produtos, alegando que o campo produziria mais, em função do avanço tecnológico. Sem o uso da máquina, - diziam eles - certamente a lavoura seria executada na forma primitiva, onde o lavrador preparava o solo utilizando-se de instrumentos manuais, tipo: foices, para o broque, machados, para a derrubada das árvores mais nutridas, enxadas e facões, para plantas e capinas, um estilo absolutamente rudimentar e ultrapassado.

Os vendedores de sementes, também aproveitaram a oportunidade para defender o seu produto, alegando que o sucesso da lavoura estava na qualidade da semente; sem uma boa semente, a atividade não se desenvolveria. E, exibiam – colhendo no local – as belas espigas que a lavoura produzira.

Os vendedores de adubos, procederam da mesma forma, fazendo a propaganda do seu produto, alegando que o sucesso de uma lavoura estava na adubação do terreno, sem os fertilizantes apropriados e na dose certa, a lavoura não teria o sucesso esperado.

Os técnicos agrícolas e agrônomos, por sua vez, defenderam evidentemente, suas profissões, alegando que muito embora, o solo possuísse sua fertilidade natural, e que o produtor fizesse o uso da máquina, adquirisse sementes de qualidades e o adubo apropriado, sem o acompanhamento de um técnico a lavoura seria uma negação. E esnobavam com orgulho, as famosas espigas de milhos, também colhidas no local, um produto – segundo ele – resultante do acompanhamento e orientação técnica.

O gerente do Banco ouvia as discussões, admirando cada locução apresentada, e, sem tirar o mérito dos discursos, usou também a palavra e apresentou, evidentemente, o seu produto – O capital.

O gerente iniciou sua fala dizendo que, olhando ao seu redor, podia presenciar produtores de todos os níveis e potencialidades, do micro ao grande, mencionando, inclusive, o nome - entre muitos que ali se encontravam presentes - de um produtor que exercia suas atividades numa área de reforma agrária, num assentamento rural. Mencionou também, o nome do maior produtor de grãos da região, não deixando, portanto, de envolver em seu discurso, os demais produtores que ali se encontravam, e falou que todos aqueles agricultores possuíam suas propriedades, grandes ou pequenas, mais possuíam, e com certeza, recheados de boas experiências gostariam de produzir o suficiente, proporcional ao tamanho de sua área de terra. Todos, sem exceção, gostariam de fazer uso da máquina para formação do campo agrícola, adquirir boa semente e adubo apropriado para o bom desempenho de sua lavoura, mas suas condições econômicas não lhes permitiriam alcançar seus objetivos, porém, a solução seria uma parceira com o Banco, que entraria no processo produtivo, com seu capital e o capital do Banco, com juros subsidiados para a lavoura, agregado ao trabalho e a força de vontade que cada um possuía, geraria produção, impactando no desenvolvimento regional.

Supunha-se que, com a apresentação e a fala do gerente do Banco, os discursos sobre o assunto, lá no campo agrícola, teriam chegado ao fim. Engana-se quem assim imaginou.

Estava presente no recinto, um experiente cidadão de boa aparência, que inclusive, já havia sido, Gerente de uma Banco oficial, Auditor, Superintendente e até Diretor; com boa atuação no setor financeiro, e que, hoje aposentado, porém, muito jovem ainda, cheio de vigor e vontade de trabalhar, tornou-se um famoso consultor, responsável por grandes projetos de sucesso.

Ao fazer uso da oportunidade que lhe fora confiada, informou que, muito embora, o produtor possuísse seu pedaço de terra, tivesse vontade de produzir e o Banco lhe apresentasse os recursos, não poderia usufruir à oferta desse capital oferecido pelo Banco, se não apresentasse um bom projeto, e que, sua consultoria seria o carro-chefe na constituição desse negócio, a fim de convencer o Banco de que, seus recursos teriam retorno garantido, se fossem seguidos às orientações formalmente constituídas nem projeto bem elaborado.

Mas, o que mais nos chamou a atenção, foi o pronunciamento de um cidadão que também, era um produtor rural, dizia ele:

“Antigamente, antes das facilidades de créditos pelas instituições financeiras, o produtor rural, era de fato e de direito, um produtor rural, isto é, ele cultivava a agricultura, praticamente sem apoio do governo, sem crédito das instituições financeiras e produzia com abundância, tudo que a terra era capaz de produzir, de forma que, encontrávamos com facilidade produtos para ser transportados em caminhões para abastecer mercado consumidor”.

Hoje, acrescentava ele, os créditos são de fácil acesso, baixas taxas de juros, prazo longo, bônus por adimplência, e muitos desviam os recursos dos empréstimos e por não aplicarem nas finalidades específicas, não produzem e por não produzirem, também não pagam as instituições financeiras fornecedoras do crédito”. E finalizando disse: “o caráter hoje está mais escasso na vida das pessoas”.

Após todas essas falas, o evento no campo agrícola, foi concluído com uma salva de palmas, em seguida, o proprietário agradeceu a presença de todos que tinha aceitado ao seu convite.

Percebemos que na reunião dessas pessoas, conforme acima relatamos, houve uma combinação de pessoas formando uma cadeia de valores, visando impactar de forma positiva no setor produtivo, revelando assim o caráter de cada um.

Luís Gonçalves
Enviado por Luís Gonçalves em 04/02/2012
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