Nivelaram por baixo

Num dia desses precisei fazer uma viagem a Belo Horizonte. Hoje, com o redimensionamento das companhias aéreas não se faz mais vôos diretos. Tudo se centraliza em São Paulo, onde invariavelmente há troca de avião, como a ocorrência, não-raro de longas esperas. Eu até tenho dado sorte: essas esperas têm sido mínimas. A volta (BH – Porto Alegre) foi pior: conexão em Campinas e escala em Curitiba. Saí às 09h da manhã, chegando em casa por volta das 15h.

Eu viajo de avião há muitos anos, desde o tempo que só havia a Varig, a Vasp, a Transbrasil e a Cruzeiro. A Rio-Sul fazia trechos menores, interior do estado e região sul (Londrina, Maringá, Campinas, Ribeirão e São Paulo (Congonhas). A competição entre as empresas era ferrenha. Cada uma queria apresentar a comida melhor, a carta de bebidas mais ampla, o serviço mais atencioso, etc. Recordo que subíamos no avião da Transbrasil, e à porta já éramos recepcionados com champanhe servida em flûte de cristal.

Eram servidos pratos quentes no café da manhã, acompanhados de pães, croissant, manteiga e geléia. Café ou chocolate. O almoço também era sofisticado, inserto no mesmo processo de concorrência. Hoje tudo mudou. Nivelaram por baixo. Apesar de praticarem os preços mais caros do mundo em vôos domésticos (R$ 703 ida-e-volta a Belo Horizonte) as empresas apresentam um serviço de bordo péssimo, já que não existe uma qualificação mais abaixo. Eu viajei pela Gol, mas Varig, Tam e Ocean Air não são melhores. Na volta de Belo Horizonte, o vôo saía às 09h. Tem que chegar no aeroporto uma hora antes. Como o local onde eu estava era distante, acordei às 6h e saí (sem café) para enfrentar o trânsito.

Sabem qual a refeição que deram? Duas bolachinhas, um guardanapo, um biscoito doce e um copo de refrigerante sem gás. Embora fosse início de trajeto, a garrafa de dois litros já estava pela metade, revelando que viera de “outros carnavais”.

Ao meio-dia, o vôo estava entre Campinas e Curitiba. Sabem o que serviram? As mesmas bolachas e o mesmo refrigerante choco. Água mineral só aquelas que vêm em copos plásticos, sem gás, com gosto de água do “pocinhho”. Bebidas alcoólicas, vinho, cerveja, Campari, uísque nem pensar.

A companhia é Gol. Ah, ia esquecendo. Nas escalas, são as comissárias que fazem a limpeza e coleta do lixo do avião.

Alguém poderá objetar que se não fazem assim, podem quebrar. As companhias quebram por má administração (ou coisa pior). A Vasp era estatal; a Transbrasil, empresa familiar, e a Varig sofria do mesmo problema da Caixa, da Petrobrás e do Banco do Brasil: tem, por dentro, uma “fundação” de funcionários maior que a própria empresa.

Na Europa e Estados Unidos, o vôos domésticos (e mesmo os internacionais) são mais baratos que aqui, com um serviço de bordo bem melhor. Como diria o “filósofo” Boris Casoy, o serviço prestado pelas companhias aéreas, que praticam preços altíssimos, “é uma vergonha!”.

Filósofo e escritor

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 15/01/2007
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