O ranking da mordaça

No fim do ano que passou, os grandes jornais do centro do País noticiaram em “letras garrafais” que o Brasil piorou no ranking da liberdade de imprensa. Desde criança eu procuro saber, sem nunca descobrir, como são essas “letras garrafais” mas, vamos lá.

Segundo a denúncia (lia-a no Jornal do Brasil) de uma Ong específica (“Repórteres sem Fronteiras”) a Coréia do Norte é o país que mais viola o direito de expressão, enquanto os que dão mais abertura são Finlândia, Islândia, Irlanda e Holanda.

Em uma extensa nominata de 168 países, o Brasil desponta em 75. lugar, contra o lugar 63 conquistado em 2005. Dentre os critérios utilizados para estabelecer esse ranking a ONG foi buscar não apenas a censura pura e simples, mas pressões de grupos políticos, econômicos e midiáticos contra jornalistas, articulistas, chargistas e correspondentes, bem como atos de violência, como queima de exemplares, empastelamento de redações e morte de jornalistas.

É lamentável notar que nosso país, em termo de mordaça ou atos contra os jornalistas, está abaixo de nações de menor expressão, como Trinidad-Tobago, Equador, Benin, Jamaica, Namíbia, Gana, Mali, El Salvador, Fiji, Uruguai, Honduras, etc.

Curiosamente, muitas vezes, nos referimos a esses países com desdém, ao invés de aprendermos dele como se trata a liberdade de expressão, indispensável ao curso da vida em sociedade. O macaco nunca olha o rabo. No Brasil se fala em liberdade de imprensa, quando se observa que a própria mídia faz censura contra seus empregados e colaboradores.

É comum uma redação barrar um artigo ou reportagem porque vai atingir a Empresa tal, o Município ou a Universidade qual, anunciantes do jornal ou da revista.

A minha Igreja fala muito em direitos humanos (poucas igreja têm rampa e nenhuma “linguagem de sinais” para deficientes) e execra a censura, quando seus jornais e revistas não cessam de censurar seus articulistas. Eu escrevia para uma dessas, há 15 anos. Quando disse que a linha editorial era piegas demais, que devia ligar-se mais à realidade, e por isto não evangelizava nada, me mandaram calar, forçando minha saída. De outro lado, nos nichos conservadores fica-se impedido de falar em “libertação”, opção pelos pobres, excluídos, etc.

Há também a “mordaça silenciosa” (e nisso os jornais de Porto Alegre são pródigos), onde você manda uma matéria, eles não dizem nada, simplesmente não publicam, em detrimento daqueles que publicam abobrinhas favoráveis à ideologia do patrão. Querem um exemplo?

Se há quatro anos você mandasse um artigo culpando a Secretaria de Bisol ou atribuindo os alagamentos às Prefeituras do PT, eles publicavam. Hoje, se você tiver o desplante de falar na falta de segurança, crescente e intolerante, ou no aumento dos alagamentos da Capital, eles engavetam suas matérias, como se estivesse tudo bem e você fosse um injuriador. Isto não é censura?

Ainda tem uma certa visão religiosa, onde alguns postulados sionistas sobrepõem-se ao cristianismo da população.

Filósofo e escritor

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 15/01/2007
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