ACREDITE, SE QUISER !
A trambicagem se faz atuante em qualquer segmento social. Às vezes, a coisa surge de onde menos suspeitamos (novidade!).
Pensemos nesta: Certa ocasião, Gustave Flaubert (ele mesmo) acompanhado de Louis Bouilhet (poeta) foram visitar Louise Colet (aquela que riscou com faca as costas do escritor Alphonse Karr) e a encontraram profundamente preocupada, irrequieta. A causa de tanto estresse de Mme. Colet era porque deveria levar à Academia de Letras, no dia seguinte, um poema e sequer produzira um verso. Segundo o que sabemos, o prêmio já estava garantido. Sem o menor pejo, Louise conduziu seus visitantes até sua biblioteca, trancando-os à chave e vociferou: “Ou vocês escrevem o poema de que preciso para ganhar o prêmio ou não saem daqui. Voltarei à meia-noite”. Conhecedora dos vícios dos amigos, teve ainda a bondade de deixar para ambos bebidas e fumo à vontade.
Aconteceu que deles nada saía. Flaubert, então, teve uma ideia. Foi a uma das estantes e retirou o primeiro livro de poemas que avistou. Era de Lamartine. Sem hesitar, ditou a Bouilhet uma das estrofes. Fez o mesmo com alguns versos de Béranger e depois com outros de Victor Hugo. O resultado, é óbvio, foi um belo poema “colcha de retalhos”.
Exatamente como prometera, à meia-noite, eis Mme. Colet de volta. Ao receber o embuste dos amigos, por incrível que pareça, ficou estupefata, radiante e não se cansava de elogiar o magnífico trabalho poético dos dois. Logo pela manhã, lá estava ela entregando sua “obra”.
Acredite, se quiser. A academia nada percebeu (ou sabe-se lá o que aconteceu), pois o dito poema foi premiado e a grande poetisa laureada.
É, amigo, sacanagem, picaretagem e coisas do gênero são mais corriqueiras do que possamos imaginar.